Guerra, cerco, fome e epidemias: memórias e experiências dos sertanejos do Contestado

    Por Paulo Pinheiro Machado, Topoi.

    Este artigo procura analisar o significado de determinadas ocorrências na Guerra do Contestado (1912-1916) compartilhadas pela memória da população serrana de Santa Catarina. As razões do movimento rebelde, a questão de terras,o cerco aos redutos rebeldes, a fome e a violência, são fenômenos estudados em entrevistas de sobreviventes e seus descendentes.


    Um morador de Taquaruçu, atual município de Fraiburgo, no planalto catarinense, que era criança na época da guerra, relata uma cena de bombardeio:

    A força do governo também apertou muito no final. Teve um reduto, que começou a ser bombardeado por canhão, daí todos correram para a igreja, para se proteger. Logo um tiro de canhão atingiu a igreja, que estava lotada de crianças e mulheres, pegou fogo, quase todos morreram, isto eu vi.[1]

    A imagem de uma igreja lotada de mulheres e criançaas sendo incendiada é como um emblema de memória. Como afirma Frances Yates sobre os estudos mnemônicos de Francis Bacon, emblemas e imagens sãoo resultados da fixação de emoções sensíveis, mais facilmente lembradas que princípios intelectuais ou outros relatos isentos de maior emoção.[2] A força dessas memórias está associada a fortes impactos emocionais causados por diferentes imagens da guerra.

    Por muito tempo existiu uma espécie de silêncio público sobre a Guerra do Contestado. Desde o nal da guerra até a década de 1980, esse assunto não foi objeto da atenção pública, embora já houvesse uma farta produção de militares e acadêmicos sobre o tema. A partir dos anos 1980, como parte do processo de redemocratização do país, o con ito do Contestado passou, de distintas maneiras, a ser relembrado por movimentos sociais, órgãos de Estado e pesquisadores acadêmicos. No entanto, boa parte da população descendente dos seguidores do monge José Maria ainda apresenta uma memória de guerra fortemente impactada pela versão dos vencedores e pelos ressentimentos do olvido público. Um acontecimento não lembrado é quase algo não acontecido. A vergonha da derrota mistura-se com a sen- sac?a?o de irrelevância pu?blica de uma experiência tra?gica presenciada.3 Por outro lado, o esquecimento pode ser apenas uma forma de readaptac?a?o a? vida, como nos relata Alessandro Portelli. As pessoas na?o podem viver o tempo todo se lembrando de tudo.4

    O estudo das memo?rias dos sobreviventes dos redutos rebeldes e seus descendentes5 envolvidos no movimento do Contestado (1912-1916) leva-nos a refletir sobre alguns aspectos marcantes e dolorosos das experie?ncias dessas pessoas. E? evidente que, devido a? envergadura do movimento – que atingiu uma extensa regia?o dos planaltos de Santa Catarina e do Parana? com mais de 22.000 km2 e acima de 150 mil habitantes – na?o ha? um so? tipo predominante de memo?ria das experie?ncias da guerra. As pessoas foram atrai?das aos redutos rebeldes, as chamadas “cidades santas”, por diferentes razo?es e dentro de distintos contextos regionais e de diferentes fases do conflito.

    Entre os que se dirigiram a Taquaruc?u, Caraguata?, Bom Sossego, Santa Maria, Perdizes, Pedra Branca, Sa?o Pedro e outros redutos e vilas dos seguidores do monge Jose? Maria, havia um grupo inicial de seus devotos. Eles reelaboraram sua trajeto?ria anterior, de pra?ticas de curas ate? o combate do Irani, quando uma importante expedic?a?o do Regimento de Seguranc?a do Parana? entrou em confronto com os caboclos, o que resultou na derrota da forc?a policial; e, entre os sertanejos, na morte de Jose? Maria. Um ano apo?s esse combate os seguidores de Jose? Maria voltaram a reunir-se em Taquaruc?u, em torno da menina Teodora que relatava seus sonhos, afirmando que Jose? Maria ordenava a seus seguidores que retornassem a Taquaruc?u para seguir sua “Santa Religia?o”.

