Por Elissandro Santana, para Desacato.info.
O rompimento de barragens da Vale, em Brumadinho, Minas Gerais, faz parte, na verdade, de uma tragédia anunciada, haja vista que o desastre em Bento Rodrigues, Distrito de Mariana, há três anos, com rejeitos de minérios que chegaram ao Espírito Santo, danificando absolutamente o Rio Doce, deveria ter ensinado algo à nação, mas, ao contrário, o caso demonstra que no Brasil impera uma ausência político-histórico-empresarial de gestão de riscos ambientais em regiões de exploração de minérios, como também em outros setores de produção em todo o território nacional.
O quadro em baila atesta que o Brasil experimenta, desafortunadamente, uma crise socioambiental em que a sociedade não consegue perceber, em sua maioria, o descaso do poder público e dos empresários que lucram com a exploração de nossa biodiversidade. Essa incapacidade de grande parte da sociedade no tocante à percepção e cobrança tem explicações sócio-econômico-cultural-político-históricas em projetos ineficientes de educação. Frente ao projeto de desestruturação do aparelhamento educacional, a cobrança pela aplicação da legislação ambiental se enfraquece, pois, na lacuna de sentinelas que poderiam cobrar a execução de leis ambientais, a elite de mentalidade colonial (dona da terra e da exploração das riquezas naturais no país), com o apoio dos políticos ou com a inércia deles (não sei qual ação é pior) brinca com a vida dos atores sociais mais vulneráveis.
Se tivéssemos uma base educacional holística de percepção dos fatos, livre dos fundamentalismos em todas as esperas, em especial no campo político, mas, também, nos guetos científicos da inoperância, o brasileiro reuniria condições cognitivo-político-sociais para exigências e cobranças ambientais e em outras vertentes de respeito à pluralidade da existência.
A partir de compreensão em rede, atingiríamos uma maturidade política sustentável de cobrança de direitos e não de negação dos direitos de outros como tem ocorrido no país. Diante de uma capacidade analítico-sócio-político-ambiental, a sociedade faria cobranças aos responsáveis pelo descaso com a nossa Casa Comum, nosso território de vida, de interação e de produção de saberes.
A questão é que a competência por cobrar responsabilidades passa por educação ambiental político-libertária, uma discussão que demanda análises transversais, dado a complexidade da problemática e isso não teremos no país tão cedo, pois o quadro que se anuncia com a reforma do Ensino Médio é entristecedor e intelectualmente empobrecedor de realidades.
A partir desta sucinta e rápida análise, na mesma linha de raciocínio que muitos pensadores da área ambiental, pontuo que o rompimento das barragens em Brumadinho revelam que o Brasil, de fato, vive uma crise sócio-político-empresarial-ambiental profunda, crise esta que não é recente e que tende a piorar, ainda mais, por conta das ideias políticas conservadoras em gestação no atual governo.
Enfim, como professor e pesquisador no terreno das mudanças climáticas, nos próximos anos, abrirei o leque de discussões na vertente da educação ambiental para ampliar debates dialógico-libertários no intuito de possibilitar, ainda que minimamente, o fomento ao nascimento de novas arquiteturas mentais sustentáveis em solo brasileiro.
—
Elissandro Santana é professor da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes e do Evolução Centro Educacional, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.
A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.