Morre o jornalista Alberto Dines, aos 86 anos

Alberto Dines nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 19 de fevereiro de 1932, filho de Israel Dines e de Raquel Di­nes, ambos de origem judaica. Fez os cursos primário e ginasial em colégios israelitas do Rio. 

Em 1943 teve sua primeira experiência jornalística como um dos organizadores do boletim estudantil Horta da Vitória, do Ginásio Hebreu Brasileiro. Cursou o científico no Colégio Andrews. Iniciou sua carreira em 1952 como crítico de cinema da revista A Cena Muda. No ano seguinte foi convidado por Nahum Sirotsky para trabalhar como repórter na recém-fundada revista Visão, cobrindo assuntos ligados à vida artística, ao teatro e ao cinema. Passou a fazer reportagens políticas, cobrindo as campanhas de Jânio Quadros para a prefeitura de São Paulo em 1953 e, um ano mais tarde, para o governo do Estado.

Permaneceu na Visão até 1957, quando foi levado por Nahum Sirotsky para a revista Manchete. Tornou-se assistente de direção e secretário de redação. Após desentendimentos com Adolpho Bloch, demitiu-se da empresa e tentou criar, com recursos próprios, uma revista que não chegou a ser editada.

Em 1959 assumiu a direção do segundo caderno do jornal Última Hora, depois foi diretor da edição matutina e, mais tarde, das duas edições diárias (matutina e vespertina).

No ano seguinte foi nomeado editor-chefe da recém-criada revista Fa­tos e Fotos, tendo colaborado, nessa ocasião, no jornal Tribuna da Imprensa, então pertencente ao Jornal do Brasil. Em 1960, convidado por João Calmon, dirigiu o Diário da Noite, dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, convertendo-o em tabloide vespertino. Deixou o jornal, demitido por Chateaubriand, por não obedecer a ordem de ignorar o sequestro do navio Santa Maria, em Recife, feito em protesto contra a ditadura de Antônio Salazar em Portugal.

Ingressou em janeiro de 1962 no JORNAL DO BRASIL como edi­tor-chefe, aos 30 anos e dez de profissão. Segundo o diretor Manual Francisco. do Nascimento Brito, com a entrada de Dines, a reformulação do jornal foi afinal consolidada, pois ele sistematizou as modificações que levaram o JB a ocupar outra posição na imprensa brasileira.

Em 1963 Dines criou e ocupou a cadeira de jornalismo com­parado na Faculdade de Jornalismo da PUC. No período fundou, dirigiu e colaborou regularmente com os Cadernos de Jornalismo e Comunicação do JORNAL DO BRASIL. Em 1965, instituiu a cadeira de teoria da imprensa na PUC, onde lecionou até 1966.

“Tempo negro. Temperatura sufocante”

Quando da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, coordenou a edição da célebre primeira página que se valeu de recursos como a previsão do tempo – “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos…” – e de um anúncio no alto da página: “Ontem foi o dia dos cegos”, como parte de uma estratégia para denunciar a censura imposta à redação a partir de então, em consequência da nova ordem política autoritária instalada.

Convidado para paraninfar uma turma da PUC logo após a edi­ção do AI-5, fez um discurso criti­cando a censura e, em conse­quência, foi preso em dezembro de 1968 e em janeiro de 1969 e submetido a inquérito. Em 1971, recebeu o prêmio Maria Moors Cabot da Universidade de Columbia, nos Es­tados Unidos.

A capa de Allende

Foi demitido em 1973 do JB, depois de 12 anos como editor. No JB, criou o Departamento de Pesquisa, a Editoria de Fotografia, a Agência JB e os Cadernos de Jornalismo. Um dos episódios que marcaram sua passagem pelo jornal foi a cobertura da deposição porgolpe militar do presidente chileno Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. Como a censura havia proibido a publicação de qualquer manchete sobre o assunto, Dines coordenou com o diagramador Ezio Esperanza a edição de uma primeira página sem manchete, mas informando o assunto com foto e texto em letras grandes.

Em 1974 deixou, depois de 12 anos, a Fatos e Fotos, viajando para os Estados Unidos, onde foi professor visitante, durante um ano, na Universidade de Columbia. Retor­nou em julho de 1975 e assumiu a chefia da sucursal carioca da Folha de São Paulo, convidado por Cláudio Abramo, diretor de redação. Em 1980, Dines deixou a Folha de São Paulo, demitido por Boris Casoy, após escrever um artigo denunciando a repressão do governador Paulo Maluf à greve do ABC. Colaborou, durante todo esse ano, no semanário O Pasquim, onde reeditou a coluna Jornal dos jornais. Nesse período, escreveu a biografia do escritor Stefan Zweig. Em seguida assumiu o cargo de secre­tário editorial da editora Abril, em São Paulo.

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