Meu pai, torturador: argentinas revelam segredos de pais envolvidos em assassinatos na ditadura

Por Valeria Perasso.

“Você realmente matou centenas de pessoas, pai?”.

Esta não é uma pergunta que a maioria de nós faria aos pais. Mas, para um grupo de mulheres jovens da Argentina, trata-se de uma dúvida que elas não podiam mais ignorar.

“Minha mãe um dia disse que meu pai estava na cadeia, mas que não era para eu me desesperar. ‘Não se preocupe. É questão política’, ela falou. Até aquele telefonema, eu nunca tinha ligado o trabalho do meu pai à ditadura. Nem remotamente…”

Quem conta é Analía, filha de Eduardo Emilio Kalinec, um ex-policial que atuou durante a brutal ditadura militar que vigorou na Argentina entre 1976 e 1983.

Ele é acusado de algumas das piores violações de direitos humanos no passado recente do país. Mais de 180 casos de desaparecimento, tortura e assassinatos foram cometidos em campos de detenção secretos mantidos pelo regime.

Pelos sete anos em que se manteve no poder, o governo militar perseguiu dissidentes, entre comunistas, socialistas, líderes sindicais, estudantes e artistas – qualquer um que fosse percebido como ameaça.

De acordo com organizações de defesa dos direitos humanos, cerca de 30 mil pessoas “desapareceram” depois de serem sequestradas e presas ilegalmente por policiais como Kalinec.

Mas Analía não tinha a menor ideia dos segredos bem guardados do pai até 2005, quando tinha 25 anos.

Tudo mudou naquele ano com o telefonema que recebeu da mãe.

Tanques e soldados do lado de fora do palácio presidencial, em Buenos Aires, em 24 de março de 1974, quando golpe militar tirou Isabel Perón da Presidência. Foto: AFP

Kalinec havia sido levado em custódia e, apesar do otimismo inicial da esposa, nunca foi liberado da prisão.

Em 2010, ele foi condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade.

‘Você acha que sou um monstro?’

“Ele me perguntou: ‘Você acha que sou um monstro?'”, conta Analía.

“O que ele esperava que eu dissesse? Ele era meu pai amado, eu era tão próxima dele. Eu estava chocada.”

Paula (que pediu à BBC para não publicar seu sobrenome) também recebeu uma revelação chocante sobre seu pai.

Quando tinha 14 anos, ela e o irmão foram levados pelo pai a um café. Lá, ele contou aos dois que tinha sido um policial à paisana. Tempos depois, Paula se deu conta de que o pai trabalhava como espião, infiltrado em grupos de esquerda e identificando pessoas procuradas pelo regime militar.

“Desde que me toquei que o que eu sabia sobre a ditadura tinha participação do meu pai, eu me sinto envergonhada e culpada como se fosse cúmplice”, diz Paula.

“Agora eu tenho essa informação e não tem nada que eu possa fazer. É como manter um segredo que eu não quero guardar.”

Levou anos para que essas jovens compreendessem e aceitassem a história de suas famílias, mas recentemente elas sentiram a necessidade de falar abertamente sobre isso.

Elas são parte de um grupo que reúne “filhos e parentes de perpetuadores de genocídio”, como chamam a si mesmos.

Elas condenam publicamente os seus pais – e são frequentemente isoladas por familiares como consequência.

Um segredo de família

Analía dançando com o pai, Eduardo Emilio Kalinec
Analía se dava muito bem com o pai
 

Analía Kalinec, psicóloga e professora, nasceu em 1980, em meio à batalha do regime militar contra apoiadores da esquerda. Suas memórias do pai policial remontam a uma época posterior a esse período – ela se lembra dele fazendo churrasco e levando as filhas ao clube e para pescarias.

“(Éramos) uma família de classe média muito unida, com minhas três irmãs, minha mãe dona de casa e um pai que era amoroso e o provedor da família.”

As quatro irmãs se casaram cedo e não se interessavam por política. “Para nós sempre foi: ‘nosso pai, o policial’. Eu nunca perguntei o que ele fazia”, diz Analía.