    A partir da formac?a?o da “Cidade Santa” de Taquaruc?u, va?rios outros sertanejos passaram a agrupar-se no nu?cleo inicial. Havia um grande nu?mero de veteranos da Guerra Federalista (1893-1895), maragatos descontentes com o domi?nio dos republicanos, opositores poli?ticos dos Corone?is da Guarda Nacional que governavam os munici?pios serranos de Santa Catarina. Taquaruc?u e, depois, os novos redutos recebiam tambe?m muitos sertanejos expulsos de suas posses com a construc?a?o da estrada de ferro ao longo dos rios do Peixe, Iguac?u e Negro.

    Ate? o me?s de fevereiro de 1914, a guerra tinha sido um conjunto muito restrito de pequenos combates, fugas e escaramuc?as. Quando as tropas do exe?rcito cercam e bombardeiam o reduto de Taquaruc?u, ocorre um massacre ate? enta?o ine?dito na regia?o do planalto. Estima-se em mais de duzentos habitantes os moradores de Taquaruc?u, no momento do cerco e bombardeio por parte das forc?as do governo. Como os homens adultos tinham sido deslocados para a construc?a?o no novo reduto de Caraguata?, mais ao norte, a tropa oficial abriu fogo sobre um grande nu?mero de crianc?as, mulheres e velhos. Na memo?ria dos sertanejos da regia?o, a defesa de Taquaruc?u foi comandada pela cabocla Francisca Roberta, chamada Chica Pelega, de quem na?o ha? qualquer outro registro contempora?neo. Como os militares temiam uma aproximac?a?o que possibilitasse uma luta corpo a corpo – preferida pelos caboclos –, trataram de postar suas forc?as em trincheira, cercando pelo alto o vale do Taquaruc?u, e disparar balas de obuses e descargas de fuzis, por um dia, liquidando com a populac?a?o irreduti?vel. No dia seguinte ao bombardeio, a descric?a?o dos poucos sobreviventes e dos pro?prios militares era aterradora. Mais de duzentas casas e uma Igreja foram destrui?das pelos 175 tiros de granadas explosivas, tipo schrapnell. Na cidadela bombardeada, entre os escombros, encontravam-se pernas, cabec?as decepadas, pedac?os de corpos humanos e de animais. Um descendente dos chefes rebeldes, Valmor Carlin, arma que a partir dai? a guerra foi “de uma viole?ncia sem medida”.[6]

    No me?s seguinte, os militares investem sobre o novo reduto de Caraguata?. As forc?as do Exe?rcito foram batidas pelos sertanejos. Atrai?dos para falsos atalhos, os militares se viram presos a espinheiros de inhapindai?, sendo encurralados para uma luta corporal com armas brancas, na qual os sertanejos levavam vantagem. Do alto das copas de imbuia e arauca?ria, franco-atiradores caboclos dizimavam forc?as do governo com a precisa?o de suas carabinas. A viole?ncia do combate chegou ao hospital de sangue, sendo os militares feridos atacados com faco?es. No me?s seguinte, uma nova expedic?a?o do Exe?rcito, chefiada pelo General Mesquita, identificou corpos de militares mortos em Caraguata?, espalhados ao longo da estrada que conduzia a? Vila de Sa?o Sebastia?o da Boa Vista. Adolph Bading, imigrante alema?o radicado em Canoinhas, tendo exercido o cargo de Juiz Substituto nesta vila, afirma que os pedac?os dos corpos dos soldados do 54o Batalha?o de Cac?adores, mortos em Caraguata?, foram retirados de suas sepulturas, “esquartejados e atirados aos porcos e ca?es, para serem devorados”.[7]

