Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.
Ainda sobre o racismo do Itaú…
Fila de um banco tão gelado que consegue ser gelado às 14h de uma quarta-feira de janeiro. A fila é fila e o tempo passa enquanto não nos dão a oportunidade de resolver nossos problemas. Vai um. Vai outro. E a funcionária ri. É simpática com os que aguardam. Ouve com atenção e olha cada cidadão em sua necessidade. Um senhor se aproxima e suas dúvidas são gentilmente explicadas.
– É normal, senhor. Mas estamos aqui pra isso. Para o que o senhor precisar.
Satisfeito e com o problema resolvido, o senhor agradece e parte, quem sabe, planejando tecer elogios online à funcionária.
Depois atende um sujeito alto que se esforça para parecer importante. Seu cabelo penteado para atrás fica do mesmo jeito sempre de tanto que o sujeito, para cada palavra, o ajeita. O sujeito é grosso, mexe as mãos com raiva e indica, já que é importante, também conhecer gente importante. A funcionária não se indigna. Resolve o problema do sujeito alto que se diz importante e sorri para o próximo, não sem antes comentar:
– Coitado! Deve estar num dia difícil. Que fique tudo bem.
E no vai e vem, outro cliente. Mostra papéis, fala da vida, não sabe o que fazer. Recebe um belo sorriso como sinal de tudo bem e é conduzido quase pelas mãos para o que precisa. Agradece e segue feliz. Ciente que o banco amarelo que pertence ao Brasil é quase uma casa. E, se necessário, voltaria e seria atenciosamente atendido. A funcionária, feliz, segue resolvendo problemas. Resolve a senha perdida, informa os procedimentos para se endividar com juros baixos, oferece um café (ou água) e conta dos filhos universitários.
Seu sorriso sumiu quando o próximo cliente era um homem negro. A “funcionária sorriso” guarda apressada os itens pessoas e sussurra:
– Que Deus ajude. Sonhei com assalto essa noite.
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Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor, autor do livro “O Dia e o Dia Que o Mundo Acabou”, disponível em Edfross.
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