Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.
O CADTM (Comitê para a Abolição da Dívida) é uma rede internacional fundada há mais de 30 anos com a finalidade de lutar pela anulação da dívida externa do chamado terceiro mundo. O comitê atua em coordenação com diversos movimentos espalhados pelo mundo e chama, já no início de 2023, a intensificar a luta das redes territoriais, as organizações, os movimentos sociais e o conjunto da sociedade civil contra as decisões das grandes organizações do capitalismo: o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
A agenda do capitalismo em 2023
No presente ano, as reuniões anuais do BM e do FMI acontecerão no Marrocos, entre os dias 9 e 15 de outubro. A cada ano que passa essa agenda é mais antagônica às populações mais vulneráveis. O neoliberalismo insiste nessas agendas que têm como fatalidade a opção pelo empobrecimento crescente, a miséria genocida e a destruição da natureza, e baseia seu sucesso no incremento do precariado nas condições de trabalho, afetando as condições materiais, sociais e psicológicas da classe que produz a riqueza.
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Jamais uma agenda do Banco Mundial ou do Fundo Monetário Internacional teve outra finalidade que impor a política de interesse das transnacionais, multinacionais e das oligarquias locais. O novo mundo do trabalho imposto a fogo pelo neoliberalismo selvagem trouxe a instabilidade laboral, a migração forçada e um estado de crise permanente que não poupa nenhum continente mas, é produzida a partir da agressão econômica e colonial aos países tercermundistas e emergentes e aos conjuntos migrantes que tentam buscar uma sobrevida nos países centrais. Como cereja do bolo, as decisões desses organismos apoiam ou, no melhor dos casos, são permissivas com a destruição do planeta através do produtivismo em escala insustentável e o extrativismo sem controle.
A mobilização para construir uma contra-cúpula
O CADTM já está chamando aos movimentos sociais organizados nos foros internacionais para construir um outro espaço que obrigue à mídia mundial a focalizar também a agenda dos povos. A realidade demonstra a necessidade de pressionar, no sentido de não colocar mais países em situação de miséria total, e sendo obrigados a pagar uma dívida imoral, criada majoritariamente sob governos locais conservadores e serviçais aos interesses do Banco e do Fundo.
O comitê lembra que desde 2020, 9 países não tem conseguido cumprir com o pagamento da dívida externa: Argentina, endividada novamente no governo do conservador Maurício Macri; Equador, presidido por um banqueiro, Guillermo Lasso, beneficiado pelo lawfare contra Rafael Correa e Jorge Glas; Suriname; Belice; Líbano; Zâmbia; Sri Lanka, Gana e Rússia. Próximos a uma situação semelhante estão o Peru, que vive o golpe parlamentar e jurídico que impôs à ditadora Dina Boluarte, El Salvador do jovem autócrata, Nayib Bukele, a Tunísia, Egito, Quênia, Etiópia, Paquistão, Malawi e a Turquia que acaba de sofrer um terremoto com terríveis danos estruturais e vidas perdidas.
Num cenário desses o comitê para a Abolição da Dívida pretende organizar um evento paralelo, semelhante aos moldes do histórico Fórum Social Mundial, e demonstrar o poder dos povos quando estão organizados para defender a soberania popular, a autodeterminação dos povos e promover a justiça social e ambiental.
O contexto regional é favorável para ampliar o debate
Com as vitórias de governos de cunho progressista ou semelhante, América Latina e Caribe, podem encontrar nesta agenda, o impulso necessário para instalar, novamente, a partir da Celac, Unasul, Mercosul e outras organizações regionais menores, os debates interrompidos com a queda desses modelos de governo e a ascensão momentânea das direitas mais conservadoras em alguns países, tanto pela via eleitoral, como pelos golpes jurídicos, parlamentares e midiáticos e os golpes tradicionais.
O contexto regional, mesmo com esse governos que não expressam desejos de cortar relações com entidades como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, é favorável para a mobilização e a reflexão. Ao tentar reerguer as instituições que foram construídas no período dos primeiros governos progressistas, mencionadas no parágrafo acima, a conjuntura política pode alentar, tanto a estes governos como as organizações sociais para reinstalar um debate amplo, irrestrito, inclusivo, que permita a nossos países fazer parte da convocatória para enfrentar as mazelas que o FMI e o BM tem imposto ao mundo.
Edição e Publicação: Tali Feld Gleiser
Raul Fitipaldi é jornalista e cofundador do Portal Desacato e da Cooperativa Comunicacional Sul.
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