Por Montserrat Martins.
Medo é uma emoção essencial, para evitarmos perigos, mas sentir medo também provoca consequências perigosas. Em Fisiologia se chama de “reação de luta e fuga” a descarga de adrenalina que o organismo produz quando nos assustamos. Ou seja, uma pessoa com medo não apenas está propensa a fugir como também a agredir, mesmo antes de ser agredida, se achar que corre risco.
Criminosos com medo são mais perigosos que os ditos “profissionais frios” do crime, assaltantes assustados com medo da reação são os que mais atiram nas vítimas. Nas guerras entre gangues, muitos matam por medo de serem mortos. Policiais, uma profissão com risco de vida, também.
O medo é uma emoção instintiva que pode ser organizadora da vida social, quando existe uma cultura baseada no planejamento, na organização do Estado de modo a que este cumpra sua funções básicas. O medo sadio seria aquele que inibiria o crime, pela presença ostensiva da polícia para segurança dos cidadãos. Esse tipo de medo teria efeito apaziguador, onde todos soubessem que as regras são claras e serão dados limites a todos que infringirem os direitos alheios.
O medo num contexto imprevisível, no entanto, é um combustível para a violência e uma sociedade assustada é potencialmente violenta. Numa sociedade desorganizada, sem planejamento urbano para os mais de 200 milhões de habitantes como ocorre no nosso país, o medo se torna um apelo a soluções violentas para o problema da violência.
Na nossa sociedade desorganizada, o Estado é desviado de suas funções de atender a todos para privilegiar a alguns, a chamada “privatização do Estado”, como é o caso do BNDES. Sem a presença do Estado nas periferias, o crime organizado toma conta e impõe a lógica do terror, governa pelo medo.
A população que sofre com a falta de segurança passa a desejar o uso da violência contra os violentos, ou seja, desacreditando nos valores civilizatórios e regredindo à eras primitivas como da “Lei do Talião”, do “olho por olho, dente por dente”, dos instintos primitivos de vingança.
Esse fenômeno não é restrito ao Brasil, temos visto sua presença nos cinco continentes, a violência é o maior sintoma da doença social do século XXI, pois a comunidade internacional não se preparou para abrigar 7 bilhões de pessoas, a maioria nos grandes centros urbanos, de um modo que desse conta de suas necessidades básicas. Por isso os países mais organizados são “invadidos” pela imigração. Dizem que há dois Brasis, um europeu e um do terceiro mundo, nesse caso as tentativas de “imigração” de um para outro também estão envolvidos nesse medo coletivo atual.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade
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Foto: Reprodução de internet.
Fonte: EcoDebate