Honduras: Não se pode confiar num processo de votação sério e transparente

ROBERTO QUESADA EL EQUILIBRISTA 2

Português / Español

Entrevista com o jornalista e escritor hondurenho Roberto Quesada*

Por Raul Fitipaldi para Desacato.info

Desacato – Qual é teu sentimento, como escritor e como cidadão hondurenho que mora no exterior, sobre o presente processo eleitoral em Honduras?

Roberto Quesada – É a oportunidade para começar com a transição do Estado à vida democrática, pois este governo em retirada, de Porfírio Lobo, não tem sido senão a continuação do golpe. Lobo nunca mandou, nunca fez nada. Inclusive, ele se adjudica que seu governo conseguiu que Honduras fosse reconhecida internacionalmente depois da expulsão dos organismos internacionais, mas não é completamente verdadeiro; deve isso à permissão e à imposição que lhe fizeram os Estados Unidos, e a boa vontade do presidente Manuel Zelaya para que Honduras não continuasse isolada.

Portanto, até poderia acontecer uma transição real, mas, só se permitem um processo eleitoral transparente, livre. Algo que está difícil, pois, o governo e a ultradireita fazem muitos movimentos nos quais se visualiza a intenção de ganhar as eleições com fraude ou como for. Até criaram uma Polícia Militar, que já está nas ruas, e que não tem outro propósito que intimidar o povo e estar pronta para a repressão numa eventual fraude.

No entanto, mantém-se a esperança de vencer a fraude se o povo assistir maciçamente às urnas, e se houver vigilância nacional e internacional.

O Departamento 19

Desacato – Explique-nos o que é o Departamento 19.

R.Q.- Honduras tem 18 departamentos, em outros lugares se lhes chama estados, como no caso dos Estados Unidos. (No Brasil também a divisão federal é por estados, já no Uruguai o país está dividido em departamentos. N. da R.). O D19 o conformamos os hondurenhos e hondurenhas que moramos no exterior. Não é uma novidade, pois já antes, noutros países aconteceu de boa quantidade de imigrantes assumirem fazer parte de uma espécie de Departamento ou Estado no exterior do seu país, ou mesmo afirmaram ser parte da primeira ou segunda cidade (Em função da quantidade de migrantes no exterior ser em muitos casos que os habitantes das grandes cidades da sua nação. N. da R.). Nós criamos formalmente o D19 por causa do Golpe de Estado, e nos constituímos em nível nacional dentro dos Estados Unidos de acordo aos estatutos da Frente Nacional de Resistência Popular e do Partido Libre (Liberdade e Refundação que lideram Xiomara Castro e José Manuel Zelaya Rosales. NR). Custou bastante que em Honduras se entendesse este conceito, mas finalmente fomos juramentados em ata que consta na memória do Partido Libre e em nossos arquivos, naturalmente. Na atualidade a coordenadora nacional do D19 Partido Libre é Lucy Pagoada – o subcoordenador é Oscar Armando Flores e o Secretário Geral é Angel “Tito” Meza. O D19 Partido Libre é constituído por coletivos ao longo dos Estados Unidos.

Tem sido uma luta forte obter este reconhecimento, pois historicamente o imigrante foi desprezado, e nas datas mais recentes tem sido visto como provedor de remessas, mas como um cidadão de terceira. Agora a coisa está mudando e a candidata do Partido Libre, Xiomara Castro, se tem pronunciado a respeito com a promessa de que o D19 figurasse com voz e voto na nova constituição.

“A Missão de Honduras na ONU é tão golpista quanto Micheletti”

Desacato – Você conhece muito bem os corredores da ONU, que sensação produziu a situação de Honduras, depois do Golpe de Estado, nessa organização?

R.Q.- No início, de colocar Honduras como um dos países mais atrasados da América Latina, mas, também, ascendeu os alarmes de muitos países para não voltar para o passado golpista da América Latina que impôs tantos “presidentes”, na sua maioria com a ajuda e a aprovação dos Estados Unidos. E, obviamente, a sotto você sabe-se que a Missão de Honduras ante a ONU é tão golpista quanto o tristemente célebre Micheletti.

