Malandragens da mídia corporativa. Por Sebastião Costa

Dois pecados capitais de Chavez e Maduro: passeiam no calçadão da esquerda latino-americana e se tornaram, pelas vias democráticas, presidentes de um país nadando em petróleo.

 

Por Sebastião Costa.

Corria o ano da graça de 2002 e todas as pesquisas para presidente indicando um segundo turno entre  Lula e Ciro. Não pode! Onde já se viu na América Latina dois esquerdistas disputando o segundo turno de uma eleição?
Do livro “O quarto Poder” de Paulo Henrique Amorim

FHC preocupado com aquela situação convocou uma reunião com os peso-pesados do PIB nacional – Antônio Ermírio de Morais, da Votorantim, Olavo Setúbal do Itaú, o dono do banco Safra, Joseph Safra e seu filho Robert
Foi muito objetivo:
– Eu já dei minha contribuição, derrotei Lula duas vezes, agora é com vocês
Poucos dias depois, Ciro num evento em Salvador exagerou um pouco na sua retórica ferina, e aí não deu outra.
Depois de duas semanas ininterruptas de pancadaria, o filho Robert, encomenda uma pesquisa e estava lá o pobre de Ciro na rabeira do terceiro lugar, bem distante de Serra.

Quando um juiz de primeira instância, sem uma mísera prova, manda para prisão o presidente mais bem avaliado da história, é porque a midiazona seguiu fielmente as palavras da procuradora norte-americana karoline MorenoTaxman ( palestra em Fortaleza)
– O povo precisa odiar o rei.

E foi nesse contexto que poucos brasileiros ouviram falar do veredicto da KPMG Consultoria, contratada pelo juiz Sérgio Moro para vasculhar a participação de Lula nos desvios da Petrobras

“Em resposta ao ofício supra, a KPMG Auditores Independentes vem, respeitosamente, à presença de V.Exa, esclarecer que, durante a realização de auditoria das demonstrações contábeis da Petrobras, que abrangeu os exercícios sociais encerrados no período de 31.12.2006 e 31.12.2011, efetivada por meio de procedimentos e testes previstos nas normas profissionais de auditoria, não foram identificados pela equipe de auditoria atos envolvendo a participação do ex-presidente da república, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, na gestão da Petrobras que pudessem ser qualificados como representativos de corrupção ou configurar ato ilícito”, disse a empresa.

Detalhezinho sem a menor importância na lógica lavajatista, até porque havia a divina proteção do guarda-chuva midiático

Não custa lembrar também que, para derrubar a presidente mais honesta da história, os urubus midiáticos remeteram a popularidade de seu governo lá nas profundezas dos 9%.
É essa, a tarefa da imprensa conservadora, braço efetivo de proteção e defesa dos interesses da burguesia nacional.
Só pra ratificar esse raciocínio, o projeto de reforma trabalhista no governo Temer sofreu influência direta da FIESP e CNT.

Um dos jornalistas mais respeitados do Brasil, Jânio de Freitas, em artigo na Folha fala de um encontro informal entre amigos, com a presença de FHC. Numa conversa descontraída o ex-presidente tecia extensas críticas ao PT, quando  de repente a esposa de um ex-embaixador ali presente, muito indiscreta,  toca no assunto de um apartamento na Avenue Le Foch em Paris, reduto de milionários e marajás. Precinho do AP- 44 milhões. O proprietário vem a ser, ele mesmo, o príncipe dos sociólogos, Fernando Henrique Cardoso, ave mais reluzente do ninho tucano.

Porque será que tão poucos brasileiros conhecem essa história?  E há de se perguntar, o que seria do torneiro mecânico Luiz Inácio da Silva com todo esse luxo? Angustiante, mas essa história nos remete aos 580 dias de prisão do ex-presidente, condenado  por um juiz com projeto político definido e que virou herói sob os holofotes reluzentes dessa mesma  imprensa, que tem lado, ideologia e compromissos coincidentes com a voracidade monetária da burguesia nacional.

Mas o prestígio do príncipe e seu partido político vai muito mais além do que se pode imaginar.

Uma visita ao livro de PHA, já referido, e vai-se se surpreender com a revelação de que as diretrizes do Programa de Governo do PSDB foi devidamente elaborado no escritório do advogado Jorge Serpa, à época, braço direito do todo-poderoso Roberto Marinho. Vale relembrar Galvão Bueno, em plena transmissão da Copa de 1994, repetindo/elogiando com estranha frequência  o Plano Real, base decisiva pra FHC emplacar no primeiro turno a eleição daquele ano.

O jornalista Ricardo Kotsho foi desde os tempos do sindicato, assessor de imprensa de Lula. No seu livro autobiográfico, ele conta a história do ex-sindicalista resistindo bravamente a não aceitar o convite para participar da famosa entrevista-almoço na sede da Folha. Além da pancadaria sem cabresto que ele recebia, o ‘tucanismo’ do jornal era ostensivo até nas palavras recorrentes do proprietário, Otávio Frias .

