O caso de uma lutadora transexual brasileira que fará sua estreia no MMA vem provocando um novo debate dentro do esporte. Anne Veriato, de 21 anos, lutará contra um homem cis, Railson Paixão, de 18, na categoria de até 52kg, no Mr. Cage, evento de MMA que ocorrerá no dia 10 de março em Manaus.
O imbróglio se dá porque a decisão vai contra as mais recentes normativas dentro do esporte, que passou a acolher as atletas trans que passam pela hormonização dentro de sua identidade de gênero. As críticas aparecem também pela justificativa considerada transfóbica.
O responsável pelo evento Mr Cage, Samir Nadaf, declara que Anne na verdade é um homem: “Ela não deixa de ser um homem. Acho justo colocar homem contra homem”, declarou ele ao UOL. “Acho uma covardia homem que bate em mulher. Ela é um homem e tem pênis, pensa em fazer a cirurgia um dia. Mesmo quando tirar, disse que vai continuar lutando contra homem”.
A atleta, que passa pela hormonioterapia desde os 12 anos, tem discurso semelhante. “Eu me identifico como mulher. Não acho injusto lutar contra homem, mesmo passando por esse tratamento com hormônios femininos. Desde a minha infância, sempre competi contra homens e ganhei. meu treino é pesado e com homens. Sei que posso ganhar se treinar bastante. Seria injusto se lutasse contra mulher, pois meu nível é acima”, disse.
Detalhe: o dono do evento é o mesmo homem que empresaria a carreira de Anne. Além disso, Cristiano Sampaio, diretor executivo da Comissão Atlética Brasileira de MMA, organização que supervisiosa o esporte no país e que segue a linha de conduta da Federação Internacional de MMA (IMMAF), afirma que o evento não é regularizado.
O médico Oscar Arturo Adriazola, que trabalha em eventos de MMA, afirma que há desvantagem da atleta transexual em lutar contra um homem cis. “Como médico, isso é um absurdo”, afirmou ao UOL. “A trans é alguém que sofreu modificações hormonais onde naturalmente há uma desvantagem. Não se trata de um homem ou mulher. Chega a ser um absurdo o adversário aceitar esta luta. A mulher trans sofreu uma carga de bomba hormonal muito grande para assumir a condição feminina”, disse.
Esta é a mesma opinião do endocrinologista Alexandre Camara, do Hospital das Clínicas. “É uma luta bem injusta. Ela está, provavelmente, tomando dois tipos de medicação: uma que bloqueia a testosterona e outra a formação da testosterona. Isso muda a massa muscular, dá mais gordura. Vai lutar no mesmo peso, mas com menos explosão, menos impacto nos golpes”, finalizou.