Ela recorda que a família foi visitar o pai na prisão. “Quando falamos com ele, ele só disse: ‘Não acreditem no que vão dizer de mim. É só um monte de mentiras'”.

Analía Kalinec com a família na década de 80
Analía Kalinec diz que teve uma infância feliz, numa família de classe média muito unida

Ele disse à família que não tinha motivo para se desculpar, que estava lutando numa “guerra” e que agora estava sendo perseguido pela vontade de vingança dos “esquerdinhas”.

“Não entendi uma palavra. Não tinha ideia do que ele queria dizer”, diz Analía.

Para Analía, a ditadura era uma coisa do passado e, durante os primeiros anos de prisão do pai, viveu em negação.

“Eu apoiava as mães e avós da Praça de Maio que estavam em campanha pelos parentes desaparecidos”, diz.

portas da antiga prisão El Olimpo
A antiga prisão El Olimpo, onde Kalinec trabalhou. Cerca de 500 prisioneiros foram mantidos lá ao longo de 17 meses

“Eu ainda acreditava que tinha sido um erro. Foi quando o julgamento começou que eu percebi que as coisas não eram bem como meu pai vinha nos contando.”

A descoberta da verdade

Analía se viu cara a cara com o passado do pai quando começou a ler documentos do processo. Eram mais de 800 páginas repletas de depoimentos de sobreviventes do terror que ele tinha infligido.

“Eu li as descrições dos campos de concentração onde os militares mantinham as pessoas que eles sequestravam. Era como um mapa e eu tinha que posicionar meu pai lá. Era insuportável”, diz ela.

As vítimas não conheciam Kalinec pelo nome real. Nas prisões clandestinas onde ele trabalhava, ele escondia a identidade e era chamado de “Doutor K”.

“Eu sabia que eles chamavam meu pai assim porque uma vez ele contou para a minha avó e, quando eu perguntei de onde veio esse apelido, ele disse que era porque sempre estava arrumado e parecia um advogado. E aqui nós chamamos os advogados de doutores”, disse.

Eduardo Kalinec
,Eduardo Kalinec era temido entre prisioneiros políticos que o conheciam como Doutor K

“(Mas) também pode ser porque ele era o “doutor” nas câmaras de tortura, que eram chamadas de ‘salas de cirurgia'”, acrescenta.

Analía finalmente confrontou o pai na prisão.

“Quando eu fiz isso, eu me deparei com um homem raivoso que tentou justificar o injustificável. E ao fazer isso, ele confirmou minhas piores suspeitas. As de que ele tinha pessoalmente participado de tudo isso.”

O fato de amar o pai e de ter memórias felizes da infância tornaram as coisas muito difíceis, diz Analía.

“Primeiro, eu precisei dissociar. Eu costumava dizer: ‘Bom, um lado dele é ser meu pai. O outro é ele como torturador’. Eu precisava disso, ou minha cabeça teria explodido. Mas aí eu percebi que se tratava da mesma pessoa. Ele sempre foi a mesma pessoa”, diz.

“Sem que eu soubesse na época, aquela conversa na cadeia seria a última vez que eu falaria com meu pai.”

Kalinec
Kalinec foi condenado à prisão perpétua em dezembro de 2010. Foto: CIJ

Dezenas de testemunhas em julgamentos identificaram Eduardo Kalinec como tendo participado de sessões de interrogatórios e torturas em três centros de detenção diferentes.

Elas descreveram Kalinec como um jovem – na época ele tinha cerca de 25 anos – com tom de voz agudo, baixo, moreno, com um pescoço grosso e bigodes.

Ele era “temido” dentro dos centros de detenção e possuía um “caráter muito cruel”, de acordo com os depoimentos de sobreviventes.

A maioria dos que passaram por esses campos não sobreviveu. Eles permanecem “desaparecidos” e presume-se que estejam mortos.

