Por Catiana de Medeiros.
O livro “Um bispo contra todas as cercas – a vida e as causas de Pedro Casaldáliga” foi lançado na segunda-feira (1º) no Sindicato dos Bancários em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O evento, organizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), reuniu deputados, integrantes de movimentos populares, representantes de diversas entidades e de organizações sociais.
A obra, da jornalista carioca Ana Helena Tavares, foi publicada este ano pela editora Gramma. Já foi lançada em Goiânia, São Paulo, Campinas, Belo Horizonte, Cuiabá e Rio de Janeiro. Com 220 páginas, trata da biografia do bispo católico Pedro Casaldáliga, nascido na Espanha em 16 de fevereiro de 1928 e radicado no Brasil desde 1968. Em 1971 foi ordenado bispo para a Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso.
Durante o ato de lançamento na capital gaúcha, Ana Helena destacou que não chegou a Casaldáliga pelo caminho da igreja, mas sim pelo seu trabalho jornalístico. Em 2010, motivada por um caso de tortura na família, a autora passou a apurar e a escrever reportagens sobre a ditadura militar. Foi numa entrevista com Dom Waldyr Calheiros, do RJ, que ela teve o seu primeiro contato com Dom Pedro.
Fruto do seu trabalho nessa pauta, a jornalista lançou em 2016 o livro-reportagem “O problema é ter medo do medo – o que o medo tem a dizer à democracia”, que traz 26 entrevistas de pessoas que lutaram contra o medo instalado no país no regime militar. Uma delas é a de Casaldáliga, a mesma que a motivou escrever, a partir de 2015, “Um bispo contra todas as cercas”.
“Me encantei pela história de Pedro. É uma pessoa que nasce de mil em mil anos. No final da entrevista, ele colocou a mão no meu ombro e falou: nunca se esqueça das causas da vida. Me tocou muito. A minha história de paixão pelo Pedro é a história de uma repórter que se apaixonou pelo entrevistado”, ressaltou.
Ana Helena contou que escolheu fazer a biografia de Casaldáliga porque ele era o mais desafiador de todos os entrevistados. O livro sobre a vida do bispo trata do seu envolvimento com direitos humanos através de 11 cercas, referindo-se às causas que ele abraçou. Entre elas a luta contra o latifúndio, a ignorância, o esquecimento e a escravidão contemporânea. “Pedro é a esperança em meio a um mundo tão desesperançado. Tenho muita honra de estar resgatando o nome dessa figura, que nas últimas décadas estava esquecida”, comentou.
“Fonte inesgotável de inspiração”
Dom Pedro Casaldáliga tem uma vida em defesa dos mais pobres, camponeses e indígenas. Na década de 70, ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). É poeta e autor de várias obras sobre antropologia, sociologia e ecologia. Adepto da teologia da libertação, adotou como lema “nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”.
Por sua luta, Dom Pedro já foi sofreu inúmeras ameaças de morte. Em 2012 teve que deixar sua residência após a intensificação das ameaças feitas por invasores de terras indígenas. Isso não o intimidou, e ainda segue lutando ao lado do povo.
Esse legado do bispo foi reforçado por outras pessoas que participaram do lançamento do livro de Ana Helena em Porto Alegre. Sidnei Santos, representando a Via Campesina, lembrou que Dom Pedro sempre contribuiu na formação dos camponeses e do MST. Em 1982, ele esteve no Acampamento Encruzilhada Natalino, que se tornou símbolo de resistência à ditadura militar na região norte gaúcha. “Dom Pedro nos ensinou a defender os bens comuns, a ter compromisso com o ser humano. Ele tomou a posição de estar ao lado dos mais fracos, dos mais pobres e mais humildes”, frisou.
Maurício Queiroz, da Comissão Pastoral da Terra, disse que o bispo é fonte inesgotável de inspiração. Paulo Farias, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), se referiu ao católico como um ser revolucionário, que na igreja decidiu usar chapéu de palha à mirta. Já o ex-governador Olívio Dutra definiu Casaldáliga como referência da luta popular e comunitária, pensador do mundo, defensor da justiça, da igualdade e da fraternidade.