Música: arte e resistência. Por Bruna Weber Botta.

Por Bruna Weber Botta.

A música é milenar. A história nos traz que há 60 mil anos a.c, na pré-história, os sons da natureza já eram reproduzidos por nossos ancestrais. O primeiro vestígio de um instrumento é de uma flauta de osso, de 3 mil anos a.c. Música é uma palavra grega que traduz a arte das musas.

Não há um dia se quer que a gente passe sem escutar uma música, nem que seja parte de uma, com o celular e as redes sociais elas embalam os vídeos e as fotos postadas.

Mas qual seria o papel da música, tem como definir isso?

Vou tentar refletir sobre algumas das funções sociais, vamos dizer assim, que cumpre a música na sociedade.

A política e a música desde sempre andaram de mãos dadas, com o recorte de 64 no Brasil, na ditadura militar, a música denunciou os horrores dessas décadas. Artistas como Geraldo Vandré, caminhando e cantando e seguindo a canção, Chico Buarque, que falou para os milicos, apesar de você amanhã há de ser um novo dia; a talentosíssima e maravilhosa Elis Regina que cantou o Bêbado e o Equilibrista, letra de Aldir Blanc e João Bosco, em denúncia à morte do operário Manoel Fiel Filho e do jornalista Vladmir Herzog, que foram cruelmente torturados e assassinados.

Belchior cantou e debochou dos milicos quando disse que era apenas um rapaz latino-americano, um cantor, mas se depois de cantar, você ainda quiser me atirar, mate-me logo à tarde, às três, que à noite tenho um compromisso e não posso faltar por causa de vocês. Ousado!

Enquanto isso, a Jovem Guarda preferia não falar em política. Não é por coincidência que há décadas é o Roberto Carlos que está todo final de ano na rede Globo.

Também não é de se espantar que assim como tudo ao nosso redor vira mercadoria, com a música não foi e não é diferente. Apesar de a mídia dar ênfase em pessoas, álbuns e músicas que nada contribuem socialmente para nossas vidas, existem sim artistas que estão comprometidos com a mensagem que passa a quem os escuta.

Na década de 80 Cazuza disse: Brasil mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim! Na década de 90, Mano Brown trouxe a letra Diário de um Detento, denunciando o massacre do dia 2 de outubro no Carandiru e o endossamento pra essa chacina do então governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury.

Em 2011, Bia Ferreira nos presenteou com um manifesto, Cota não é esmola. A letra traz a realidade de uma mulher, negra, periférica que dia a dia corre pra conseguir sua sobrevivência mirando para um futuro de mais oportunidades através dos estudos.

Música boa é aquela que te embala, que te toca, e por isso não há como fazer uma crítica de qual ritmo, ou qual som vai afetar – no sentido de afeto – o ouvinte, mas podemos pensar sobre as letras que andamos escutando e o impacto que a nossa playlist tem em nossa vida.

A música não trata e nem deve tratar somente de política, é claro! Não existem regras para compor. Normalmente sempre há uma história de amor por detrás das mais conhecidas. Qual relacionamento que não teve ou não tem uma trilha sonora?

Essa arte nos transcende e por isso nos atravessa, nos corta, nos cura, nos faz chorar, rir, lembrar e planejar. Não existe caixa, a música não é quadrada, ela é ilimitada e não tem como citar tudo que ela pode representar e as transformações que ela é capaz de fazer. A música salva vidas, abre portas e nos faz acreditar, ter fé, fé no amanhã, no ser humano, na nossa existência.

Em a Sociedade do Cansaço o autor, sul-coreano Byung-Chul Han, em uma das ideias, traz que o hipercapitalismo destrói as relações humanas e atualmente não há mais nenhum âmbito da vida em que não tenhamos as relações despedaçadas pela mercantilização.

A música é uma indústria. Mas assim como esses artistas que citei aqui no comentário, há tantos outros por aí que escrevem, cantam, tocam seus instrumentos musicais, com uma capacidade que é sobrenatural.

Portanto, apesar do esforço capitalista de nos fazer consumir tudo e todos, sorte a nossa é que a música é uma arte, é um dom, e isso não está para o sistema, a arte é do ser humano e, portanto, por mais que através da música eles comprem a nossa alienação, as artes, em geral, não vão permitir e vão continuar cumprindo seu papel de terra firme, de raiz, que conta nossa história, nossa cultura e nos aguça e desperta para a capacidade de sentir, viver e pensar com profundidade a nossa existência.

Assista ao comentário no vídeo abaixo:

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.