Moçambique independente

 Por Roberto Correa Wilson. *

Havana (Prensa Latina) O começo do povoamento há centenas de anos da zona onde está localizado Moçambique coincidiu com a utilização do ferro e a diversificação dos cultivos no momento em que apareceram em cena as tribos bantus que migraram do norte.

Tempos depois este país, situado no litoral da África Oriental, viu-se impactado tanto econômica como culturalmente, por sua relação comercial com a Ásia Menor, Índia e Extremo Oriente através do oceano Índico, sendo já possuidor dos instrumentos de ferro produzidos pelos bantus.

Desde antes de nossa era, a zona viu-se influenciada por indianos, árabes e chineses. Dois mil anos de comércio pelo Índico foram favoráveis ao desenvolvimento de cidades-estados costeiras como Kilwa, Malinde, Sofala e Mombasa.

Os contatos entre Portugal e parte do que hoje é conhecido como Moçambique se iniciaram com a chegada do navegante Vasco da Gama em 1498. O rei português estava interessado na abertura de uma rota comercial mais segura para a Índia.

Com esse fim financiou o projeto do navegante. O fato ficou registrado pelo estabelecimento de cidades na costa africana oriental, enquanto o interior do território permanecia virgem.

A capital do império de Monomatapa que enfrentou a chegada dos portugueses se encontrava em Mashona e era parte da Federação de Makalanga, pelo que essas atividades de Portugal afetaram à área conhecida atualmente como Zâmbia, Zimbábue e parte de Moçambique.

Em 1505 o rei português Manuel deu ordens de escravizar aos mercadores de Sofala. Mas antes os portugueses tinham explorado a rivalidade existente entre as cidades-estados para obter posições na região.

Nessas cidades-estados achadas pelos portugueses, o progresso material e cultural avançou bem mais que o desenvolvimento político e este foi um fator explorado pelos colonizadores. Nessa etapa os portugueses nunca conseguiram impor um controle político duradouro em toda a zona.

O controle era numa delgada faixa costeira que ia do Cabo Delgado até Sofala, onde estavam empenhados em dominar o comércio de ouro que procedia das famosas minas de Monomatapa, que se acreditava fazerem parte das famosas “minas do rei Salomão”.

A partilha

A pedido do rei da Bélgica Leopoldo II, as potências coloniais celebraram entre 1884 e 1885, uma Conferência em Berlim onde acordaram repartir a África em zonas de influência. Foi uma divisão territorial arbitrária, pois não considerava grupos étnicos, familiares, culturais e tradições.

A reunião colonialista procurava evitar confrontos entre as metrópoles, devido a rivalidades pelo domínio das zonas, além do controle de importantes riquezas naturais. Portugal seguiu uma política oscilante com seus territórios, que se resumia em utilizar os meios a seu alcance para infiltrar desde simples mercadores até fazendeiros, também enviou missionários que levavam a religião cristã para a conquista.

Nos lugares onde a política tradicional de autoridade era forte e a preparação militar adequada para a resistência à conquista dos europeus, os portugueses tiveram um cuidado especial.

Prepararam o território mediante contatos com estes Estados, utilizando enviados especiais para conhecer suas debilidades e fortalezas, e depois procediam o ataque com justificativas como provocação ou proteção dos brancos ou missionários.

Entre 1890 e 1900, Portugal obteve o controle total desta nação para desenvolver uma política colonial propriamente dita. Os Comissionados da Coroa em Moçambique foram formados em moldes estritamente militares.

O Governador Geral foi a pedra angular da administração colonial seguido pelos governadores provinciais, e estes, por sua vez, por intendentes de distritos que controlavam o trabalho dos chefes de posto. As autoridades coloniais e as companhias tinham direito de castigar todo homem, mulher ou criança, que trabalhavam em suas plantações.

Nova etapa

Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), produziu-se em quase toda África uma forte reivindicação pela independência. O conflito universal marcaria um antes e depois no continente. Os africanos que serviram nos exércitos europeus contra o fascismo contribuiriam para impulsionar as ânsias emancipatórias.

Em Moçambique, surgiram na clandestinidade ou no exílio partidos que começaram a trabalhar a favor da independência. Em resposta, as autoridades portuguesas encarceraram os dirigentes e aumentaram em 40 mil os homens das forças armadas coloniais, e instalaram novas bases militares em pontos estratégicos do país.

Os governantes portugueses modificaram nominalmente em 1961 o status político de suas colônias, denominando-as províncias de ultramar, para evadir suas obrigações de apresentar relatórios às Nações Unidas sobre os territórios sob seu domínio.

Um governador geral com poderes civis e militares assumiu suas funções em 1961 e no ano seguinte, em 1962, uma bomba destroçou a estátua do ditador português Oliveiro Salazar na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo, a capital). A repressão que seguiu ao fato causou para perto de 60 mortos entre civis e desatou uma onda de repulsa que estremeceu ao país.

A luta anticolonial adquiriu coerência e politização a partir da criação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em 1962. O Comitê Central da Organização decidiu passar à luta armada em 1964. As ações estenderam-se a lugares como Niassa, Zambeze e Tete.

O caminho do povo moçambicano para a independência foi longo e cheio de dificuldades, sobretudo porque Portugal solicitou e obteve ajuda militar da OTAN e a África do Sul do apartheid. As tropas coloniais cometiam massacres atrozes contra a população com o fim de atemorizá-la e impedir o apoio aos combatentes.

Mas para as autoridades de Lisboa a sorte estava jogada. O mundo tinha mudado, inclusive na própria metrópole, onde um movimento militar derrubou a ditadura. Com a independência a 25 de junho de 1975, concluía a escravatura colonial estabelecida cinco séculos antes.

*Colaborador da Prensa Latina.

Foto: http://trabalhomocambique.blogspot.com.br/

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