“A nova sede dos golpes está em Miami”

Desacato – O que representa para os hondurenhos que moram nos Estados Unidos a candidatura de Xiomara Castro?

R.Q.- Não posso falar por todos, primeiro porque são muitos e segundo por serem tão diversos. A maquinaria golpista trabalhou muito dentro dos Estados Unidos, especialmente a nova sede dos golpes para a América Latina, localizada em Miami, e lhe botaram muito na cabeça aos imigrantes hondurenhos contra o presidente Zelaya, tanto que em lugares como Miami e Jersey City (Nova Jersey) festejaram o Golpe de Estado. Desidiotizar estes compatriotas não tem sido fácil, uns poucos empreendemos essa tarefa titânica e tivemos resultados bastante positivos. As calúnias e injúrias contra Zelaya, naturalmente, afetaram diretamente sua esposa e família. Mas agora cada vez mais se escuta que tem crescido a aceitação de Xiomara, e já, para muitos, se converteu na esperança de derrotar o bipartidismo que fez da corrupção sua religião, o que já não suporta a maioria do povo hondurenho.

“Os artistas estão com LIBRE”

Desacato – Você esteve apresentando seu mais recente livro em Honduras semanas atrás, como se está vivendo o processo eleitoral, tanto em nível dos intelectuais como da população em geral, no território hondurenho?

R.Q.- Sim, se trata de um romance, se titula O Equilibrista e está publicado pela editora Alfaguara. Isto foi a princípio de outubro, e tem ambiente eleitoral, mas também tem muita preocupação. Muita gente que trabalha no governo ou na empresa privada teme expressar simpatia pelo Partido Libre ou por Xiomara, pelo risco de perder seu emprego.

No caso dos intelectuais, majoritariamente estão com o Partido Libre e com Xiomara. Os mais prestigiosos escritores e escritoras, como José Adán Castelar, Helen Umaña, Julio Escoto, Jorge Miranda, Patrícia Murillo, Galel Cárdenas, Melissa Merlo, músicos como Pavel Núñez e seu famoso Café Guancasco, pintores, gente do teatro, enfim… noventa e pouco por cento dos artistas está com Libre.

“A gente procura uma mudança real”

Desacato – O que aconteceria se triunfasse novamente a direita conservadora, e qual seria a diferença se vencesse o partido Libre com Xiomara Castro?

R.Q.- Todo o panorama (e sou muito objetivo) aponta que a única possibilidade que tem a ultradireita é pela via da fraude, pois viajei dentro de Honduras e você pode realizar sua pesquisa pessoal ao conversar com as pessoas (sem se identificar) e te surpreende como o povo está contra o governo. As pessoas andam na busca real de uma mudança, e neste sentido tem se jogado nas filas do Partido Libre e sua candidata Xiomara Castro, e também nas filas do Partido Anti-Corrupção, liderado pelo apresentador de televisão Salvador Nasralla.

Se vencer o Partido Libre, terá que começar do zero. E terá que reorganizar o país e, à mesma vez, enfrentar a batalha que oferecerá a ultradireita com a intenção de lhe fazer fracassar em seu projeto de país… Não será fácil, mas impossível também não é, se conta-se com a corrente de um povo decidido à mudança.

“Esperamos que a comunidade internacional não nos deixe sozinhos”

Desacato – Por fim, pode se confiar num processo de votação sério e transparente?

R.Q.- Não, certamente não. Por isso estamos constantemente fazendo um alerta, um chamado de urgência à comunidade internacional para que lhe dedique o que falta para as eleições e depois de serem realizadas, toda a atenção possível ao processo eleitoral em Honduras. É necessário ficar de olho, porque a violação dos direitos humanos não se deteve desde o Golpe de Estado, e nesta data incrementou-se a perseguição política da Polícia Militar criada pelo candidato ultraconservador Juan Orlando Hernández e seu padrinho político Porfírio Lobo. Esperamos que a comunidade internacional não nos deixe sozinhos.

 

*Roberto Quesada (1962), jornalista e escritor hondurenho; reside em Nova Iorque. Fundou a revista literária SobreVuelo. É autor de: O Desertor (1985), Os navios (1988), O humano e a deusa (1996), Big Banana (1999), Nunca entres por Miami (2002), O Romance do Milênio Passado (2005) e O equilibrista (2013). Quesada escreve em diversas publicações e mantém colunas jornalísticas. Colabora com o Portal Desacato desde 2011.

