Por Patrícia Egerland, para Desacato.info
Esse ano completam-se 22 anos desde a instituição do dia 18 de maio como Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A médica pediatra do Hospital Infantil Joana de Gusmão e HU/UFSC, Vanessas Borges Platt, que também é coordenadora, em ambos os hospitais, das equipes de atendimento às crianças e adolescentes em situação de violência sexual, em entrevista ao JTT – A Manhã com Dignidade, falou sobre esse que é um tema pouco pautado na mídia, nos meios públicos pois, como fala a Dra Vanessa Borges, “é um tema muito sensível para as pessoas”.
“Muitas vezes a criança não entende que aquilo é uma violência sexual, não possui as capacidades nem o desenvolvimento para entender essa temática, e passam a perceber quando ficam maiores”.
Segundo a médica, “habitualmente quem perpetra a violência sexual contra crianças e adolescentes é alguém da família, do ambiente doméstico, alguém que deveria estar ali para cuidar dessa criança”. Além disso, aponta que muitas vezes a criança não revela por não identificar a ação como violência mas também porque é ameaçada pelo agressor.
(Vídeo da entrevista abaixo)
A doutora chama a atenção para o dado de que as notificações e denuncias de abuso sexual podem ser cerca de 15 a 30 vezes menor do que realmente chegam a ocorrer. Em sua pesquisa de doutorado, Vanessa Borges analisou 11 anos de notificações do estado de Santa Catarina e buscou avaliar quem eram as crianças com episódios de notificações recorrentes para, então, poder traçar elementos que auxiliem os profissionais a atentar-se a um possível caso de violência constante, como por exemplo: o abuso ocorrer na casa da criança ou do abusador; que o violador seja pai, padrasto ou irmão e que esteja sob o efeito do uso de álcool. Segundo Vanessa Borges “cerca de 60% de certeza de que esta criança é vítima recorrente de violência sexual”.
Na entrevista, a doutora reforça a importância de escutar e acreditar quando as crianças e adolescentes falam sobre os episódios de violência, além da necessidade de tomar atitudes, buscando ajuda através das delegacias, conselho tutelar, centros de saúde ou até mesmo nos hospitais. “Se, por acaso, queira preservar a identidade, há a possibilidade de denúncia anônima, através do Disque 100” orienta Vanessa Borges.