Iêmen: chanceler pede intervenção militar de países árabes e presidente foge de barco

Em meio à crise com houtis e sunitas, ministro da Defesa foi sequestrado e tem paradeiro desconhecido; palácio presidencial foi bombardeado e saqueado

O presidente do Iêmen, Abdo Rabbo Mansour Hadi, deixou o país de barco nesta quarta-feira (25/03), após o grupo xiita dos houthis bombardear o palácio presidencial. O grupo também anunciou o sequestro do ministro de Defesa, Mahmoud al Sobeihi, cujo paradeiro é desconhecido, e o controle da base aérea de al-Anad, no sul do país.

Diante do cenário de rápido avanço dos houthis, o ministro das Relações Exteriores, Riad Yassin, pediu que os países árabes realizem uma intervenção militar para frear o grupo.

Também foi enviada uma carta à ONU com requisição semelhante.

Soldados houthis realizam homenagens durante funeral de vítimas de atentado terrorista
Soldados houthis realizam homenagens durante funeral de vítimas de atentado terrorista

O pedido de intervenção foi feito por Yassin em um encontro no Egito com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil Elaraby, conforme afirmou às emissoras árabes Al Jazeera e Al Arabiya.
Nesta quinta-feira (26/03) será realizada uma reunião com diplomatas dos países árabes para estudar a situação. De acordo com ele, a intervenção dependerá do que “especialistas e responsáveis dos países” decidam.

Após o ataque à capital Sanaa, em 21 de fevereiro, Hadi estabeleceu a sede do governo em Áden. Nesta cidade, voltou atrás da renúncia que havia sido anunciada anteriormente e afirmou que continuava sendo o presidente legítimo do país, em oposição ao determinado pelos houthis, o que fez agravar o conflito.

Juntamente com o controle da base aérea e o aeroporto de Áden, os houthis voltaram a bombardear o palácio presidencial, que foi saqueado por moradores locais.

Diversas pessoas participam de um protesto contra a açao dos houthis
Diversas pessoas participam de um protesto contra a açao dos houthis

Diversas pessoas participaram hoje de um protesto contra a açao dos houthis
De acordo com agências internacionais de notícias, o país está à beira de uma guerra civil, tendo como atores além dos houthis, o grupo EI (Estado Islâmico) – que recentemente realizou um atentado contra os houthis, matando mais de 120 pessoas – e a Al Qaeda no Iêmen, um dos principais braços do grupo e que assumiu a autoria do atentado contra a revista francesa Charlie Hebdo.

EUA e Irã

De acordo com o chanceler do Iêmen, pilotos do Irã participam dos bombardeios que estão sendo realizados pelos houthis. “Todos os países do mundo apoiam a legitimidade de Hadi, menos o Irã”, criticou Yassin. A informação no entanto, não é confirmada por outras fontes e a Casa Branca, por meio de seu porta-voz, John Earnest, disse que não está “claro” que os houthis estão sendo apoiados por Teerã.

A situação do mais pobre dos países árabes se agravou após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciar, em setembro, uma estratégia antiterrorista como parte da campanha realizada contra o EI no Iraque e na Síria.

O presidente Hadi colaborava com os Estados Unidos, apesar de essas incursões com drones terem provocado a morte de dezenas de civis no país – foram pelo menos 117 ataques contra posições do grupo Al Qaeda no Iêmen desde 2001. A Arábia Saudita também oferecia suporte ao mandatário.

Hadi assumiu o poder em 2012, um ano após a revolta popular, em meio à Primavera Árabe, que tirou Ali Abdalá Saleh do poder, após mais de 30 anos. Ele também era aliado dos EUA contra a Al Qaeda.

Devido ao fato de os grupos houthis terem tomado o controle das forças de segurança, os Estados Unidos tiveram que suspender as operações antiterroristas realizadas no país. Porém, os xiitas houthis são contra a sunita Al Qaeda, mas também são contrários a Washington, o que dificulta as estratégias operadas por este país.

Origem

O grupo tem origem em uma seita e chama Ansarullah, que significa “Partidários de Deus” e tem como inspiração o Hezbollah libanês, mas popularmente segue sendo conhecido como houthis. O propósito inicial do grupo era de melhorar as condições de vida da minoria zaydí – vertente do Irã seguida por um terço dos yemitas.

Dezenas de pessoas participaram hoje do funeral dos mortos durante o atentato terrorista contra houthis reivindicado pelo EI.

Mas, dirigentes transformaram o movimento evangelizador na milícia mais poderosa do país e que, além da facção armada, também realiza trabalhos sociais.

A politização do grupo ocorreu a partir da invasão dos Estados Unidos no Iraque em 2003. Durante os protestos da Primavera Árabe, os houthis se uniram às manifestações pacíficas para que Saleh deixasse o poder. Após a derrubada, o grupo pediu um boicote do referendo que designou Hadi como presidente.

Analistas estimam que a milícia conte hoje com cerca de 100 mil homens armados e que detenha o controle de importantes poços de petróleo e gás iemitas.

Fotos: Agência Efe

Fonte: Opera Mundi

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