Protesto contra a ditadura em 1982
Os militares perseguiam com brutalidade os opositores, no que chamavam de ‘guerra contra a subversão’. Foto: Getty Images

Os relatos dos sobreviventes

Ana Maria Careaga tinha 16 anos e estava grávida de 3 meses quando foi levada. Ela se lembra que levou um chute do Doutor K quando ele a viu no banheiro.

Numa ocasião, ele ficou bravo com ela por não ter revelado que estava grávida quando foi sequestrada por integrantes do regime militar.

“Você quer que eu abra as suas pernas e faça você abortar”, ele gritou.

Miguel D’Agostino também identifica Kalinec como um dos três homens que o torturaram por cinco dias seguidos com fios elétricos na chamada “sala de cirurgia” da prisão secreta onde ele ficou detido por quase um ano.

Delia Barrera tinha 22 anos quando foi levada da sua casa – sequestrada sob a mira de uma arma por um grupo de homens que vasculharam sua vagina por pílulas de cianeto. Eles queriam ter certeza de que ela não guardava consigo remédios para tirar a própria vida.

Delia Barrera
Delia Barrera testemunhou no julgamento de Eduardo Kalinec. O marido dela continua desaparecido
Os homens a levaram para El Atlético, a prisão secreta onde Kalinec trabalhava na época.

“Eu ouço vozes ao meu redor, eu estou com os olhos vendados”, relembra Barrera à BBC.

“Eles me deixam pelada e me amarram a uma cama de metal com as pernas abertas. Começaram com choques elétricos. Eles me culpavam de ter plantado uma bomba numa estação policial, o que eu não tinha feito, e queriam nomes de colegas militantes.”

Barrera se encontrou com Kalinec numa ocasião, quando estava havia 92 dias na prisão e o pano que cobria seus olhos estava frouxo. “Eu fui levada até ele depois de uma surra violenta. Eu pensei: ‘Ah, eles o chamam de Doutor K, ele deve ser um médico'”, conta.

“Eu conseguia ver o rosto dele por debaixo do pano que cobria os meus olhos. É um rosto que eu nunca conseguiria esquecer. Quando, durante o julgamento, o juiz me perguntou se eu conseguiria identificar algum dos acusados, eu disse: ‘Aquele é o Doutor K’.”

desaparecidos
A maioria dos prisioneiros dos três centros de detenção onde Kalinec trabalhou nunca mais foram vistos. Foto: Conadep

‘Sem provas’

O julgamento, que durou um ano, terminou com a condenação de Kalinec à prisão perpétua em dezembro de 2010. Ele faz parte de um processo de reconhecimento histórico que continua ocorrendo na Argentina, quase quatro décadas depois do fim da ditadura militar.

Mais de mil militares e policiais condenados por violações aos direitos humanos receberam penas robustas e há 370 processos ainda em curso no sistema judicial argentino. Mas nem todos os que participaram do sistema de repressão do regime militar são levados à Justiça.

Em muitos casos, simplesmente não há provas suficientes para que sejam condenados. É o caso do pai de Paula.

“Eu sei o que ele fez porque ele contou”, diz ela. “Ele nos disse que participou da ‘guerra contra a subversão’, como ele chama. E ele se sentia orgulhoso disso, se sentia um herói.”

Até aquele momento, Paula acreditava que o pai era um advogado. Ela nunca o havia visto num uniforme policial.

“Ele estava na faixa dos 20 na época e, pelas fotos que eu tinha em casa, ele não parecia fazer parte da polícia. Ele tinha cabelos longos, usava camisas de botão da moda… Ele parecia um jovem qualquer da década de 70.”

Mas, com o tempo, Paula conectou os pontos e percebeu que ele espionava e denunciava pessoas para serem capturadas e levadas a centros de detenção clandestinos.

Assim como Analía, Paula confrontou o pai.

“Eu disse para ele: ‘Não se tortura pessoas. Eu não quero saber se eles fizeram algo ou não. Aplique a lei se fizeram algo de errado, não torture pessoas!’ Eu tive essa mesma conversa várias vezes com ele.”

