Por Patrícia Martins.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) está mobilizando os profissionais que fazem a cobertura do Planalto e do Congresso Nacional para um protesto na Esplanada dos Ministérios em defesa do jornalismo e da democracia e em repúdio aos ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O ato está marcado para o dia 18 de março.
Veja o vídeo de convocação para o ato:
? O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF convoca a categoria a participar da manifestação no dia 18/3, em defesa dos serviços públicos, da educação, pela democracia e contra os ataques que os jornalistas e as jornalistas vêm sofrendo. Basta! ? pic.twitter.com/DrN9ulPE9B
— Sind. Jornalistas DF (@sjpdf) March 5, 2020
Na manifestação, os jornalistas pretendem repetir o ato histórico feito por fotógrafos que cobriam o Palácio do Planalto (onde despacha o presidente da República) em 1984. Em protesto contra o tratamento dispensado pelo presidente da época, general João Figueiredo, cruzaram os braços e abaixaram as câmeras, dando origem à imagem histórica destacada acima.
“Os ataques do Bolsonaro contra a imprensa infelizmente nos fazem recordar muito a esse momento da ditadura militar em que tinha um enorme desrespeito e censura com os jornalistas e a imprensa. É necessário relembrar esse momento, não só o que acontecia, mas também a resposta dos jornalistas à isso”, esclareceu Juliana César Nunes, diretora do Sindicato.
Juliana explica que o sindicato e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que endossa o protesto, atendem a uma reclamação dos profissionais da área, que são frequentemente alvos de ofensas e de ironias de Jair Bolsonaro ao exercerem o ofício. Segundo ela, “a categoria está muito indignada com o desrespeito que vem ocorrendo”. A data escolhida tem como objetivo coincidir com o dia escolhido por vários movimentos de oposição para se manifestar “em defesa dos serviços públicos, da educação e dos direitos”.
Ataques sistemáticos
A diretora explica que os ataques à imprensa não são casos isolados e sim sistemáticos e que o ocorrido na última quarta-feira (4), em que um humorista fantasiado de presidente da república distribuiu bananas e debochou de jornalistas na saída do Palácio Alvorada foi a “gota d’água”. “É um acúmulo de algo que já estava muito engasgado e latente na categoria. Acredito que tenha sido a gota d’água”, pontuou.
Os ataques a jornalistas e a veículos de imprensa cresceram 54,07% no primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), aponta levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). O número passou de 135 em 2018 para 208 no ano passado. A maioria deles (116) partiu da própria presidência. Em dezembro do ano passado,por exemplo, Bolsonaro disse a um repórter que ele teria uma “cara de homossexual terrível“.
No mês passado, após reportagens das jornalistas Vera Magalhães, do Estado de S. Paulo, e Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, serem publicadas, o chefe do Executivo partiu para a agressão verbal. Ele chegou a dizer para a colunista Vera tomar “vergonha na cara” e ofendeu com insinuações sexuais a repórter Patrícia “ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, ironizou.
O jornalista e fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa, diz que o tema não interessa apenas aos profissionais de imprensa. “Jornalismo e democracia dependem um do outro. Sem democracia, não há jornalismo, assim como é impossível exercer plenamente a atividade jornalística num país em que os princípios democráticos são a todo tempo desrespeitados”, resumiu.