Maricultures e pescadores estão em alerta em Florianópolis

    Por Emanuelle Gomes e Edinara Kley.

    Óleo contamina água em 730 hectares de área do mar na Tapera e Ribeirão

    Produtores de moluscos e res­taurantes do Ribeirão da Ilha e Ta­pera, no Sul da Capital, estão em alerta depois que a Fatma (Funda­ção do Meio Ambiente) embargou 730 hectares de área do mar com suspeita de contaminação. Diante da possibilidade de presença de substância altamente tóxica co­nhecida como ascarel, as ativida­des de maricultura e pesca, banho e qualquer contato com a água estão proibidas temporariamente na área que vai da igreja do Ribei­rão até a praia do Mutuca.

    O óleo, proibido no Brasil desde 1981, foi detectado em exame feito com amostras dos 12 mil litros de óleo de transformador que vazaram do centro de treinamento desativado da Celesc, na Tapera, no dia 16 de novembro de 2012.

    Técnicos do Cidasc (Compa­nhia Integrada de Desenvolvimen­to Agrícola de Santa Catarina) co­letaram nesta segunda-feira (15) amostras da água e de moluscos cultivados em fazendas há 1,5 quilômetro do lo­cal do vazamento. Ainda não há comprovações de que o ascarel foi absorvi­do pela fauna e flora e, se­gundo a Fatma, a medida de embargo é preventiva.

    “Tem uma chance pe­quena de o produto estar presente no local, mas existe. O problema maior é com a ingestão. As lite­raturas convergem, mas algumas apontam que o ascarel causa cân­cer”, afirmou o presidente da Fat­ma, Murilo Flores. O resultado dos exames, de acordo com ele, deve ficar pronto entre dez e 15 dias.

    Mas o diretor de Defesa Agro­pecuária da Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca, Roni Bar­bosa, disse que a análise das ostras e mariscos só pode ser feita por laboratório da rede internacional, que ainda não foi escolhido pelo governo. Enquanto aguardam res­postas, secretaria e Igeof (Institu­to de Geração de Oportunidades de Florianópolis) já conversaram com os 28 produtores de moluscos atingidos pela medida.

    Na quarta-feira, na secretaria, em reu­nião do Comitê Estadual de Con­trole Higiênico-Sanitário de Mo­luscos Bivalves, com 14 entidades ligadas ao setor, a situação deve ser discutida. “Dos 105 produtores da região, apenas esses 28 estão impedidos de comercializar e re­tirar os produtos do mar. Eles se comprometeram a não vender até que o laudo fique pronto. Se for constatada contami­nação, tudo será destru­ído e os produtores de­verão ser indenizados”, comentou Barbosa, sem apontar responsáveis pelo dano ambiental.

    Impacto e danos não foram apurados

    Uma equipe de fiscalização da Fatma esteve na segunda-feira à tarde no Ribeirão da Ilha e na Tapera, para entregar o termo de embargo a maricultores, comerciantes e restaurantes que estão na área atingida pelo ascarel. O coordenador da ação, o analista técnico em gestão ambiental Anderson Arkison da Cunha, que emitiu o termo, reiterou que ainda não se tem uma informação precisa sobre o impacto ambiental que o vazamento causou, mas demonstrou preocupação quanto aos danos e a possibilidade dos mariscos e moluscos terem sido contaminados. “A chance é remota, mas existe sim”, alertou.

    A suspensão, segundo o termo, vale a partir do dia 16 de novembro de 2012, data em que ocorreu o vazamento. No entanto, foi a partir do último sábado que moradores e comerciantes da região foram informados sobre a suspeita.

    Os danos provocados pela permanência do óleo por cerca de dois meses na água, sem que sua existência fosse informada ou notada, e a área real que o produto alcançou desde que começou a vazar, ainda não foram apuradas. “Ainda não se sabe a extensão exata, por isso a nossa prioridade agora é que se cumpra o embargo”, disse.

    A responsabilidade do vazamento, segundo Cunha, será averiguada. “O equipamento é da Celesc, que deve ser a responsável pela segurança da área, mas o terreno é da UFSC. Ainda não sabemos quem será responsabilizado”, ponderou.

    Óleo pode ter se diluído, diz pesquisador

    O pesquisador Jorge Freitas, coordenador de Gestão Ambiental da UFSC, afirmou que há pequena probabilidade de o ascarel ter sido absorvido pelos moluscos. “Se chegou às fazendas, foi em pouca quantidade e pode ter se diluído”, afirmou. Se ingerida em grandes quantidades a substância pode causar até mesmo a morte. Mas em poucas quantidades, pode levar à descoberta de um tumor futuramente. “A probabilidade é praticamente zero. A atitude da Fatma foi de prevenção”, reiterou.

    Comerciantes temem queda no movimento

    O anúncio do vazamento de óleo e o embargo da Fatma deixaram apreensivos os proprietários de restaurantes e os maricultores do Ribeirão da Ilha e da Tapera, que preveem prejuízos. O trabalho da temporada de verão, para a maioria deles, é o que garante o sustento do ano todo.

    “Estamos comprando ostras de uma fazenda que fica fora da área proibida, mas mesmo assim o movimento deve baixar”, disse a proprietária de um restaurante na Freguesia do Ribeirão. Ela acredita que, embora não tenho sido comprovada a contaminação, os clientes vão evitar ingerir os alimentos no bairro e todo o comércio será prejudicado.

    Outro comerciante questionou a demora do anúncio e a responsabilidade no caso de prejuízo. “Ese as ostras realmente estiverem contaminadas, como é que fica? Quem vai responder por isso?”, indagou.

    Quem sobrevive do cultivo do marisco também demonstra preocupação, mas com os dias de trabalho parados. Na tarde desta segunda-feira (15), maricultores da Tapera, que cultivam ostras e berbigão, permaneciam na beira do mar, mesmo sem ter o quê fazer. “Eles estão prejudicando a maricultura. Faz dois meses que o óleo está vazando e só agora eles avisam. Enem sabemos quando vamos poder voltar a trabalhar”, avaliou o maricultor Luiz Claudio Farias da Silva.

    Fonte: Notícias do Dia.

    Imagem: Daniel Queiroz.

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