Lideranças da região e os riscos da “bomba Brasil”. Por Raul Fitipaldi.

 

Gabriel Boric e Joe Biden. Reprodução de El Mostrador/CL

Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.

Numa região historicamente conturbada por golpes de estado violentos e, ultimamente, por modelos de golpe combinados, com participação de parlamentos, mídias e poderes judiciais, que em alguns casos não excluem os tipos clássicos, a situação que apresentou o Brasil ao mundo no último domingo 8 de dezembro alertou a líderes da região. Do Canadá até o Chile, diversos governos, tanto do campo progressista, como os do Chile, da Colômbia e de Honduras, quanto conservadores, como o governo de Lacalle Pou do Uruguai, em conjunto com os governos estadunidense e canadense, decidiram convocar a Organização dos Estados Americanos para avaliar os riscos da situação brasileira para o restante da região.

Há um temor geral e justificado de que a lavareda bolsonaro/trumpista se alastre por toda parte. Há dois focos explosivos na América do Sul, Peru e o Brasil. No caso do Peru, a mídia conservadora e oportunista continental resolveu simplificar, para sua conveniência, e colocar tudo na conta do presidente Pedro Castillo. Na verdade Castillo, traído, quis se antecipar do golpe de estado que o parlamento e os setores midiáticos e judiciais tentavam lhe impor desde o primeiro dia do seu mandato. Foi substituído por Dina Boluarte que de imediato negociou com a máfia fujimorista e as oligarquias locais. O golpe foi contra Castillo e já produziu dezenas de mortos nos protestos populares diários para que seja convocada uma nova eleição e Castillo seja liberado da prisão.

Assim como no Peru, desde o primeiro dia de mandato, o governo Lula não tem descanso. Não são situações separadas. Há uma arquitetura golpista de corte fascista e nazista que reúne as figuras mais asquerosas e canalhas da região, inspiradas no trumpismo, mas, como no caso do bolsonarismo, vai além de Donald Trump e Bolsonaro e está presente em outros países do continente americano.

No Chile, o presidente Boric sofreu as primeiras agruras com a derrota acachapante que a direita e ultradireita lhe fizeram sofrer na votação que tentava mudar a constituição pinochetista. Aqui do lado, na Bolívia, as hostes violentas de Santa Cruz de la Sierra, comandadas pelo seu governador fascista, o branco, separatista e racista, Luis Fernando Camacho, não têm descansado um dia de agredir o governo de Luis Arce, inconformadas com a derrota eleitoral que superou o golpe que tinha colocado no poder a ditadora Janine Áñez. A direita e ultradireita não dão um segundo de respiro ao governo progressista de Xiomara Castro. A região está de novo entre chamas e maus ventos.

Nesse clima, o governo frágil de Biden, (só mantido pelos benefícios da guerra da OTAN, comandada por Estados unidos, contra a Rússia), tem medo de que o fogo do pátio traseiro avive as faíscas nos jardins de Washington. O trumpismo, violento e fascista, está bem vivo. E, como falamos no artigo de ontem , neste portal (https://desacato.info/florida-a-lixeira-politica-das-americas-por-raul-fitipaldi/), desde a Florida, com epicentro em Miami, os infames que lá se exiliaram depois de destruir diversos países da região, comandados por canalhas como o senador Marco Rubio, estão à espreita para voltar a atazanar, seja por via eleitoral ou por via golpista, qualquer país, inclusive os Estados Unidos.

Desativar a bomba bolsonarista que explode numa espécie de moto-contínuo, sem saber-se quando vai ser desativada definitivamente, e pior, se um dia o será, suscita nos governos da região um olhar atento e rápido, para contribuir na desativação abrigando o governo Lula e curando-se em saúde.

Vale lembrar que a OEA continua sendo, como nos ensinou Fidel Castro, um escritório de colônias do imperialismo norte-americano, no entanto, a correlação de forças mudou muito, e os Estados Unidos e o Canadá têm um cenário não tão ameno com era antes das posses de Arce, Petro, Xiomara Castro, Boric e agora Lula.  Vamos aguardar se outras organizações regionais mais progressistas, como a Unasul e a Celac, reavivadas com as vitórias desse campo, também tomam um rápida posição, com base nos integrantes do Grupo de Puebla que sempre estiveram ativos. Fiquemos atentas e atentos.

Raul Fitipaldi é jornalista e co-fundador do Portal Desacato e da Cooperativa Comunicacional Sul

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