O Apartamento de Platão. Por Cristian Breuer.

"As manifestações extremas de comportamento, tanto emocional, sentimental ou físicos, traz uma reflexão sobre a sociedade e a forma que nos organizamos", destaca

Por Cristian Breuer, em Desacato.info. 

Partindo da alegoria do mito da caverna de Platão e atualizando para o apartamento, talvez facilite para os seres humanos que vivem em diversas realidades paralelas conseguirem compreender melhor essa analogia. Assim como na caverna, exemplo esse usado por Platão para mostrar como o ser humano estava iludido com a própria realidade, nos dias de hoje a semelhança continua muito clara. As manifestações extremas de comportamento, tanto emocional, sentimental ou físicos, traz uma reflexão sobre a sociedade e a forma que nos organizamos. Podemos perceber que a crença, antes usada para manipular e amedrontar o ser humano com a ideia de um deus cruel que pune e castiga, hoje perdeu um pouco o poder de manipulação, ou se adaptou com os interesses de quem se diz detentor da verdade e porta-voz da palavra divina. A pregação da palavra através do medo migrou para a pregação da prosperidade financeira através da igreja, e quem não prospera se sente abandonado por deus, achando que sua vida não faz sentido, culpando tudo e todos por suas frustrações, mas nunca olhando para dentro de si e procurando onde está o problema de fato. Essa ideia da prosperidade vem com a ideia do capitalismo, um sistema cruel que as pessoas acostumaram como sendo a sua realidade e se contentando com todo o tipo de barbárie que a ideologia traz consigo, principalmente a desigualdade social injusta e genocida.

Vivemos em uma alienação em massa cruel, imagine um lugar aonde é adorado o “deus RAMBO”, sim, esse lugar existe e é na cidade de Kamula, província de Papua, Nova Guiné, aonde os nativos ficaram surpreendidos ao assistir à saga dos filmes, graças à visita de um antropólogo que era um fã de Sylvester Stallone, este, analisando o povo humilde e ignorante nos assuntos ocidentais e tecnológicos, aproveitou para fazer essa experiência antropológica nesse povo, resultando na crença de que o RAMBO, dotado de tanta tecnologia bélica e vendo aqueles efeitos visuais hollywoodianos que pareciam tão reais, chegaram à conclusão que só podia se tratar de um deus. Além do deus rambo, existe uma pequena ilha chamada TANNA, na Melanésia. Esse local é ocupado por aproximadamente 20 mil nativos, e em muitas das aldeias os habitantes mantém seus costumes tradicionais mais ou menos preservados, proibindo a introdução de tecnologias e invenções modernas. Pois bem, nessa ilha é adorado o deus John Frum, associado aos militares negros norte-americanos que visitaram a ilha durante a Segunda Guerra Mundial, com todo o aparato bélico e a identificação pela cor da pele, começaram a acreditar que eram deuses, ou enviados de um. Esses dois exemplos de crenças bizarras, acaba sendo uma realidade criada coletivamente por 2 povos distintos que vivem no mesmo planeta, só que não na mesma realidade. Então chegamos à conclusão que criamos a nossa própria realidade? sim, podemos criar, ou podemos nos submeter a uma, daí vem a crença, exemplo disso é a questão religiosa no decorrer da nossa história, que dominaram mentes e controlaram a realidade do mundo por tanto tempo, impedindo o acesso à informação, ao conhecimento, ao discernimento sobre a própria realidade, uma estratégia eficaz de controle mental, usar um deus vingativo, santificar homens, restringir todo o acesso a intelectualidade. E nessa sede pelo poder que aconteceu ao decorrer de nossa história, vemos nos dias de hoje uma forma arcaica de religiosidade das antigas corporações, e um show de horrores criados pelas novas vertentes religiosas, que pregam a prosperidade financeira como benção de deus, mas o caminho para isso é a igreja.

Vivemos em um mundo onde existem diversas realidades, cada qual ou cada povo, etnia ou cultura, vivendo de acordo com aquilo que já é pré-imposto desde o nascimento. No Brasil temos a sorte, ou não, de acessar diversas culturas e costumes no mesmo país, mas isso acaba também criando as famosas bolhas sociais, o que traz a reflexão que sempre precisamos nos agarrar a algo para acreditar, dar um motivo para a nossa existência, ou seja, sempre absorvendo tudo de fora para dentro. No mito da caverna, as pessoas se contentam como expectadores das sombras que são refletidas na parede conforme animais e pessoas atravessam o feixe de luz, e elas acreditam fielmente que aquilo que vivem é a realidade plena, assim criando em grupo um motivo e uma razão, uma ideia daquilo que vivem, aprisionados por correntes que representam os seus medos e preconceitos, poucos tentam se libertar. O que vivemos hoje é exatamente o retrato da caverna, com pessoas agindo como figurantes de outras, endeusando coisas e pessoas fúteis, se contentando com a realidade imposta por quem as manipula, e criticando aquelas que tentam se libertar.

Despertar a consciência é começar olhar para dentro de si, e buscar aquilo que te aflige, aquilo que machuca, que te aprisiona, e começar a reparar, curar e principalmente compreender tudo aquilo que vivemos, a informação está cada vez mais chegando até nós através das diversas vertentes espiritualistas, não que alguma traga a verdade absoluta, mas a informação é feita de níveis de compreensão, conforme vamos evoluindo e despertando, também vamos compreendendo os diversos assuntos que nos ajudam nesse processo de libertação, da saída da “matrix” criada para nos aprisionar. O sentido da vida pode estar justamente aí, se libertar das amarras e sair da caverna, sabemos que não é fácil, mas podemos começar por nós.


Cristian Alberto Breuer é rapper e escritor. 


Obs.: a opinião do autor não necessariamente representa a opinião de Desacato.info. 

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