“Jesus contra Fidel: a operação incomum da CIA em Cuba”

Imagem: Cerebro Digital

Por Erick Sumoza.

Já vimos que a CIA, ao longo dos anos, realizou operações tão curiosas que parecem saídas de um romance de ficção científica, como usar gatos espiões para ouvir conversas russas. No entanto, poucas se assemelham à que eles tentaram usar durante a Guerra Fria: usar Jesus como força de choque.

Assim, em 1962, os Estados Unidos tiveram a intenção de desestabilizar o regime de Fidel Castro através de uma estratégia singular: planejaram que um submarino lançasse fogos de artifício e projetasse imagens de anjos no céu sobre Havana, insinuando a Segunda Vinda de Jesus e, assim, incitando uma rebelião entre a população cubana.

Usar Jesus para ganhar uma guerra

Em 1975, o ex-agente da CIA Thomas Parrott foi chamado para testemunhar perante o Comitê Church do Senado dos EUA. Seu depoimento abordou as operações de inteligência realizadas pelo governo em Cuba, com foco especial na Operação Mangusto.

Após o fracasso da invasão da Baía dos Porcos em abril de 1961, o governo Kennedy não abandonou seu objetivo de derrubar Castro. Dessa vez, porém, a estratégia mudou da ação direta para táticas de inteligência, terrorismo e subversão. Assim nasceu, em novembro de 1961, a Operação Mangusto, um programa clandestino que englobava todas essas ações.

Edward Lansdale, uma figura de confiança de John F. e Bobby Kennedy, liderou a Operação Mangusto. Lansdale, já experiente em operações do Pentágono, provou ser a escolha ideal devido à sua abordagem não exclusivamente militar (ele se opôs à estratégia da Baía dos Porcos), embora tivesse o apoio total da CIA e das forças armadas, conforme necessário.

Entretanto, Lansdale foi considerado um indivíduo não convencional tanto em seu tempo na CIA quanto no Pentágono. Para a Operação Mangusto, ele adotou o slogan “Eliminação por iluminação”. Ele parece ter levado essa ideia ao extremo, pois, de acordo com o testemunho de Parrott em 1975, uma das ideias propostas por Lansdale era extremamente extravagante: a operação “Iluminação por Submarino”.

Anjos no céu

Essa operação, que foi planejada para ocorrer de fevereiro a novembro de 1962, consistia em espalhar o boato em Cuba de que Jesus se opunha a Fidel e que este tinha um relacionamento com o Anticristo. Além disso, a ideia de que a Segunda Vinda de Jesus estava próxima foi espalhada para confirmar essa afirmação.

Depois que o boato se enraizou na população, o plano era que um submarino se aproximasse da Baía de Havana em 2 de novembro, logo após o Dia de Todos os Santos. Naquela ocasião, seriam lançados foguetes coloridos e, se o céu estivesse nublado, imagens de anjos seriam projetadas nas nuvens.

Lansdale alegou que essa exibição excepcional provocaria uma insurreição entre a maioria católica da ilha, derrubando Castro por meio do fervor religioso e da ajuda de Jesus.

Embora a operação nunca tenha sido realizada, um documento desclassificado de outubro de 1962, que veio à tona após a morte de Lansdale, parecia confirmar a alegação de Parrott. Embora esse documento não mencionasse especificamente a ideia da Segunda Vinda ou de Jesus, ele afirmava que “os foguetes teriam um impacto significativo sobre a supersticiosa população cubana”.

Parrott pode ter exagerado em seu relato, ou Lansdale pode ter evitado deixar registros escritos de suas ideias em reuniões secretas do Pentágono. Mesmo assim, é crível, dadas as ideias rebuscadas que a inteligência dos EUA teve no passado.

 

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