O que podemos aprender a partir da abertura do código do Twitter? Por Marco Arenhart

Não será possível combater a desinformação sem marcos legais que determinem a transparência e auditoria nos algoritmos das plataformas.

Imagem produzida pelo autor.

Por Marco Arenhart, para Desacato.info

Em 30/03/2023 o Twitter abriu para consulta o código fonte de seu algoritmo de recomendação. Embora não tenha sido uma abertura total, permanecendo cerca de 80% ainda sem visibilidade, o que é possível acessar permite já uma razoável análise do seu funcionamento, o que tem sido feito pela comunidade ((1)).

Em primeiro lugar ficam evidentes algumas regras automatizadas de impulsionamento que fazem com que certos tweet ou usuários apareçam mais frequentemente na seção ‘para você’:

– Curtir antes de retuítar e apenas depois responder, gera melhor pontuação;
– Se você está aglomerado (em clusters como notícias, pop, futebol etc) – postar fora deste cluster penaliza ;
– Links puros penaliza;

–  Ser silenciado ou deixar de ser seguido penaliza;
– Conteúdo classificado como desinformação  classifica para baixo;
– Uso de imagens e vídeos melhora pontuação;
– O selo azul, tanto o conquistado na rede quanto o adquirido, amplia o alcance;
– Inventar palavras ou erros ortográficos, para disfarçar um conteúdo,  penaliza;

– Um usuário que clica em seu tweet e permanece lá por mais de 2 minutos é ponderado 22 vezes mais do que apenas curtindo seu tweet;
– Se ele clicar em seu perfil por meio de seu tweet e curtidas/respostas a um tweet? 24x mais que uma curtida;
– Se ele responder ao seu tweet? 54x mais que uma curtida;

– Se ele responder ao seu tweet e você responder à resposta dele? 150x mais que um like ;
– Se ele denunciar seu tweet? -738x o efeito de um like (você será bem prejudicado) ;

Além destas regras de pontuação, a regras de exceção. Por solicitação, governos podem interferir no funcionamento do algoritmo, por uma classe denominada “GovernmentRequested”:

Imagem produzida pelo autor.

Prevê também interferência nas eleições presidenciais, recomendando(ou bloqueando) candidatos e suprimindo desinformação:

Imagem produzida pelo autor.

Embora esta seja apenas uma análise inicial e incompleta do código do Algoritmo, podemos ariscar algumas conclusões :

  1. Embora, possivelmente, o algoritmo do Twitter deva ser menos complexo que os usados pela Google, Youtube, Facebook e outros, ele pode ser uma boa referencia para entendermos que tipos de regras são implementadas pelas empresas;
  2. Não será possível combater a desinformação sem marcos legais que determinem a transparência e auditoria nos algoritmos das plataformas;
  3. Ao formar clustes de usuários de forma automatizada o algoritmo induz formação de bolhas e limita a interação social de forma ampla;
  4. Reforça a suspeita de que a força da extrema direita nas redes sociais se sustenta pelo conhecimento privilegiado das regras dos algoritmos e uso de técnicas de manipulação destas regas.

(1) https://aakashgupta.substack.com/p/the-real-twitter-files-the-algorithm

 

Marco Arenhart é analista e presidente do Conselho Fiscal da Cooperativa Comunicacional Sul. Também é cofundador da Cooperativa.

Marco Arenhart

Florianópolis, 05/04/2023

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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