    A intensicac?a?o da guerra aconteceu no segundo semestre de 1914, quando se inicia uma ofensiva rebelde generalizada, e os governos dos Estados do Parana? e de Santa Catarina pedem uma intervenc?a?o de maior peso do governo federal. Os rebeldes passaram a intensificar suas ac?o?es para o planalto norte, em direc?a?o a? Vila de Canoinhas e a?s estac?o?es da Estrada de Ferro Sa?o Paulo – Rio Grande. Para o sul, ocupam a Vila de Curitibanos e investem sobre a cidade de Lages. Nesse peri?odo, os revoltosos passam a recrutar toda a populac?a?o do planalto para dirigir-se aos redutos, por bem ou por mal. Nas memo?rias de muitas fami?lias, era uma e?poca de fuga do recrutamento das duas partes. Segundo Maria Conceic?a?o Correia, lha de um pequeno fazendeiro de Canoinhas, a atuac?a?o de sua ma?e foi fundamental para a defesa de sua fami?lia:

    Por aqui os jagunc?os viviam iludindo e enganando as pessoas para elas irem ao reduto. Alguns foram assim; foram convencidos. Outros foram levados a? forc?a. Eu lembro que morava aqui em Canoinhas, a cidade foi atacada, minha fami?lia teve que fugir de um si?tio aqui perto, com a roupa do corpo. Fugimos para o Parana? e so? voltamos no final da guerra. Isto aconteceu quando eu estava com meu pai e minha ma?e debulhando milho em nosso si?tio. Ouvimos um barulha?o, eram os jagunc?os atirando e dando “vivas”. Os jagunc?os que- riam levar meu pai. Mas minha ma?e deu gado e muito sal para os jagunc?os na?o levarem o meu pai. Quem na?o obedecesse a? ordem dos piquetes dos jagunc?os, eles matavam. Foi minha ma?e quem salvou nossa fami?lia, ela na?o deixou os jagunc?os levarem o meu pai, na?o deixou o pessoal do governo levar meu pai tambe?m. Naquele tempo o governo tambe?m pegava gente a? forc?a para virar soldado.[8]

    Muitas fami?lias tiveram de fazer um difi?cil jogo para fugir da guerra. Alguns iam contra a sua vontade aos redutos, outros acabavam por aderir ao projeto rebelde e a?s suas ac?o?es. Mas, os que na?o eram atingidos pelos rebeldes, eram recrutados como soldados ou como vaqueanos (civis armados) pelas tropas o ciais, que careciam de gente que conhecesse o territo?rio e as formas locais de luta. O termo “jagunc?o”, com todo o seu significado depreciativo, ligado ao banditismo, e? utilizado indistintamente na regia?o para a denominac?a?o dos rebeldes. Ate? mesmo descendentes de moradores dos redutos e de chefias rebeldes reproduzem essa linguagem desqualificadora, utilizando os termos “jagunc?o” e “fana?tico”, como sino?nimos dos seguidores de Jose? Maria.

    Na memo?ria dos sobreviventes e seus descendentes, as razo?es do movimento sertanejo sa?o frequentemente obscuras quando na?o reproduzem diretamente o discurso vencedor dos militares e dos poli?ticos republicanos. Entre os fazendeiros e seus descendentes na?o ha? du?vida: o movimento sertanejo foi puro banditismo. O neto do coronel Anto?nio Carneiro, dos Campos de Sa?o Joa?o, afirma que:

    A guerra foi assim, puro banditismo. Hoje tem muita gente contando outras coisas, dizendo que havia problemas de terras, que tinham sido tomadas pelos americanos, mas e? tudo invenc?a?o. Naquela e?poca havia terra de sobra para quem quisesse. Era tudo terreno devoluto. Os governos ate? facilitavam a legitimac?a?o das posses. Este serta?o era muito grande, a populac?a?o era pequena.[9]

    A questa?o de terras e? lembrada por Gilberto Kopecki, de Irineo?polis, norte do planalto catarinense. Filho de Ana Ju?lia Kopecki, imigrante de origem polonesa que escrevia rezas para os sertanejos do reduto de Bonifa?cio Papudo, Gilberto lembra que a Brazil Lumber and Colonization Co., empresa norte-americana, subsidia?ria da Brazil Railway, encarregada da explorac?a?o da madeira e da colonizac?a?o com imigrantes dos territo?rios marginais a? estrada de ferro Sa?o Paulo–Rio Grande, usava de forc?a, fraude e constrangimento poli?tico para expulsar os antigos moradores da regia?o:

    Em alguns lugares tiravam a? forc?a mesmo, com capangas. Em outras situac?o?es eles obrigavam o pessoal a assinar um papel em branco. Quem fez isto aqui foi o Nereu Ramos, que era advogado da Lumber. O Nereu, mesmo novo, tinha muita autoridade sobre as pessoas, era lho do Governador Vidal. Ele reuniu o pessoal dizendo que era para assinar em branco os papeis, que todos iam ter suas terras regularizadas. Que nada! As assinaturas serviam para as pessoas renunciarem ao direito de posse. Isto minha ma?e viu pessoal- mente, aconteceu mesmo.[10]

    Para muitos, a Guerra comec?ou como uma reac?a?o desmedida do Coronel Francisco Ferreira de Albuquerque – fazendeiro, ra?bula, comerciante e prefeito de Curitibanos – contra a presenc?a do curandeiro Jose? Maria na festa de Bom Jesus, em Taquaruc?u. Alertada pelo coronel Albuquerque, uma forc?a da poli?cia catarinense expulsou o monge Jose? Maria e alguns de seus seguidores para a regia?o do Irani, sob administrac?a?o paranaense, em setembro de 1912. O combate que se seguiu com a forc?a paranaense, no me?s seguinte, e a consequente morte de Jose? Maria, criou, para os governantes, a falsa sensac?a?o de que o movimento estava extinto.

    Quando os sertanejos voltaram a reunir-se em Taquaruc?u, um ano apo?s o combate do Irani, na?o se tratava mais da festa de Bom Jesus, um povoado proviso?rio em torno de um curandeiro, mas de um claro desafio ao coronel Albuquerque e a?s autoridades estaduais. Ale?m do desafio poli?tico – pelo desrespeito a?s ordens do coronel – existia algo de novo entre os sertanejos.

    Como resultado de um processo de reelaborac?a?o mi?stica, a pro?pria trajeto?ria do curandeiro Jose? Maria foi santificada, aproximando-o do monge Joa?o Maria, antigo andarilho que desde meados do se?culo XIX trilhava os caminhos do planalto.[11] A nova Taquaruc?u seria uma comunidade criada para a pra?tica da “Santa Religia?o”; deveria ser o local de vida de uma irmandade, onde todos trabalhariam e nada faltaria a ningue?m.

    Para Cipriano Fragoso, lho de um morador de Santa Maria – o maior reduto sertanejo, identificado pelo Capita?o do Exe?rcito, Tertuliano Potiguara, como um conjunto de 5.500 casas e 24 igrejas –, os sertanejos pensavam em criar uma comunidade muito especial. Existe uma memo?ria das relac?o?es comunita?rias da irmandade; mas, a pra?tica do saque, acusac?a?o dos inimigos, e? confirmada pelos depoimentos dos antigos rebeldes:

    Eles queriam uma revoluc?a?o, queriam tomar conta do pai?s, do Estado de Santa Catarina. Enta?o, eles que- riam que tudo fosse uma irmandade; tudo no comum. O que era produzido de criac?a?o e mantimento eles queriam comer junto, uma coisa assim. Mas ningue?m trabalhava, enta?o na?o tinham nada, tinham que bus- car fora onde outros trabalhavam.[12]

    Os problemas de abastecimento foram cruciais para o desenrolar do movimento. Embora muitos depoimentos confirmem a existe?ncia de criac?o?es e lavouras trabalhadas pelos moradores dos redutos, a rapidez da guerra, o cerco militar e a crescente populac?a?o desses povoados impedia uma autossuficie?ncia alimentar e reclamava por outras soluc?o?es. Raulino Correa, que morou em va?rios redutos, explica como faziam para resolver o problema do abastecimento:

    No reduto a gente voltava pros nossos si?tios para colher o que fosse possi?vel e pegar algum animal desgarrado. Depois, mais tarde o que funcionava mesmo eram os piquetes que iam pra cima das fazendas para arrebanhar gado. Me lembro que no comec?o as pessoas comiam muito nos redutos, mas depois foi diminuindo, diminuindo, ate? vir a fome mais braba. No m, quando conseguiam uma ou duas rezes para matar pra todo aquele povo, as crianc?as cercavam o animal abatido e comiam ate? as tripas quentes. [13]