 

Español

HONDURAS: No se puede confiar en un proceso de votación serio y transparente

Entrevista al periodista y escritor Roberto Quesada*

Por Raul Fitipaldi para Desacato.info

Desacato – ¿Qué sientes como escritor y ciudadano hondureño que vive en el exterior, el presente proceso electoral en Honduras?

Roberto Quesada – Es la oportunidad para comenzar a hacer la transición del golpe de Estado a la vida democrática, pues este gobierno saliente de Porfirio Lobo no ha sido sino la continuación del golpe. Lobo nunca mandó, nunca hizo nada. Incluso, él se adjudica que su gobierno hizo que Honduras fuese reconocida internacionalmente luego de la expulsión de organismos internacionales, pero no es del todo cierto, se lo debe al permiso y la imposición que le hiciera los Estados Unidos, y a la buena voluntad del presidente Manuel Zelaya para que Honduras no siguiera aislada.

Por tanto, sólo hasta podría darse una transición real, claro, si se permite un proceso electoral transparente, libre. Algo que está difícil pues el oficialismo, la ultraderecha, tiene muchos movimientos que se visualiza la intención de ganar las elecciones con fraude o como sea, tanto así que han creado una Policía Militar, que ya está en las calles, y que no tiene otro propósito que intimidar al pueblo y estar lista para la represión en eventual fraude.

No obstante, se cifra la esperanza de vencer el fraude si el pueblo asiste masivamente a las urnas, y en la vigilancia nacional e internacional.

El Departamento 19

Desacato -¿Cuéntanos a qué le llaman Departamento 19 en Honduras?

R.Q.- Honduras tiene 18 departamentos, en otros lugares se les llama estados como en el caso de los Estados Unidos, pues la idea es que el D19  lo conformamos los hondureños y hondureñas que vivimos en el exterior. Tampoco es una novedad pues ya antes otros países que tienen cantidad de inmigrantes han expresado que son el departamento x de su país de origen o la primera o segunda ciudad. Nosotros creamos formalmente el D19 a raíz del golpe de Estado, y nos constituimos a nivel nacional dentro de los Estados Unidos de acuerdo a los estatutos del Frente nacional de Resistencia Popular y del Partido Libre. Costó bastante que en Honduras se entendiera este concepto pero finalmente fuimos juramentados, en acta que consta en la memoria del Partido Libre y en nuestros archivos, por supuesto. En la actualidad la coordinadora nacional del D19 Partido Libre es Lucy Pagoada; Subcoordinador Oscar Armando Flores y Secretario General Ángel “Tito” Meza, constituido por colectivos a lo largo y ancho de los Estados Unidos.

Ha sido una lucha fuerte obtener este reconocimiento pues históricamente al inmigrante se le ha despreciado, y en fechas más recientes se le ha visto como proveedor de remesas, pero como un ciudadano de tercera. Ahora la cosa está cambiando y la candidata del Partido Libre, Xiomara Castro, se ha pronunciado al respecto con la promesa de que el D19 figurara con voz y voto en la nueva constitución.

“La Misión de Honduras en la ONU es tan golpista como Micheletti”

Desacato -¿Tú conoces muy bien los pasillos de la ONU, ¿qué sensación ha dejado la situación de Honduras , luego del Golpe de Estado, en esa organización?

R.Q.- En un principio, de colocar a Honduras como uno de los países más atrasados de América Latina, pero también encendió las alarmas de muchos países para no volver al pasado golpista de América Latina que impuso tantos “presidentes”, en su mayoría con la ayuda y aprobación de los Estados unidos. Y, por supuesto, a sotto voce se sabe que la Misión de Honduras ante la ONU es tan golpista como el tristemente célebre Micheletti.

“La nueva sede de los golpes está en Miami”

Desacato – ¿Qué representa para los hondureños que viven en Estados Unidos, la candidatura de Xiomara Castro?

