Número recorde de refugiados no mundo inteiro: o diabo que a ONU esconde nos detalhes. Por Victor Ternovsky.

Foto ilustrativa

Por Victor Ternovsky.

O número de pessoas deslocadas à força no mundo ultrapassou 100 milhões pela primeira vez. Isto acaba de ser relatado pela ONU em uma declaração que é surpreendentemente tendenciosa, dado que pode levar a acreditar que a situação se deve à operação especial russa na Ucrânia.

“A guerra na Ucrânia e outros conflitos ajudaram a empurrar o recorde para números sem precedentes”, diz o site da ONU, uma frase que ilustra perfeitamente o ditado que ‘o diabo está nos detalhes’. Os autores da reportagem e a mídia ocidental que ecoaram as notícias evitam escrupulosamente o tema incômodo que são esses “outros conflitos”, como se fossem secundários, enquanto a verdade é que a maior parte dos mais de 100 milhões de refugiados e deslocados no mundo inteiro se deve às agressões militares, econômicas e políticas do Ocidente.

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Isto é confirmado pelos próprios números do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, que, no entanto, preferem enfatizar os cerca de 6 milhões de pessoas que emigraram da Ucrânia. Obviamente, o documento não faz nenhuma referência às causas do conflito na Ucrânia, resultado do genocídio do regime de Kiev contra a população de Donbas e do avanço do país para a OTAN, o que de fato o tornou seu Estado membro, em grave violação da segurança nacional da Rússia e dos protestos legítimos de suas autoridades.

O que não aparece no relatório da ONU é um êxodo de proporções bíblicas de países sob ataque dos EUA e de seus cúmplices europeus. No caso da Síria, por exemplo, há quase 7 milhões de cidadãos deslocados internamente e quase 6 milhões de pessoas que permanecem no exterior, de acordo com dados articulados em outubro do ano passado pelo chefe da Agência das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi.

Os números que o oficial não mencionou são os dos migrantes desaparecidos no Mediterrâneo, um verdadeiro cemitério para dezenas de milhares de pessoas da Síria, Líbia e outras nações viradas para o inferno por Washington e seus aliados sob o pretexto de sua “democratização”, o que na prática significava medidas como apostar em forças exremistas para derrubar governos indesejados.

Mas chegar às margens do Velho Continente também não significa salvação, pois as nações europeias se recusam a abrir seus portos para aqueles que conseguiram sobreviver à travessia. Alguns países chegam ao ponto de exigir que barcos refugiados retornem aos seus portos de partida. A Polônia foi mais longe do que a maioria. Suas forças de segurança mataram mais de 240 migrantes, segundo o soldado polonês Emil Czeczko, que no ano passado procurou asilo político em Belarus por causa de seu “desacordo” com o “tratamento desumano dos refugiados” do regime polonês. Falando na televisão bielorussa, o militar nascido em 1996 alegou que se tratava de execuções sistemáticas, reconhecendo que também tinha que atirar em refugiados, inclusive do Iraque, que foram forçados a deixar seu país por causa de intervenções armadas ocidentais. A Polônia esteve ativamente envolvida nessas intervenções, tendo enviado um contingente de 2.000 soldados para lá.

O denunciante pediu às organizações internacionais que investigassem esses crimes, mas a ONU mostrou pouco interesse no assunto, limitando-se a dizer que “esses incidentes deveriam ser investigados pelas autoridades polonesas”, de acordo com a Agência das Nações Unidas para Refugiados.

Victor Ternovsky é jornalista.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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