    Com o aumento do cerco do exe?rcito aos redutos, a condic?a?o de arrebanhamento de gado alheio para abastecimento era cada vez mais difi?cil; enta?o, segundo va?rios depoimentos, tudo o que se mexia podia ser comido. A memo?ria da fome e? particularmente impactante ao longo do peri?odo da guerra, ja? que, nessa regia?o, embora a populac?a?o de peo?es, agregados e posseiros fosse muito pobre, viviam, antes da guerra, num regime alimentar razoavelmente farto. Ate? mesmo no planalto, uma regia?o ti?pica de expansa?o da pecua?ria extensiva, havia grande nu?mero de roc?as de milho, feija?o e mandioca. Os pobres tambe?m eram pequenos criadores, tanto de gado vacum como de sui?nos e aves. Durante a guerra, seus recursos foram dilapidados pela ac?a?o dos piquetes de vaqueanos e, muitas vezes, pelo pro?prio abandono de seus si?tios de origem. Segundo Anto?nio Franc?a Pinto, como boa parte da populac?a?o dos redutos la? estava contra a sua vontade, so? a alguns era permitido sair para cac?ar ou para buscar vi?veres e gado. O clima de festa e fartura que existia inicialmente nesses povoados, foi sendo substitui?do pela escassez e pela desconfianc?a. Isso ocorreu na fase final do conflito, quando formou-se a chefia de Adeodato (tambe?m chamado Leodato):

    Com a bandeira na ma?o os jagunc?os comec?aram a tratar o Leodato como chefe, e ele foi se empolgando. O rapaz que pediu permissa?o para cac?ar queria mesmo era roubar gado alheio, era isto que os jagunc?os chamavam de cac?ar, e Leodato fez o mesmo que Chiquinho (antigo chefe) fazia, na?o deixou ir sozinho. Porque se fosse sozinho podia fugir. Os chefes so? deixavam sair do reduto de dois ou mais; dai?, um controlava o outro. Enta?o, o rapaz disse que na?o tinha companheiro para sair junto, que ja? na?o tinham carne, que ja? estavam passando fome. Nisso, o Leodato, que na?o era comandante ainda, mas ja? estava na direc?a?o, puxou sua espada. Ele tinha uma espada que foi do D. Pedro II. Pois ele enfiou a espada no sujeito que queria sair. A espada atravessou a barriga e saiu pelas costas. Sai?a sangue para la? e para ca?. O rapaz ferido ficou um tempo de pe? e um negrinho com uns cinco anos, louco de fome, correu com uma caneca para pegar e beber o sangue que jorrava pela barriga e pelas costas do jagunc?o. No reduto tinha muita fome, comiam xaxim, comiam o diabo. [14]

    A suposta espada de D. Pedro II e? a refere?ncia que cria uma ligac?a?o dos sertanejos com a ideia de Monarquia, como Lei de Deus ou Lei do Ce?u, como defendiam. A chefia a cruel do comandante Adeodato, que teve ini?cio em novembro de 1914, apo?s a morte do chefe Chiquinho Alonso, e? descrita como um conjunto de atos sanguina?rios, tanto por adversa?rios, como por rebeldes. A descric?a?o do menino se alimentando do sangue do sujeito atingido se soma a outras descric?o?es de indivi?duos que comiam vermes, formigas, e ate? carne humana para sobreviver. Em muitos outros depoimentos, a memo?ria da fome aparece associada a? tirania de Adeodato. Nestor Scholl, antigo homeopata que tratava a sau?de da populac?a?o da regia?o do interior de Curitibanos e Fraiburgo, em entrevista concedida ao Padre Thomas Pieters, em 1973, afirma:

