Por Roberto Naime.*
Numa primeira abordagem se conceitua atividades que integram lavoura, pecuária e florestamento como uma integração fundamental para a recuperação de áreas degradadas, pastagens enfraquecidas e solos empobrecidos. Mas é muito mais que isso. A sinergia propiciada pela integração dos diferentes ambientes produtivos, permite reestabelecer o equilíbrio homeostático natural, além de propiciar a produção de grãos, fibras, carne, leite e até a geração de agroenergia.
De imediato ocorre a melhoria dos solos, recuperados fisicamente e novamente enriquecidos com nutrientes fundamentais para a composição vegetal. A criação conta com melhores pastagens e o florestamento permite harmonizar as atividades. Sem falar que a produção diversificada, minimiza os riscos com eventos climáticos ou determinações de preço por fatores de mercado não previsíveis.
A integração entre estes vários elementos, tende a reduzir as necessidades de aplicação de agroquímicos, pois as fezes de animais recompõe os nutrientes que os solos necessitam, evitando a necessidade de abertura de novas áreas para extração pecuária de qualquer natureza, pois espaços para criação de animais de médio e grande porte são garantidos. As técnicas e sistemas de integração são extremamente variados (MACEDO, 2.009), mas sempre tendem a possibilitar melhor manejo da propriedade rural pela integração e complementariedade das atividades e aumento da biodiversidade.
Também os controles erosivos são beneficiados pela adoção de técnicas de plantio direto que protegem os solos da ação erosiva da água da chuva agindo diretamente sobre as partículas do terreno. Em sistemas que associam práticas conservacionistas com plantio direto, os sistemas de integração entre lavoura, pecuária e floresta são uma alternativa muito viável tanto em termos econômicos como sociais e ambientais, cumprindo as determinantes vetoriais da sustentabilidade.
Inegavelmente sustentabilidade é um tema atual e que veio para ficar. O Brasil tem passado por um grande ciclo de evolução no agronegócio e na agricultura familiar também, de forma que os produtos gerados no chamado “campo” tem grande importância hoje em todos os tipos de indicadores que se considere.
O agronegócio provê também atividades do mercado interno, mas hoje é grandemente associado a atividades de exportação, enquanto a agricultura familiar é mais relacionada com abastecimento interno. Mas independentemente da fonte geradora, ocorre no país além de elevação das exportações de grãos e proteínas animais, o aumento na oferta de alimentos com melhor qualidade e menor preço. Embora a segurança alimentar ainda esteja muito associada a renda da população.
No entanto, conforme assevera MACEDO (2.009), os gastos com excessivo preparo do solo e a prática de monoculturas e a degradação das áreas de pastagens são caracterizados. Já se falou que a resistência dos ecossistemas equivale ao somatório da resistência de suas espécies componentes, vegetais e animais. Ou seja, a reprodução do meio natural original. É como se fossem os elos constituintes de uma corrente. Não adianta todos serem de material resistente, se um elo é formado de material vulnerável. Neste elo arrebenta a corrente. Assim são os frágeis e muito vulneráveis, ecossistemas naturais.
Fazendo uma aliteração quase poética, os bons sistemas naturais são constituídos por todos os elementos vegetais e animais adaptados. Cachorro, gato, avenca, samambaia, boi, galinha, papagaio e mais tudo que se imaginar. A resistência de um elemento se transfere ao sistema e protege o conjunto. Os primitivos indígenas já sabiam isto. Por isso cultivavam pequenas hortas com todas as espécies misturadas. E por isto também, como destaca MACEDO (2.009), sistemas contínuos com monoculturas, aumentam a ocorrência de pragas e doenças, tais como percevejo castanho, nematoides ou ferrugem da soja. O mesmo autor destaca que a reversão deste cenário pode ser obtida pela implantação de técnicas de plantio direto associadas à rotação de culturas em sistemas de integração de lavoura com pecuária e porque não dizer, também com florestas.
As adequadas abordagens técnicas, como a realizada por MACEDO (2.009) que argumenta corretamente que as condições climáticas e edáficas tem que serem compatibilizadas com os tipos de palhadas remanescentes nos solos para obtenção da plenitude das condições de produção, não invalidam o fato de que está se tornando cada vez mais urgente a preocupação com a necessária reconstituição dos “habitats” naturais e a manutenção plena das condições de biodiversidade para a própria recomposição do equilíbrio dos biomas.
Várias culturas tem sido utilizadas dentro da integração e inúmeros sistemas são detalhadamente descritos (MACEDO, 2.009) sendo referidas a soja, o milho, o milheto, o sorgo, o nabo forrageiro, o girassol e também algodão e diversas espécies de gramíneas forrageiras tropicais, se destacando as braquiárias, consorciadas ou não.
Os sistemas de integração possibilitam em muito a melhoria das condições ecossistêmicas, além de produção integrada. Os sistemas integrados possibilitam também a plena recuperação e manutenção das condições dos solos, tanto em termos físicos, quanto químicos e biológicos. Todo este conjunto melhora as condições de equilíbrio, a ocupação das populações e por consequência, melhora as condições de renda.
Se tem consciência que estas modificações de grande alcance não ocorrem da noite para o dia. Mas é preciso planejar e ir alterando esta realidade, para que se possa no futuro ter melhor qualidade ambiental e possibilitar melhor qualidade de vida para todos os agentes populacionais envolvidos.
MACEDO, M. C. M. Integração lavoura e pecuária: o estado da arte e inovações tecnológicas R. Bras. Zootec., v.38, p.133-146, 2009
*Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Foto: Embrapa
Fonte: EcoDebate