No prato, a mesma raiz

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Por Viegas Fernandes da Costa*, para Desacato.info

Quando leio nos jornais que “o Nordeste não é culpado pela eleição de Dilma”, eu me pergunto: culpado? Desde quando somos culpados por nossas escolhas eleitorais? A palavra correta seria “responsável”. Aí sim, o Nordeste não é o único responsável pela eleição de Dilma.
A eleição de Dilma só foi possível porque aproximadamente 40% dos votos válidos do Sul do Brasil foram atribuídos a ela. Porque em Minas Gerais, cuja população foi por oito anos governada por Aécio Neves, deu mais de 50% dos votos válidos a Dilma.
E se Blumenau, a cidade na qual nasci e resido, atribuiu 77% dos votos válidos a Aécio, também não lhe atribuo culpas, mas responsabilidades. Não me importo de pertencer aos 23% de eleitores Blumenauenses que depositaram o voto em Dilma. Se votar em Dilma é coisa de Nordestino, então sou um Nordestino nascido e residente no Sul. Qual o problema? Adoro Jorge Amado, Zé Ramalho e Raul Seixas. A poesia de cordel sempre mexeu comigo, e só não aprendi a dançar frevo porque sou torto dos pés.
Por isso não compactuo com a opinião de Diogo Mainardi, que afirmou em seu comentário na Globo News, na noite das eleições, ser o povo Nordestino retrógrado, incapaz de se modernizar na linguagem. Aliás, tenho imensas dificuldades de compreender o que significa “modernizar-se na linguagem”. Também tenho imensas dificuldades de pronunciar Manhattan Connection, o nome do programa em que protagoniza Mainardi suas pérolas preconceituosas. Será a modernização da linguagem isto? Reproduzir o que se produz em Manhattan? Destilar ignorâncias travestidas de erudição?
Ah Diogo, ah meu Sul que tanto amo, o Nordeste somos todos nós. O Nordeste não se limita aos traços do IBGE sobre um mapa. O Nordeste é São Paulo, e é este homem que virou suco, que sou eu também. É este Pagador de Promessas que carrega sua cruz, como todos nós. É terço e terno, sagrado e profano,suor e trabalho.
E aos meus conterrâneos do Sul eu lembro, macaxeira, mandioca e aipim, de diferente, apenas o nome. No prato, a mesma raiz.

* Viegas Fernandes da Costa é historiador, escritor e professor no Instituto Federal de Santa Catarina.

Imagem tomada de: potiguarte.blogspot.com

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