Por Raphael Silva Fagundes.
Em termos sociais, o projeto de poder do governo Bolsonaro é apenas um: não investir em educação e cultura para aumentar o índice de criminalidade.
A Petrobrás deixa de patrocinar eventos culturais, questão que era uma marca da estatal. O governo tira investimentos na educação e nomeia um economista, que nunca produziu nada na área, para assumir o ministério mais importante para um país que pretende superar seus problemas vitais. A gestão de Vellez, por seu turno, já deixou bem claro o modelo de educação que será tocado pelo governo.
O projeto de nação não é a ignorância, mas o não investimento em educação para poder assim aumentar os números de encarceramento, de criminosos mortos, de sangue derramado. O cidadão comum entenderá que o governo está funcionando, que a justiça está funcionando, mas, no fim das contas, tudo não passará de uma plataforma de poder.
“A experiência demonstra que o endurecimento penal não contribui para a redução da violência, mas apenas para o encarceramento em massa, que pode levar o sistema penal ao colapso”, afirmou o jurista Leonardo Yarochewsky. Para evitar esse colapso o governo irá investir intensamente nos presídios, mas para tal será necessário retirar investimentos de outros setores, que no caso será da educação.
Darcy Ribeiro foi incisivo: “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. Podemos pensar o contrário, pois o projeto de poder atual é construir presídios para não construir escolas.
O interesse em formar pessoas incapazes de refletir politicamente será útil, pois os formados não criticarão essa lógica carcerária e formadora proposital da delinquência. Se não houver a criminalidade, a plataforma política destes larápios iria sobreviver de quê? É o cúmulo da desumanidade, produzir pessoas apenas para sofrer tendo como objetivo ampliar o capital político.
Sem nenhum projeto para investimentos físicos nas escolas, como ampliar o pessoal, instalação de equipamentos modernos nas salas de aula, climatização, redução de alunos por turmas, projetos que aproximam a família da escola, acompanhamento psicológico etc.. o governo só fala sobre o que não requer um centavo de investimento: a desesquerdização e a moralização da educação. Enquanto o pacote de Moro apresenta elementos que exigem um alto custo.
Tudo é dito convenientemente para evitar os gastos em educação e ampliar os gastos nos setores da segurança. Não se investe em educação para que, propositadamente, surjam mais marginais (uma consequência lógica se levarmos em conta os países com maior IDH) para que o projeto macabro deste Estado tenha eficiência. E se cidadania é formar indivíduos com senso crítico, participativos (esse é o significado da palavra) deixaremos de formar cidadãos para formarmos criminosos que alimentarão a máquina de propaganda do Estado.
O que dá mais prazer, ver seu filho formado em direito, filosofia, física etc., ou ver um bandido sofrer na cadeia? Formar médicos e economistas que pensem humanamente no exercício de suas atividades ou entupir as cadeias de bandidos?
É como perguntou Foucault uma vez: “Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a não ser dizer ‘não’ você acredita que seria obedecido?”
Há nisso tudo uma apropriação do gozo típico da cultura da punição, uma necessidade de punir aqueles que acreditamos possuir em extremo todo o mal que achamos não ter. O problema está no outro não em nós. Portanto, é preciso que os maus (uma invenção de quem manipula o saber) sofram para que eu goze. Algumas pessoas não devem ter direito ao gozo. Transferimos a razão de todo o mal para os sujeitos supostamente saqueadores e os colocamos fora do muro, como os zumbis do filme Guerra Mundial Z estrelado por Brad Pitt.
Enfim, fazer do projeto de poder que sustenta o controle de um dado grupo, projeto de nação, irá criar trazer desespero e miséria para o povo, enquanto os poderosos regozijam-se na luxúria.