O país das irmãs Mirabal tem novo presidente em plena pandemia. Por Tali Feld Gleiser.

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Por Tali Feld Gleiser, para Desacato.info.

Finalmente aconteceram as eleições presidenciais, para o Senado e Câmara dos Deputados da República Dominicana. Após o papelão de 16 de fevereiro em que as urnas eletrônicas não funcionaram e as eleições tiveram que ser adiadas, os partidos políticos concordaram na data de 5 de julho, apesar da pandemia de covid-19 que atinge com força o país.

Sem a totalidade dos votos apurados, a candidatura social-democrata do empresário de 52 anos, Luis Abinader, e a administradora Raquel Peña, de 53, já venceu no primeiro turno. O partido Partido Revolucionário Moderno (PRM) chega ao governo após 20 anos no poder do Partido da Libertação Dominicana (PLD). O candidato oficialista, o também empresário Gonzalo Castillo, ficou em segundo lugar e o ex-presidente Leonel Fernández da Força do Povo (FP), em terceiro.

A agrupação de centro-esquerda Aliança País não chegou a 1 %. Num país que já foi tão combativo como a República Dominicana, que resistiu a duas ocupações dos Estados Unidos, a ditadura de 31 anos de Rafael Trujillo e de 22 anos de Joaquín Balaguer, a esquerda não consegue chegar à população, além da concorrência completamente desleal em termos de recursos financeiros para enfrentar campanhas eleitorais e a própria sobrevivência da estrutura partidária. Num país em que a seguridade social e o sistema de saúde público têm o mesmo modelo que no Chile e o nível da educação (pública ou privada) deixa muito a desejar,  a esquerda e Aliança País têm um discurso e imagem antigos, com linguagem ultrapassada e difícil para a população, além de alguns partidos terem se afastado das bandeiras históricas que sempre defenderam.

A percepção é de que o povo dominicano está mais feliz porque tiraram o PLD do poder do que pela vitória de Luis Abinader. No mês de fevereiro houve manifestações multitudinárias contra o governo por anos e anos de casos de corrupção, entre eles o caso Odebrecht (empresa com ampla atuação no país), e a impunidade. María Gómez falava para Desacato na manifestação de 27 de fevereiro desse ano em Santo Domingo: “Se o Abinader não fizer um bom governo, também o tiraremos”.

Parece que, dessa vez, o povo dominicano despertou após tantos anos de imobilidade e inércia.

Pandemia

A República Dominicana é o primeiro país latino-americano a ter eleições durante a pandemia. Para isso, programou-se a desescalada (que ainda não conclui), sem nenhuma base científica que a avalasse. Justamente no dia da eleição, ontem domingo, o número de novos contaminados foi o mais alto até agora: 1.241.

O número total de casos confirmados chega a 38.128, com 804 pessoas falecidas, mas considerando o estado do sistema de saúde, podemos inferir que os casos são muito mais daqueles que são anunciados oficialmente. Hoje, segunda-feira, os novos casos chegaram a 703.

Quem vos escreve, tem a sorte de poder continuar em isolamento, trabalhando em casa. Não é a situação da maioria do povo dominicano que, como acontece em quase todos os países da América Latina e o Caribe, se não trabalha, não come.

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