Maryam Mirzakhani: a primeira mulher a ganhar o Nobel da matemática

Por Maura Martins.

Maryam Mirzakhani foi uma matemática iraniana que viveu apenas 40 anos. Em sua curta trajetória, ela conseguiu um feito incrível: foi a primeira mulher a receber a Medalha Fields, considerada o prêmio Nobel da matemática, por suas incríveis contribuições ao estudo da geometria e da dinâmica.

Nascida em 1977 em Teerã, capital do Irã, Maryam sonhava em ser escritora. Mas os números começaram a atravessar o seu caminho, levando-a para o estudo da matemática. Ela, inclusive, chegou a declarar que via paralelismo entre os objetos da matemática e os personagens dos livros que lia. “Os números são como personagens que um dia você passa a conhecer melhor. Depois que as coisas evoluem, você olha para aquele personagem e ele se tornou diferente de como era antes”, declarou à revista Quanta, em 2014.

As primeiras premiações

Seu interesse pela matemática avançada começou a se manifestar ainda no colégio. No ensino médio, Maryam recebeu medalhas de ouro nas Olimpíadas Internacionais de Matemática durante dois anos consecutivos.

Em 1999, se formou no bacharelado em matemática na Universidade Tecnológica de Sharif, no Irã. Em seguida, mudou-se para os Estados Unidos, onde cursou o doutorado em Harvard e produziu a tese “Geodésica Simples em Superfícies Hiperbólicas e Volume do Espaço de Curvas Moduli”.

Como professora, passou a atuar na Universidade de Princeton e de Stanford. Suas pesquisas dentro da matemática se concentravam especialmente no estudo de superfícies hiperbólicas por meio de seus espaços de módulos, avançando o conhecimento já obtido nesta área.

Segundo vários estudiosos da matemática, o trabalho de Maryam se destacava pela criatividade em um campo reconhecido pela exatidão. “Uma das coisas que distinguiu Maryam como estudante foi a profusão de questões imaginativas que ela formulou e perseguiu. Sua pesquisa combinou uma grande variedade de campos, indo dos formatos das superfícies no bilhar à teoria das cordas, numa única e rica imagem com notáveis consequências”, escreveu o matemático Curtis McMullen, seu orientador no doutorado em Harvard.

A láurea máxima da Medalha Fields

Em 2014, Maryam Mirzakhani dividiu a tradicional Medalha Fields com o brasileiro Artur Ávila, pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. Ela se tornou a única mulher a ter recebido este reconhecimento desde a criação do prêmio em 1924. Foi uma façanha incrível, ainda mais se considerarmos que, após a Revolução Islâmica no Irã, em 1979, a educação neste país passou a ser separada por gêneros e as meninas começaram a receber um ensino menos robusto.

Em 2017, Maryam faleceu depois de quatro anos lutando contra um câncer de mama. Sua perda foi sentida pelos colegas do campo da matemática, mas também por todas as mulheres que se espelhavam nos seus feitos.

A sua memória segue sendo celebrada no Irã — mesmo que, por muitas vezes, Maryam tenha sofrido preconceito por aparecer sem usar o véu islâmico no cabelo, conforme a tradição. “Mirzakhani é uma joia para todas as mulheres iranianas e para todas as mulheres em todo o mundo. Ela é um modelo como ser humano, bem como suas habilidades intelectuais e acadêmicas”, escreveu Mohammad-Ali Najafi, ex-ministro da Educação do Irã.

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