O presidente da Bolívia, Luis Arce, afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode colaborar na apuração sobre uma possível relação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a derrubada do ex-presidente Evo Morales no país andino.
A declaração ocorreu em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta segunda-feira 2. De acordo com o veículo, Arce declarou ter suspeitas de que a sublevação na Bolívia teve ajuda de atores internacionais, como o ex-presidente brasileiro.
“Cada vez tenho menos dúvidas de que há uma relação entre o golpe de Estado na Bolívia e ações de Bolsonaro“, afirmou. “Ao companheiro Lula, queremos mostrar todas as hipóteses que levantamos e que fomos documentando durante todo esse tempo. Esperamos que o Brasil, com Lula, possa colaborar mais do que o governo anterior. Falta informação do lado de cá [do Brasil] para confirmar nossas suspeitas.”
Entre os indicativos, Arce mencionou suspeitas sobre voos do avião presidencial de Jeanine Áñez, que tomou o poder, ao Brasil.
O caso foi divulgado pelo jornal argentino Pagina 12, em junho de 2020. A reportagem, que diz ter obtido dados da empresa Flightware, relata a presença da aeronave presidencial da Bolívia na madrugada do primeiro dia do golpe, em 11 de dezembro de 2019.
A publicação também diz ter observado registros de 25 voos ao Brasil entre 11 de novembro de 2019 e 8 de maio de 2020. Houve passagens, inclusive, por cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus.
Arce também citou acordos realizados entre o Brasil e a Bolívia referentes ao fornecimento de gás. O presidente boliviano diz que o contrato foi “totalmente favorável ao governo brasileiro”.
Além disso, ele destacou as declarações de Bolsonaro em apoio a Áñez, num momento em que a então presidente tinha pouco apoio público na comunidade internacional.
Arce esteve no Brasil para cumprimentar Lula na posse presidencial, assim como demais chefes de estado. Uma das expectativas é de que a nova gestão no Planalto ajude os bolivianos a se integrarem mais com o Mercosul.
Além disso, as conversações do Brasil com países da América do Sul é uma das prioridades anunciadas por Lula na política internacional. O petista disse, em discurso de posse, que pretende revitalizar a Unasul, bloco de países sulamericanos extintos com a contribuição de Bolsonaro.