O pai dela respondia que as autoridades estavam lidando com “terroristas” e que “os comunistas estavam chegando”.

Paula diz que não sabe quanto sangue o pai teria nas mãos, mas que ele nunca demonstrou arrependimento.

“Ele era uma engrenagem necessária na máquina de terror. Ele dizia que os crimes precisavam ser cometidos – e ele nunca chamava de crime, chamava de ‘ações’.”

Dez anos após a descoberta sobre o pai, Paula cortou todos os laços com ele. “Eu tentei fazer isso antes, várias vezes. Mas sempre acabava voltando a ter contato, principalmente porque minha mãe me pedia. Família é família…”

Paula quando bebê, com o pai
Paula: ‘Eu sei que há fotos de nós como uma família feliz, mas eu não tenho boas memórias dele’
“Quando minha mãe morreu, acho que me senti mais livre. ‘Quer saber? Agora eu não tenho ninguém me dizendo que preciso te ver’. Eu simplesmente nunca mais o vi.”

No final de 2019, ela soube que o pai havia sido levado ao hospital após um derrame grave e se perguntou se deveria visitá-lo.

Não foi. Quando o pai morreu, não foi ao velório.

“Eu achei que comparecer ao velório seria desrespeitoso com as pessoas que realmente o amavam. Mas, além disso, uma parte de mim já havia vivenciado o luto da ausência do meu pai na minha vida. Então, eu não tinha essa necessidade.”

Rebelião coletiva

Alguns anos atrás, Analía e Paula se conheceram – junto a vários outros filhos de militares e policiais que também condenam as ações dos seus pais.

Isso não ocorreu por acaso. Foi impulsionado por uma decisão da Suprema Corte em 2017, durante o governo de centro-direita do então presidente Mauricio Macri, que poderia ter resultado na libertação de centenas de pessoas condenados por violações de direitos humanos, entre elas Eduardo Kalinec.

Meio milhão de pessoas tomaram as ruas em protesto, exigindo que a decisão fosse revista – e ela foi.

“O fato é que a prisão do meu pai demonstra uma qualidade nobre da sociedade argentina. Então, eu senti a necessidade de quebrar o silêncio. Eu queria dizer: ‘Sejamos claros, não há como voltar atrás nisso'”, diz Analía.

“Queremos garantir que nossos pais paguem pelos crimes que cometeram.” Analía publicou suas opiniões num manifesto no Facebook. Outros filhos e filhas leram.

Paula e o pai
Paula e o pai

“Tudo começou ali. Nós nos comunicamos, nos encontramos. Dissemos: ‘Isso é muito difícil de enfrentar sozinho’. Nós decidimos nos unir e participar dos protestos. Inicialmente, éramos quatro, todas mulheres, com muita energia e entusiasmo.”

Eles se apelidaram de Histórias Desobedientes, porque estavam rompendo com as regras de silêncio da família. A maioria deixou de ver os pais há muito tempo e muitos, como Analía, não falam mais com os irmãos.

“Eu estava tão feliz de encontrar outras pessoas como eu. Eu sabia que não podia ser a única”, diz Paula. “Eles me compreendiam de maneira que outros não conseguiriam.”

Ela diz que não havia conseguido falar com ninguém sobre o pai, com exceção do seu terapeuta, e que adquirir a habilidade de se impor e falar publicamente sobre o caso, depois de 23 anos de silêncio, era libertador.

A luta para que rompam o silêncio

protesto do Historias Desobedientes
Analía (no centro) se uniou a outros filhos de agentes da ditadura e criou o coletivo Histórias Desobedientes. Foto: Historias Desobedientes

O grupo agora é integrado por 80 pessoas – a maioria mulheres. Os integrantes se reúnem semanalmente. Eles comem juntos e discutem sobre sentimentos e política, além de planejar participação em eventos públicos.

Uma das campanhas do grupo foca na recusa de seus pais em confessar os crimes e tem como objetivo ajudar os promotores a condenar outros culpados de violações de direitos humanos.

