Intoxicações alcoólicas voltam a matar mais do que overdoses por drogas

Aumento do consumo entre mulheres e faixas etárias mais velhas é considerado preocupante, segundo relatório A Situação do País em Matéria de Álcool.

Por Ana Maia.

O número de mortes por intoxicação alcoólica aumentou em 2016 face aos dois anos anteriores. Segundo o relatório A Situação do País em Matéria de Álcool, que é apresentado nesta quarta-feira, no Parlamento, as intoxicações alcoólicas foram responsáveis por 45 mortes. As overdoses por drogas mataram 27 pessoas.

Este ponto da situação sobre o que se passa no país em matéria de consumos refere um aumento de doentes em tratamento no ambulatório da rede pública por problemas relacionados com o consumo de álcool, mas uma diminuição de internamentos em unidades de alcoologia.

Segundo o documento, elaborado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), em 2016 o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses registou 810 óbitos positivos para o álcool e com informação sobre a causa de morte (um número superior aos 644 do ano anterior). Destes, 33% foram atribuídos a acidente (incluindo os de viação), 33% a morte natural, 17% a suicídio e 6% a intoxicação alcoólica. Esta última percentagem traduz-se em 45 óbitos, valor igualmente superior ao dos dois anos anteriores: 37 em 2015 e 44 em 2014. De destacar ainda o facto de 53% das intoxicações apresentarem resultados positivos só para o álcool.

Ao contrário do que aconteceu em 2015 e repetindo o cenário de 2014, as intoxicações alcoólicas mataram mais do que as overdoses por drogas. Em 2016, registaram-se 27 overdoses por drogas, uma descida substancial face ao número verificado em 2015 em que foram 40. Em 2014 tinham sido 33.

De acordo com o IV Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral (2016/2017), realizado na população entre os 15 e os 74 anos residente em Portugal, as prevalências de consumo de qualquer bebida alcoólica foram de 85% ao longo da vida, 58% nos últimos 12 meses e 49% nos últimos 30 dias. Entre os consumidores actuais, refere o relatório, o consumo diário ou quase diário de alguma bebida era de 43%, com 35% dos consumidores a ingerirem diariamente vinho e 15% cerveja.

Em comparação com 2012, destaca o relatório, apesar da relativa estabilidade das prevalências de consumo recente e actual, houve um aumento da frequência do binge drinking (consumo excessivo de bebida num curto lapso de tempo) e um agravamento dos consumos de risco ou dependência.

O inquérito salienta ainda evoluções negativas “preocupantes” entre as mulheres e as faixas etárias mais velhas, com um aumento dos consumos.

Mais doentes em tratamento

O número de doentes com problemas relacionados com o uso de álcool em tratamento subiu, para 13.678 utentes. Dos que, em 2016, iniciaram tratamento, 686 corresponderam a readmissões e 3759 a novos utentes. “Constata-se desde 2009 um acréscimo do número de utentes em tratamento, registando-se no último quadriénio uma tendência de aumento dos novos utentes (+ 12% entre 2012 e 2016) e, em contrapartida, uma diminuição dos utentes readmitidos (- 45% entre 2012 e 2016).”

Já no que diz respeito aos internamentos em unidades de alcoologia/unidades de desabituação houve um decréscimo, mantendo-se a tendência crescente de internamentos em comunidades terapêuticas. Quando aos internamentos hospitalares com diagnóstico principal atribuível ao consumo álcool, constatou-se uma diminuição de 22% entre 2012 e 2016.

Desde 2015 que a lei do álcool foi reforçada considerando-se os 18 anos a idade mínima legal para o consumo e venda de todo o tipo de álcool. Mas a fiscalização baixou. “Em 2016 foram alvo de fiscalização 12.193 estabelecimentos comerciais (- 22% face a 2015). Foram aplicadas 89 contra-ordenações relacionadas com a disponibilização ou venda a menores, e 179 relacionadas com a afixação de avisos”, refere o relatório.

De acordo com o Global Information System on Alcohol and Health para 2016 – citado pelo SICAD –, em Portugal o consumo de álcool per capita (acima dos 15 anos) era de 10,6 litros de álcool puro por ano, valor próximo do da média europeia (10,3 litros). Nesse ano venderam-se cerca de 4,8 milhões de hectolitros de cerveja e 84,4 mil hectolitros de bebidas espirituosas, mais do que se verificou em 2015.

1 COMENTÁRIO

Deixe um comentário para Tali Feld Cancelar resposta

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.