Você gostaria da saber como funciona o processo para manter artificialmente a imagem positiva de uma determinada organização?
Vou fazer um passo a passo com uma situação concreta, que aconteceu na edição de hoje (21/7) do Jornal Nacional.
1. O principal assunto político não era a operação da Lava Jato de busca e apreensão em 15 endereços do senador tucano José Serra (SP) e empresários supostamente ligados a ele.
As denúncias contra Serra são antigas, várias já prescreveram e dificilmente surtirão algum efeito prático, porque ele está doente, idoso e em fim de carreira. Vale dizer: é carta fora do baralho.
2. O principal assunto era que a Lava Jato de Curitiba começou a ser desmontada. Já está na capital do Paraná uma equipe técnica da PGR com o objetivo de copiar todos os dados relativos às suas 71 operações e levá-los para Brasília.
A “República de Curitiba” não queria entregar esses dados, mesmo formalmente sendo submetida à PGR. Para tanto recorreu até ao STF e perdeu.
A Lava Jato perdeu assim seu grande trunfo para continuar existindo e agindo como um Estado dentro do Estado.
3. O teor da notícia deveria, portanto, seguir essa ordem.
4. Só que o JN, que sempre foi e continua sendo parceiro de Moro e do procurador Dallagnol, deu a noticia do ponto de vista que interessa apenas à Lava Jato: supervalorizou e mostrou primeiro a operação contra Serra, antes de falar sobre os técnicos da PGR em Curitiba.
Com isso, transmitiu para o seu respeitável público a impressão de que a Lava Jato continua firme e forte no combate à corrupção. Até aquele manjado fundo vermelho, com dutos de esgoto de onde saem notas de R$100, tão descaradamente usado contra o PT, foi reativado.
4. Como já está fartamente provado – vide as denúncias do The InterceptBr que o JN esconde até hoje – a Lava Jato nunca combateu a corrupção.
Ela não passou de uma operação cuidadosamente articulada para disseminar o ódio ao PT, derrubar Dilma Rousseff, prender, sem provas, Lula e viabilizar a vitória da direita, cansada de perder eleições no Brasil.
Operação que contou inclusive com a participação ilegal de agentes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e do próprio FBI. Fato gravíssimo que o JN continua escondendo do seu respeitavel público.
5. A Lava Jato cumpriu a contento o seu papel. Tanto que Moro foi fundamental para a vitória de Bolsonaro.
O que Bolsonaro não esperava era que Moro tivesse projeto político próprio e que saísse do governo atirando.
6. Se o JN fizesse jornalismo e não manipulasse para a Lava Jato, a manchete política hoje deveria ser algo como: “Lava Jato usa Serra para tentar evitar seu próprio fim”.
7. Que Serra, como vários outros tucanos, deveriam ter sido investigados, não resta dúvida. Mas como isso não foi feito na hora certa, virou pizza. O mesmo pode ser dito em relação às denúncias contra Michel Temer.
Daí essa operação de hoje só servir para enganar bobo e tentar manter acesa a mentirosa imagem de Moro como paladino contra a corrupção.
8. Por outro lado, um duelo de vida ou morte continua sendo travado entre Bolsonaro e Moro. Mas isso a Globo não mostra, especialmente agora que o JN está aliviando a barra para Bolsonaro.
Daí o complexo jogo em que o JN está metido: morde e assopra Bolsonaro, apóia a agenda ultraliberal de Guedes e se mantém firme com Moro, até o momento, seu nome preferido para 2022.
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