Líder do governo quer nova Constituição porque a atual ‘só tem direitos’

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Da Coluna de Leonardo Sakamoto no UOL.

Pegando carona no plebiscito realizado no Chile, neste domingo (25), que votou por enterrar a Constituição da ditadura militar e convocar uma Assembleia Constituinte, o líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), defendeu que o mesmo seja feito por aqui. Acredita que a nossa carta atual “só tem direitos” para os cidadãos e sem “deveres com a nação”, e que isso nos levou a uma crise financeira.

“Eu pessoalmente defendo nova Assembleia Nacional Constituinte, acho que devemos fazer um plebiscito, como fez o Chile, para que possamos refazer a Carta Magna e escrever muitas vezes nela a palavra deveres, porque a nossa carta só tem direitos e é preciso que o cidadão tenha deveres com a nação”, disse o aliado de Bolsonaro. O registro da declaração, feita em um evento jurídico nesta segunda (26), é do jornal O Estado de S.Paulo.

Primeiro, o paralelo com o Chile é despropositado. O Brasil já convocou uma Assembleia Constituinte na década de 80 para uma nova Carta Magna pós-ditadura. Além disso, o grande problema da Constituição de 1988 não é estar ultrapassada. Foi nunca ter sido efetivada plenamente, seja pela falta de regulamentação, seja pelo não cumprimento da letra escrita.

Neste momento, em que a democracia representativa está em descrédito, em que políticos defendem os próprios interesses ao invés das demandas e necessidades do povo, em que lideranças populistas se colocam acima das leis, ela segue sendo uma boia de salvação a quem deseja uma sociedade mais justa.

Porém, essa boia está na mira de quem quer reduzir a parte do Estado que deveria priorizar os mais pobres para manter a parte Estado que apoia e subsidia os mais ricos.

Lobistas sussurram nos corredores do Congresso Nacional, cutucam daqui e dali, visando a mudanças que diminuam a proteção trazida pelo artigo 7º da Constituição, que trata dos direitos dos trabalhadores. Outros pressionam pela revisão das regras na área fundiária, reforçando a necessidade de se garantir o direito de propriedade mesmo sem função social. Isso sem contar os que querem alterações profundas para que a concentração de riqueza seja, oficialmente, pilar de nossa democracia. Noves fora, grupos religiosos que sonham transformar o país em uma teocracia, proibindo a interpretação do Supremo Tribunal Federal a favor dos direitos previstos em 1988.

(…)

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.