Guia espiritual maia queimado vivo na Guatemala

Imagem Ilustrativa. Pixabay.

O assassinato de Domingo Choc Che foi filmado. A seis de junho foi torturado, depois regado com gasolina e queimado na sua aldeia de Chimay, San Luis, Petén, acusado pelos seus assassinos de “bruxaria”.

O indígena guatemalteco tinha 55 anos. Era ajilonel, ou seja especialista em medicina maia. Ao longo dos tempos, tinha participado em vários projetos científicos, partilhando conhecimento e procurando preservar a sabedoria tradicional sobre as propriedades medicinais das plantas. Atualmente, era um dos trinta participantes de um projeto iniciado há um ano atrás que investigava as plantas medicinais da zona de Petén. Este projeto é uma parceria entre o University College London, a Universidade de Zurique e a Universidad del Valle.

Pertencia à Associação de Conselhos de Guias Espirituais Releb’Aal Saq’E e era conhecido como “Avô Ku” pelo seu “conhecimento profundo das plantas, das orações, uma formação que trazia desde a sua infância, dos seus avós maternos e que foi cultivando até se tornar um perito”, afirmou um outro guia maia, Rolando Quib, à teleSur (link is external), que acrescenta “era uma pessoa muito humilde, muito trabalhadora, um médico maia muito dedicado ao conhecimento das plantas comunitárias, à atenção comunitária, mas sobretudo, também era um camponês, que cultivava e vivia disso.”

É o mesmo especialista que ajuda a enquadrar o que se passou: “na sua aldeia existiam diferentes grupos religiosos que ficavam muito incomodados com o seu trabalho de medicina natura, o seu conhecimento de plantas e o uso de velas, a partir daí, começaram a utilizar o conceito de bruxo”.

O preconceito e ódio contra a espiritualidade tradicional indígena tem sido alimentado por grupos religiosos cristãos ultra-conservadores que dizem pretender erradicar a bruxaria. Como resultado, segundo a agência de notícias Prensa Guatemalteca, pelos menos vinte pessoas foram assassinadas nos últimos anos acusados de ser bruxos. Quimy De León, jornalista desta instituição, explica que o preconceito vem de longe, do período colonial, e que agora volta a recrudescer.

 

Também Claudia Samayoa, dirigente da organização de direitos humanos Udefegua, faz no The Guardian (link is external) referência a este passado e ao passado mais recente da guerra civil que assolou o país durante 36 anos, até 1996: “antes dos acordos de paz havia uma clara perseguição dos guias espirituais maias e dos ervanários tradicionais. Mas a Guatemala não conseguiu desmantelar esta visão dos tempos coloniais de que a prática da “bruxaria” merece a morte. Há Igrejas Neo-pentecostais e algumas expressões do Catolicismo que continuam a considerar a prática da espiritualidade maia como uma forma de bruxaria.”

Fonte: Esquerda.

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