–  Esse país só vai se organizar um dia com Serra presidente.
Depois de muita insistência, o candidato a presidente jogou a toalha.
Durante toda entrevista, Otavinho, o filho, foi sempre provocativo. Em determinado momento insinuou que o PT estaria se compondo com Maluf na eleição de São Paulo. Lula já chateado, fez menção de se levantar. Kotsho segurou.
Pouco depois, o mesmo Otavinho, na época diretor do jornal, exagerou
– Como o senhor pretende ser presidente do Brasil se não sabe nem falar inglês? Aí ninguém mais segurou o candidato
Antes de sair, parou, se dirigiu ao jornalista e disparou
– Eu tenho culpa se seu candidato(José Serra) está sempre atrás nas pesquisas?
Otávio, o pai, acompanhou Lula e pediu as devidas desculpas

O ator global José de Abreu, há tempos atrás, mais precisamente no pós eleição de Dilma, jogou nas redes sociais uma afirmação contundente do dono da Abril Cultural, Roberto Civita, antiga editora da revista VEJA.
– Não consegui derrubar Lula, mas a presidente Dilma está com os dias contados. Em seis meses de governo, a presidente teve que demitir cinco ministros, acossada pelo massacre da revista, com  a devida repercussão nos outros veículos que compõem essa midiazona direitizada.
Quem salvou a presidenta foi a CPI de Carlinhos Cachoeira, preso por envolvimento no crime organizado e corrupção.
É que, descobriu-se naquela CPI que a revista era muito bem informada porque bebia nas aguas turvas da cachoeira de arapongagem do contraventor Carlinhos.

Um outro veículo que merece ser referido é logicamente o Estadão, que apoiou com muita garra o golpe militar de 64. Justiça se faça: nunca escondeu seu conservadorismo, seu anti-esquerdismo e sua defesa intransigente dos interesses da elite branca paulista.

Talvez seja redundante informar que Record, Band, SBT trocam figurinhas com os veículos acima referidos, sem a menor simpatia aos projetos de linha progressista, sem enxergar um milímetro da gigantesca desigualdade social que permite manter na conta bancária de uma minoria de privilegiados, quase toda a riqueza do país ( 05 deles botam no bolso o equivalente a renda de 50% da população mais pobre do Brasil)

E a mídia alternativa, que teoricamente iria competir/reduzir a força desses tratores midiáticos? Pura ilusão!
Os dois portais, de longe, os mais visitados pelos internautas do país, UOL e G1 mantêm uma postura editorial, conforme as ordens  de seus proprietários: A família Frias da Folha e a família Marinho do Sistema Globo. Tudo em casa.

Com relação à mídia internacional, vale referir o episódio ocorrido com o linguista norte-americano Noam Chomsky.
Numa coletiva, a jornalista pergunta ao intelectual
– Como o governo controla a imprensa?
Ele foi muito enfático
– Quem exerce influência nos veículos de comunicação são as grandes empresas do país.
E citou como exemplo, toda imprensa norte-americana sem noticiar o massacre de palestinos durante a Intifada (mulheres, idosos, crianças, não escapava ninguém) pelo exército israelense, utilizando alguns helicópteros da Força Aérea americana. Ele próprio foi reclamar aos editores do jornal  onde ele mantinha uma coluna. Besteira!
Pouco tempo depois dessa violência, o exército israelense encomendou uma frota de helicópteros à empresas radicadas nos EEUU.

O que se sabe é que, são 03, as grandes corporações que mexem os cordões da imprensa corporativa mundial: O capital financeiro internacional, a indústria bélica e as petrolíferas.

Na Ucrânia, o invadido é o herói, o invasor é o vilão; no Iraque, o invadido, Saddam Hussein foi transformado no inimigo público Nº 1 do mundo. E o invasor, sem dá a mínima para o Conselho de Segurança da ONU, seguiu com o mesmo prestígio ao redor do mundo.

Pretexto para invasão: o Iraque dispunha da bomba atômica. A MAIOR MENTIRA DA HISTÓRIA
Saldo da invasão: 460 mil mortos e um oceano de petróleo para alegria das petrolíferas americanas.

Toda essa história do Iraque nos remete, irresistivelmente à nossa vizinha Venezuela.

Hugo Chavez  foi buscar um programa em Cuba e em dois anos erradicou o analfabetismo em seu país, transferiu milhões de pobres e miseráveis para a classe média, disputou 07 eleições e referendos, venceu 06 e respeitou a que perdeu. Mas, com a colaboração decisiva dos grandes veículos de comunicação, foi derrubado em 2002 (o povão recolocou no Miraflores) e de quebra, meteram na cabeça de muita gente ao redor do mundo, que ele, o líder mais  popular da história daquele país era um ditador.

Maduro manteve as políticas sociais de Chavez, venceu 02 eleições (50,61% a 49% – 67% a 46,12%) sofreu uma tentativa asquerosa de golpe e mesmo assim, virou o vilão da história, com os abutres da mídia conservadora tatuando no seu currículo o perfil de ditador.
Juan Guaidó, golpista de quinta categoria, não só  foi transformado em herói, mas também proclamado pelas potências ocidentais (vivem vomitando democracia), presidente da Venezuela sem ter recebido um único voto, de um único venezuelano.
INCRÍVEL!!!

Dois pecados capitais de Chavez e Maduro: passeiam no calçadão da esquerda latino-americana e se tornaram, pelas vias democráticas, presidentes de um país nadando em petróleo.

Sebastião Costa é médico e apresenta toda quinta-feira o programa Reflexões na TV Roda de Conversa, de João Pessoa, Paraíba.

 

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