Por Linete Martins e Luiza Coan.
Hoje, 1º de junho, estreia a série Verve, a arte de interpretar, com oito episódios retratando percursos de grandes artistas do teatro e também do cinema. A série é uma produção da Paradoxo Filmes em parceria com a Contraponto. O projeto foi contemplado pela Lei Aldir Blanc, através da Fundação Catarinense de Cultura e Governo do Estado. O lançamento da série, com exibição dos oito episódios (ao todo 60 minutos de duração), é aberto ao público, tem o apoio do MIS – Museu da Imagem e do Som, e acontecerá na Sala de Cinema Gilberto Gerlach, no Centro Integrado de Cultura (CIC), às 19h30.
Os episódios da série são dedicados a oito artistas, Margarida Baird, Berna Sant’Anna, Ivana Fossari, Sandra Ouriques, Édio Nunes, José Ronaldo Faleiro, Antonio Cunha e Nazareno Pereira. Estes nomes também são representativos por trazer à tona a história de companhias de teatro marcantes para o movimento das artes cênicas, como o Grupo Armação, criado em 1972, o Grupo Pesquisa Teatro Novo, de 1976, o Dromedário Loquaz, de 1981, e o Teatro Sim… Por Que Não?!!!, de 1986. Estes grupos, ainda em atividade, são parte da história do teatro nas últimas cinco décadas em Florianópolis, e se destacam na cena teatral brasileira.
A diretora da série, Kátia Klock, da Contraponto, conta que a escolha para este recorte, selecionando artistas com mais de 60 anos, é outro fator relevante da série Verve, a arte de interpretar. “Projetar um foco de luz nestas atrizes e atores, enquanto personagens reais da história cultural que está sendo escrita em nossa cidade e estado, é uma forma de valorizar o fazer artístico e documentar trajetórias tão importantes. Olhar para a experiência profissional e a história dessa geração é fortalecer o cenário artístico de hoje, do passado e do futuro”.
Priscila Beleli, produtora executiva da Paradoxo, destaca que “a série proporciona um encontro da linguagem híbrida entre o teatro e o audiovisual. Estar em contato com esses artistas foi emocionante. Atores e atrizes de teatro têm esse calor do momento, de não ter corte, de ser uma repetição de textos que a cada dia é diferente.” Priscila cita o texto escolhido por Nazareno Pereira, que diz os mesmos versos em tons e atitudes diferentes. Outro ponto importante que Priscila destaca é a parceria entre a Paradoxo e a Contraponto, que já acontecia informalmente e se efetivou nesse trabalho.
Se os profissionais da cultura foram afetados com a pandemia, quem trabalha diretamente com o público, como os artistas do teatro, foram os que mais sentiram (e ainda sentem) os efeitos do isolamento e distanciamento. Longe dos palcos, como resiste a arte do teatro? Cada uma e cada um está vivenciando de uma forma.
A diretora de produção e também produtora executiva, Lícia Brancher, da Contraponto, aponta os desafios para o audiovisual, que também parou, nestes tempos de pandemia. “Depois de quase dois anos paradas, a gente voltou há pouco, se adaptando ao protocolo de filmagem e ao componente da biossegurança. Foi uma responsabilidade, além da equipe, nós envolvemos os oito protagonistas. Mas valeu demais, são pessoas que nos ensinam muito sobre resistência, eles resistem através da arte”.
Relevância artística e cultural
Verve propõe uma coletânea biográfica de artistas cênicos. O audiovisual ganhou uma dimensão enorme em nossas vidas, principalmente, com a conexão rápida da internet, sendo uma ferramenta que faz parte da dinâmica de nossos dias. “É certo que nessa sociedade líquida e fluida tudo é instantâneo, é difícil a permanência. Paradoxalmente, o audiovisual serve como um documento histórico para a preservação da memória, seja pelo registro do campo das ideias e costumes, seja pela reflexão que deixará marcada esta época”, reflete Kátia Klock.
Verve, a arte de interpretar nasce com o propósito de registrar parte desta história através da rica e potente carreira destes artistas de nosso tempo, e com isso ajudar a potencializar o valor da arte e da cultura para nossa História. A série quer ser um estímulo nestes tempos de crise, provocando o debate sobre os caminhos e a relevância do ser artista.
Entre a cena e a arte, reflexões
“A arte de se comunicar no teatro e no cinema é fundamental para que a gente possa se comunicar com o mundo.
O teatro é efêmero, a gente faz a peça, ela sai de cartaz, e nada fica do trabalho do ator, fica na memória das pessoas. É muito importante ter um material documental para que a memória fique guardada.” (Nazareno Pereira)
“Tu vestes a roupa do personagem, não é a roupa que te veste. Se tu não respeitas aquele figurino, ele vai ficar vazio. Então já começa atrás do palco, na preparação. E quando chega em cena o público se identifica, tem que ter a fé cênica.” (Ivana Fossari)
“O que a gente recebe de experiência, de prazer, e até de sofrimento e de aprendizado é incalculável. E só por essa causa desse empenho, dessa insistência e resistência, a gente tem algo para contar.” (Antonio Cunha)
“O teatro é a possibilidade de viver várias vidas. Olha que rico que é a possibilidade de ter um espaço onde você pode vivenciar tantos personagens, fazer tantos amigos, conhecer tantas pessoas, tantos lugares, o teatro é mágico por isso.” (Berna Sant’Anna)
“Eu devo muito ao teatro e ao cinema. A minha formação de cidadão, a compreensão de conviver com outros que não pensam como eu penso. Aceitar a presença de quem pensa diferente, isso me fez crescer como ser humano.” (Édio Nunes)
“Você cantar, dançar, dizer um poema, inventar e criar um personagem a partir de dados que te são dados, eu adoro. Sempre gostei muito de trazer à tona aquilo que está ali escrito. Como é essa figura? O teatro me vem como algo inevitável.” (Margarida Baird)
“Eu fico sempre muito impressionado de ver como essa centelha do teatro se acende, às vezes em um lugar muito pequenininho, lá escondido dentro desse Brasil imenso, tem gente que resolve fazer teatro, de onde vem isso?” (José Ronaldo Faleiro)