Mulheres do sul de MG lutam por equidade de gênero no campo com cultivo de café orgânico

Organizadas em uma cooperativa, elas produzem e comercializam café em MG, SP, RS e também para o exterior

Hoje são 38 agricultoras produzindo o Café Feminino; Na foto a produtora Ana Cristina – Ana Cristina

Por Anelize Moreira, Brasil de Fato. 

Em Poço Fundo, cidade do sul de Minas Gerais, um grupo de mulheres se organizou para produzir café orgânico desde 2006. Sete anos depois, em 2013, elas lançaram uma marca própria, o Café Feminino. Essas agricultoras se reuniram para discutir autonomia e equidade de gênero no campo, por meio do grupo Mulheres Organizadas Buscando Igualdade (MOBI) e da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam).

Rosângela de Souza Paiva, integrante do grupo MOBI e produtora de café em Poço Fundo, afirma que por meio do apoio da cooperativa, elas conseguiram empréstimo para compra de mudas, capacitação e assistência técnica, expandindo a produção. Rosângela relata que o grupo surgiu da necessidade de alcançar direitos.

“O grupo MOBI não foi organizado para venda de café, ele tinha o objetivo de formalizar, principalmente ser cooperada, elas fazerem parte da cooperativa, pois sempre fomos consideradas como ‘ajuda’. Eu vejo e muitas mulheres também veem assim como uma soma, de trabalhar lado a lado”, destaca Rosângela.

A agricultora Maria Regina Mendes, 50 anos, faz parte do grupo de 38 produtoras do café orgânico. Ela destaca que o projeto tem colaborado com o crescimento e reconhecimento profissional e no aumento da autoestima dessas mulheres. Ela cultiva café há 31 anos, e há seis optou por um modelo de cultivo sem o uso de veneno após a intoxicação do filho em uma lavoura de fumo.

“Eu prezo muito pela saúde e meu filho teve uma intoxicação muito forte por trabalhar na lavoura de um vizinho. Foi aí que decidimos que não iríamos usar nenhum tipo de agrotóxico mais no nosso sítio e na nossa lavoura”.


Uma pesquisa realizada pela Embrapa e pela Epamig aponta que mais de 40 mil estabelecimentos agrícolas com produção de café são dirigidos por mulheres no Brasil, o que equivale a 13,2% do total / Divulgação

Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil. O grão é cultivado em mais de 600 dos 853 municípios mineiros, sendo a principal geração de renda responsável por cerca de quatro milhões de empregos. Uma das preocupações dos produtores de café são os eventos climáticos como seca e geada. A safra deste ano está estimada em 20% menor do que no ano passado,  segundo a Empresa de Assistência Rural de Minas Gerais (Emater).

Para Regina produzir orgânico tem a ver também com independência. “Com as mudanças climáticas e as variações de mercado, quanto mais sustentável a gente for dentro do sítio, menos vamos sofrer com intervenções externas. Então quando você mesmo tem condições de produzir um banho foliar, um composto, com isso vai ter melhor qualidade da lavoura, menor custo e a garantia do produto que está usando, isso dá uma certa independência”.

As mulheres comercializam o café por meio da cooperativa Regina conta que já é o segundo ano consecutivo que o seu café vai para a Suíça. Além da Suíça, o café também é exportado para Estados Unidos, Canadá, Polônia e Alemanha, além de ser comercializado em lojas da região de Poço Fundo, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

A cafeicultora Ana Cristina de Lima, de 37 anos, é de uma família que já plantava café na região. Ela conta que já plantava café junto com o marido, mas decidiu que também era importante ter em vista o futuro para romper com as dificuldades que as mulheres enfrentam no campo.

“Eu resolvi ser cooperada, para vender o café no meu nome e ter uma documentação que não dependesse de tanta comprovação no momento da aposentadoria,  porque as mulheres rurais enfrentam muitas dificuldades com isso. Chega o momento de aposentar, como a documentação está toda no nome do marido, temos dificuldade de comprovar que também somos agricultoras, cafeicultoras”.


Lavoura de café orgânico em Poço Fundo, sul de MG / Ana Cristina

Ana agora aguarda a conclusão total da transição para o modelo para produção orgânica e no próximo ano o seu café, assim como o de Regina também será exportado. “É uma alegria ver que meu marido e eu trabalhamos e não nos contaminamos, minha filha pode andar pela lavoura que não não tem risco de contaminação. Além disso é a consciência de que o que sai da minha propriedade, além de amor e dedicação, o produto que sai colabora para segurança alimentar”.

O café produzido pelas mulheres é do tipo especial, orgânico e sustentável, com notas de chocolate, nozes e avelã e tem a certificação participativa do Café Feminino.

Edição: Daniel Lamir

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