R.Q.- No puedo hablar por todos, primero porque son tantos y segundo por ser tan diversos. La maquinaria golpista trabajó mucho dentro de los Estados Unidos, especialmente la nueva sede de los golpes para América Latina con sede en Miami, y le metieron mucho en la cabeza a los inmigrantes hondureños en contra del presidente Zelaya, tanto así que en lugares como Miami y Jersey City (Nueva Jersey) festejaron el golpe de Estado. Desidiotizar a estos compatriotas no ha sido fácil, unos pocos emprendimos esa tarea titánica y hemos tenido resultados bastante positivos. Las calumnias e injurias contra Zelaya, naturalmente que afectaron directamente a su esposa y familia. Pero ya ahora cada vez se escucha que ha crecido la aceptación por Xiomara, y ya para muchos se ha convertido en la esperanza de derrotar al bipartidismo que ha hecho de la corrupción su religión, que ya no soporta la mayoría del pueblo hondureño.

“Los artistas están con LIBRE”

Desacato – ¿Estuviste presentando tu más reciente libro en Honduras semanas atrás, ¿cómo se está viviendo el proceso electoral, tanto a nivel de los intelectuales como de la población en general, en el territorio hondureño?

 R.Q.- Pues sí, es una novela, se titula El Equilibrista y está publicada bajo el sello de Alfaguara. Esto a principios de octubre, y hay ambiente electoral, pero también mucha preocupación. Mucha gente que trabaja en el gobierno o en la empresa privada teme expresar sus simpatías por el Partido Libre o por Xiomara, por el riesgo de perder sus empleos.

En el caso de los intelectuales pues, abrumadoramente están con el Partido Libre y con Xiomara. Los más prestigiosos escritoras y escritores, como José Adán Castelar, Helen Umaña, Julio Escoto, Jorge Miralda, Patricia Murillo, Galel Cárdenas, Melissa Merlo, músicos como Pavel Núñez y su famoso Café Guancasco, pintores, teatristas, en fin… el noventa y tanto por ciento de los artistas está con Libre.

“Las personas  buscan um cambio real”

Desacato – ¿Qué ocurriría si triunfa nuevamente la derecha conservadora, y cuál sería la diferencia si vence el partido LIBRE, con Xiomara Castro?

R.Q.- Todo el panorama, y te soy muy objetivo, apunta a que la única posibilidad que tiene la ultraderecha es por la vía del fraude, pues viajé dentro de Honduras y puedes realizar tu encuesta personal al conversar con la gente (sin identificarte) y te sorprende como el pueblo está contra el oficialismo. La gente anda en busca de un real cambio, y en este sentido se ha volcado a unirse a las filas del Partido Libre y su candidata Xiomara Castro, y también a las del Partido AntiCorrupción, liderado por el presentador de televisión Salvador Nasralla.

Si vence el Partido Libre, pues debe comenzar de cero. Y tendrá que enderezar el país y a la vez enfrentar la batalla que le dará la ultraderecha con la intención de hacerle fracasar en su proyecto de país… No será fácil, pero tampoco imposible si se cuenta con el caudal de un pueblo decidido al cambio.

“Esperamos que la comunidad no nos deje solos”

Desacato – Finalmente, ¿se puede confiar en un proceso de votación serio y transparente?

R.Q.- No, definitivamente no. Por eso estamos constantemente haciendo un llamado de alarma, de urgencia, a la comunidad internacional para que le dedique lo que falta para las elecciones y tiempo después de realizadas, toda la atención posible al proceso electoral en Honduras. Hay que estar pendientes pues la violación de los derechos humanos no se ha detenido desde el golpe de Estado, y en esta fecha se ha incrementado la persecución política de la Policía Militar creada por el candidato ultraconservador Juan Orlando Hernández y su padrino político Porfirio Lobo. Esperamos que la comunidad internacional no nos deje solos.

 

*Roberto Quesada (1962), periodista y escritor hondureño; reside Nueva York. Fundó la revista literaria SobreVuelo. Es autor de: O Desertor (1985), Los Barcos (1988),
El humano y la diosa (1996), Big Banana (1999), Nunca entres por Miami (2002), La Novela del Milenio Pasado (2005) y El equilibrista (2013). Quesada escribe en diversas publicaciones y mantiene columnas periodísticas. Colabora con el Portal Desacato desde 2011.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.