Por Cristiane Sampaio.
Uma nuvem de poeira impressionou moradores do interior de São Paulo e Minas Gerais no domingo (26), atingindo cidades como Franca, Ribeirão Preto, Araçatuba, Barretos e Presidente Prudente.
De acordo com informações publicadas pelo portal Climatempo, as rajadas de vento chegaram à marca de 92 km/h e a umidade relativa do ar registrada foi de 19%.
De acordo com o professor Pedro Luiz Côrtes, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), o fenômeno se deve a uma confluência de fatores.
A chegada de ventos fortes que precedem as chuvas, o solo preparado para o cultivo e a condição de aridez do clima se somam e ajudam a criar o cenário da nuvem de poeira.
“O solo superficial fica desagregado em partículas muito finas que são facilmente carregadas por esses ventos fortes, principalmente nas regiões mais planas. Ele ocorreu basicamente porque a gente tem uma condição de extrema estiagem no interior do estado de São Paulo. Se você tem um solo com certa umidade, essas partículas mais finas ficam agregadas, então, o vento não tem como fazer esse transporte.”
O professor explica que esse acontecimento é raro no Brasil, mas ocorre globalmente em regiões e escalas continentais.
“A gente tem ventos levando poeira do Norte da África pra Itália ou do Norte da África pra América central, por exemplo. Esse tipo de fenômeno em termos globais é algo usual”.
Já no Brasil o pesquisador aponta que a nuvem de poeira não se forma com frequência porque as áreas marcadas por escassez crônica de água, como é o caso do semiárido nordestino, apresentam solo bastante agregado, o que faz com que este fique ressecado e duro.
“Quando há manipulação do solo pro cultivo, aí sim se tem a desagregação dessas partes mais superficiais pra você colocar semente, e isso favorece a ocorrência desse tipo de fenômeno”, complementa Côrtes.
“Mas ele não é comum porque quando o preparo pro cultivo é feito, normalmente você tem solos com uma certa umidade. O que desencadeou mesmo, o último fator necessário pra que isso acontecesse foi a situação de extrema aridez que a gente tem hoje em são Paulo”, assinala o professor.
O fenômeno também pode voltar a se repetir na região onde foi registrada a nuvem de poeira, mas, segundo o pesquisador da USP, isso não deve ocorrer exatamente nos próximos dias porque o vento registrado na região foi sucedido por chuvas. A chegada das precipitações ajuda a umedecer o solo.
“Mas, persistindo essa condição de extrema estiagem, isso pode voltar a acontecer ainda, inclusive porque os prognósticos de calor intenso se mantêm ao longo da primavera e com baixa quantidade de chuvas”, pontua Côrtes.