“Eu ainda espero que ele fale. Eu sei que o meu pai tem informações sobre suas vítimas”, diz Analía.

“Diferentemente de outros oficiais, que estão muito velhos ou senis, meu pai está lúcido e têm uma memória prodigiosa. E saber que ele prefere não falar e que esse silêncio cúmplice está causando dor é algo que me machuca muito.”

Paula
Paula durante a leitura de um livro publicado pelo coletivo, em 2019. Foto: Valeria Perasso

Como seus pais não querem falar, os membros do Histórias Desobedientes querem que o Código Penal da Argentina seja reformado para permitir que os filhos testemunhem nos tribunais contra os pais, em casos de crimes contra a humanidade.

Muitas vezes os casos envolvendo esses homens são um quebra-cabeça que os filhos podem ajudar a montar com as informações que possuem. Por exemplo, Analía sabia que o pai era conhecido no trabalho como Doutor K.

“Socialmente, se pronunciar contra o seu pai é fortemente condenado numa sociedade patriarcal. Seu pai, seu sangue. Bem, mas e se o seu pai é um torturador, um estuprador, um ladrão? Você não pode dizer nada?”, questiona.

“As pessoas sequer fazem esse questionamento. Bom, talvez esteja na hora de fazer.”

Analía Kalinec com o filho de 13 anos
Bruno é o filho mais velho de Analía. Ele costuma acompanhar a mãe em manifestaçõe. Foto: Valeria Perasso

Aos olhos do público

Em 2019, o Histórias Desobedientes tomou as ruas no Dia Nacional da Memória, em 24 de março, aniversário do golpe militar. O cartaz colorido que eles levavam dizia: “Somos parentes de perpetradores de genocídio”.

Analía dizia que as pessoas olhavam para eles confusas. Algumas choraram, enquanto muitas aplaudiram. “Foi a primeira vez que um grupo de parentes de perpetradores se manifestava tão publicamente.”

No entanto, nem todos estão preparados para o ativismo deles. O grupo é uma presença desconfortável para alguns familiares de vítimas e sobreviventes.

“Esses ‘desobedientes’ filhos e filhas tiveram várias oportunidades de se manifestar e não fizeram isso antes. Por que?”, questionou a sobrevivente Delia Barrera, quando entrevistada pela BBC em 2019.

Manifestação em março de 2019
O Dia Nacional da Memória costuma ser permeado por manifestações em defesa dos direitos humanos. Foto: Valeria Perasso

Ela disse que não confiava neles, particularmente nos que diziam que ainda amavam os pais depois de tudo o que eles fizeram.

“Você não pode amar um perpetrador de genocídio”, critica.

Para os filhos de criminosos condenados, a questão é mais complicada. “Eu me pergunto isso o tempo todo e a gente discute isso no grupo: é possível simplesmente parar de amar o homem?”, diz Analía.

“Como você apaga a afeição? Como você deleta as boas memórias? Eu me recuso a desistir desse pai que eu amei um dia. Tem uma parte de mim que quer se apegar a isso. Então, eu vivo com essas contradições.”

Mas algumas foram além, passando a se chamar “ex-filhas” ou pedindo formalmente a troca de seus sobrenomes.

“Eu acho que é uma decisão muito pessoal. Mas para mim isso não mudaria nada. Eu não vou dar ao meu pai o direito de ser o dono do sobrenome. Também é meu sobrenome, minha família, minha história”, diz Analía.

Paula concorda. “Você tirou muitas coisas de muitas pessoas”, ela disse ao pai, quando ele estava vivo. “Você não vai tirar o meu nome. Você o manchou, mas eu vou limpá-lo.”

Desde a morte dele, Paula se afastou um pouco do grupo, mas diz que “seu posicionamento ético em relação à ditadura e ao papel do pai nela continuam o mesmo.”

“Eu ainda sinto a responsabilidade de falar e talvez de acordar outras pessoas tanto na Argentina quanto em outras partes do mundo, independentemente do relacionamento que elas tenham com o perpetrador. Então, essa luta nunca vai terminar.”

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