Maria Tereza Capra (PT): mandato cassado por 10 votos a 1, na Câmara de São Miguel do Oeste

"A luta mais difícil de fazer na política é de incluir mulheres na política. É a luta mais difícil", destacou Maria, em seu pronunciamento durante a Sessão

Foto: Ascom/Câmara

Por Jaine Fidler Rodrigues, Desacato.info. 

A advogada Maria Tereza Capra (PT), teve seu mandato cassado em sessão extraordinária que iniciou às 18 horas e terminou por volta 3 horas da madrugada deste sábado (04). O terceiro mandato de Maria Tereza Capra na Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste, foi cassado por 10 votos à 1, com base em relatório final de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Dos 13 vereadores, 10 homens votaram favoráveis, a única vereadora mulher, além de Capra, esteve ausente, e o presidente da casa se ausentou do voto.

Para perda do mandato, eram necessários nove dos 13 votos. O presidente da casa, Vagner Passos (sem partido), por força da legislação, não votou. Maria Tereza Capra (PT), foi contra. Cris Zanatta, do PSDB, está viajando e não participou da sessão. Os outros 10 vereadores – Carlos Roberto Agostini (MDB), Elói Bortolotti (PSD), Gilmar Baldissera (PP), Moacir Fiorini (MDB), Nélvio Paludo (PSD), Paulo Drumm (PSD), Ravier Centenaro (PSD), Valnir Scharnoski (PL), Vilmar Bonora (PSD) e Vanirto Conrad (PDT)- votaram favoráveis ao relatório da CPI e pela cassação do mandato da vereadora petista.

Num contexto, com marcas machistas e patriarcais, após manifestação realizada em 2022 no município e a circulação de vídeos amplamente acessados pela população brasileira e internacional, Maria foi apontada como a responsável por causar “prejuízos incalculáveis” a São Miguel do Oeste.

Quanto poder em uma mulher!? Ou não seriam os responsáveis aqueles que estiveram presentes na manifestação propagando o símbolo nazista? Mas bem, agora, ela é também responsável por evidenciar claramente o quanto este sistema nega suas marcas históricas. E, o quanto tenta apagar e violentar mulheres, principalmente em espaços políticos. Maria Tereza, em seu pronunciamento, afirmou:

“A luta mais difícil de fazer na política é de incluir mulheres na política. É a luta mais difícil”

Uma das denúncias acusa a vereadora Maria Tereza Capra de ter praticado “infração político-administrativa grave, sujeita à apuração e sanção pela Câmara Municipal de Vereadores” pelo fato de ter utilizado sua rede social Instagram para “propagar notícias falsas e atribuir aos cidadãos de Santa Catarina e ao Município de São Miguel do Oeste o crime de fazer saudação nazista e ser berço de célula neonazista”.
A segunda denúncia cita condenação criminal de Maria Tereza Capra em segunda instância, pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina, por prática de crime contra a lei de licitações, “pela contratação de shows artísticos sem o devido procedimento licitatório, na época em que exercia a função de secretária municipal de Cultura”. A denúncia diz ainda que Capra teve registro de candidatura a deputada federal indeferido, e que “se a representada está inelegível, o exercício da vereança é incompatível do ponto de vista da ética e do decoro parlamentar”.
Além das denúncias, os parlamentares se sentiram ofendidos por Maria, em nenhum momento pedir desculpas sobre às acusações. No entanto, eles mesmos, não demonstraram consideração por sua atuação por este tempo, da mesma forma a parcela da população que democraticamente a elegeu. Além disto, pouco consideraram a conduta de chamá-la de “lixo” em sessão pública, afirmando que deveria sair da cidade, onde nasceu.

Segue na íntegra parte de seu pronunciamento oficial: 

“Quando a gente fala mais grosso, quando a gente fala mais alto, tem uma série de comentários maldosos feitos. E, a gente ainda é mãe, a gente ainda carrega o filho, e a gente tem que deixar o filho em casa como eu deixei a Ana Luiza com um ano para fazer campanha. Nós somos culpadas muitas vezes porque a criança, vai mal em prova na escola e nós estamos na reunião do partido, construindo o movimento social ou na Câmara dos Vereadores. É difícil para nós, e a cobrança é extremamente maior para nós. Porque eu não tenho dúvida, além de tudo nesta casa a nossa colega vereadora que está sofrendo um processo, vítima de violência política, hoje não compareceu e a gente sabe. A decisão pesada. Nós temos aqui só homens nessa casa. Só homens. Não é fácil.  Eu não falei o nome de ninguém que era João Maria ou Paulo que era nazista, eu não disse isso. Eu vi um vídeo e não fui eu quem filmou e divulgou, foi quem estava lá. Mas agora sou eu que sou cassada, sou eu que defendo aqui muitas pautas da nossa sociedade que ninguém mais defende. Fui eu quem teve que sair da cidade. Fui eu quem teve um atestado médico debochado aqui nesta mesa quando foi lido. Foi, eu, quem teve gente olhando para onde eu estava, na padaria, estava não sei onde. Foi, eu quem teve que ficar longe da filha porque senão ela ia reprovar. Foi, eu que ajudei em tanta coisa, muitas pessoas nessa cidade e vieram para cá e me queimaram como se fosse uma bruxa. Gritaram lixo.

Nós aqui hoje temos 13 pessoas, 11 homens, uma mulher ausenta e uma que vai ser casado. Isso é a representatividade? 

A luta popular ela vai continuar comigo. A luta pelo espaço da mulher na polícia, e essa história aqui senhores vereadores, vocês têm a grande oportunidade hoje de fazer diferente. A história de São Miguel do Oeste poderia não repetir a história do Brasil. E aí eu vou trazer para vocês que me acompanha no meu caminho, para quem gosta e a quem não gosta, mas a Dilma sofreu impeachment, mas foi posteriormente inocentada pela história.

Cuidado meninas, porque nós mulheres na política é o eterno vigiai. Mas, se nós tivermos umas às outras como temos aqui hoje, nós vamos longe. A minha história não termina aqui”.

Relembre o caso

Foto: Reprodução/Redes Sociais

No dia 2 de novembro de 2022, manifestantes realizaram um ato em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, em frente ao 14º Regimento de Cavalaria Mecanizado, base do Exército local, logo após o resultado das eleições. Durante o encontro, repetiram um gesto semelhante à saudação nazista “Sieg Heil”, um tipo de reverência.

Parte das pessoas estavam vestidas de verde e amarelo, e também carregavam a bandeira do Brasil. Vídeos do ato repercutiram nas redes sociais e chamaram a atenção de órgãos como o Ministério Público. Sendo que, a ação foi julgada pelas Embaixadas Alemã, Israelense e pela Comunidade Judaica.

Em suma, compreende-se aqui quantas raízes ainda tornam o tempo presente retrógrado, violento e quantos máscaras precisam cair para continuarmos avançando por mais igualdade entre mulheres e homens. Lembrando sempre: a força feminina na política é o alicerce que impulsiona transformações salutares para toda sociedade. O machismo, o conservadorismo e todos os derivados deste sistema patriarcal irá vencer.

1 COMENTÁRIO

  1. Decisão absurda. Outros políticos pelo Brasil já cometeram acusações supostamente infundadas e nada lhes aconteceu.

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