Por Luciane Recieri, para Desacato.info.
O primeiro trabalho da minha mãe foi numa mansão num bairro nobilíssimo de São Paulo. Ela era uma criança. A senhoura, dona de tudo, chamava minha mãe chacoalhando uma sineta de prata com úvula de ouro, coisa que a criança-minha-mãe, abominava.
Um dia, e deveria ser um belo dia, minha criança, minha mãe, não atendeu ao ruído caro da sineta. A patroa, dona do reino e de tudo que a vista alcançava por quatrocentos anos, indagou a criança sobre a falta de respeito. Minha criança-mãe respondeu à senhoura que, para seu governo, ela tinha nome. Minha futura mãe estava liberta numa bonita manhã de maio. Minha mãe tinha apenas 13 anos.
—
Leia mais: Tateando as coisas que posso te contar
—
Imagem: http://florinantiques.com/
Luciane Recieri é cientista social e escritora, em Jacareí /SP.