    Muitos jagunc?os feridos vieram comigo no meu consulto?rio e me contaram que os pro?prios jagunc?os mataram muitas pessoas; por la? de Liberata mataram duas fami?lias, sobraram tre?s meninas, que foram no mato buscar pinha?o para comer. Tre?s fami?lias ate? foram matadas. Me contaram que o chefe dos jagunc?os matou muitas pessoas, o dia que ele na?o matou uma du?zia (…). Na?o houve homem que tinha coragem de matar ele, era Deodato, ele tinha doze capangas com faca?o. Eu sei de Joaquim Moreira, e um jagunc?o me contou, que ele mandou matar uma crianc?a com a espada. De cada jagunc?o que matou cortou a orelha, fez um colar para o cavalo. Falei com muitos jagunc?os, me contaram como ocorreu, como foi. Foi uma coisa espantosa, eles morreram de fome, na?o tinham mais de que comer. Assim se terminavam os jagunc?os.[15]

    Como Adeodato, na condic?a?o de comandante geral, chefiava o grupo de “Pares de Franc?a”, provavelmente e? essa a refere?ncia aos “doze capangas com faca?o”. A crueldade aparece em estado puro, sem necessidade de razo?es. Os relatos orais sobre Adeodato, ainda hoje em curso, sa?o muito semelhantes ao discurso de autovitimizac?a?o dos sertanejos quando se apresentavam para a rendic?a?o final a?s tropas do Exe?rcito (na documentac?a?o do Exe?rcito, esses relatos sa?o fartamente repetitivos nos Autos de Perguntas aos prisioneiros da Campanha do Contestado). Para va?rios testemunhos, com o comando de Adeodato, terminou a “santidade” e a “protec?a?o” que existia dentro dos redutos.[16] Milhares de pessoas declaram que viviam nos redutos contra a sua vontade; estavam la? unicamente por temor a Adeodato, quase sem- pre apresentado como um “demo?nio em pessoa”.[17] Mas a memo?ria sobre os “Pares de Franc?a” parece ser mais generosa com esses indivi?duos. Como muitos sobreviveram a? guerra, deixaram suas impresso?es nas novas gerac?o?es. Sebastia?o Costa, morador da antiga Colo?nia Vieira, no planalto norte de Santa Catarina, conheceu, quando jovem, dois “Pares de Franc?a”:

    …aqui pela regia?o viveu depois da guerra o Pedro Domingos, era Par de Franc?a, era um nega?o alto, forte, tinha bastante muque, trabalhou um tempo pro meu pai. O Pedro Domingos era homem de confianc?a do Leodato. Tinha tambe?m o Chica?o, outro Par de Franc?a. Chica?o na?o era negro, era caboclo de pele queimada. Chica?o depois da guerra foi capataz do Severo de Almeida, um fazendeiro aqui do Tamandua? e trabalhou pro meu pai tambe?m, os dois eram homens de confianc?a de Leodato. Os Pares de Franc?a eram os mais corajosos e melhor lutadores. Agora, este pessoal era muito religioso tambe?m, tinham muita fe? em Deus, eles sabiam coisas da Bi?blia que nem os padres conheciam direito. Certa vez, este Pedro Domingos tinha um lho de 14 anos e queria que um padre que passou pela fazenda do Severo de Almeida batizasse o menino. O padre estava de ma? vontade, colocou um monte de problemas pra batizar o menino, dai? o Pedro Domingos, que era analfabeto, disse pra ele: “Jesus Cristo disse: ide e batizais a todos. O senhor na?o segue a religia?o de Cristo?”. O padre ficou mudo e resolveu batizar o menino. Eles aprendiam estas coisas da Bi?blia nos redutos. O Chica?o e o Pedro contavam sobre muitos combates que eles participaram; uma vez contavam que na entrada do reduto de Santa Maria eles cavam bem numa parte alta e em cima de umas forquilhas de imbuia, daquela altura, na galhada, eles acertavam os soldados que tentavam entrar no reduto.[18]

    A rendic?a?o final permitiu a muitos rebeldes o retorno a?s atividades anteriores a guerra, como a de peo?es, capatazes e tropeiros.[19] Pore?m, o tra?nsito para essa nova situac?a?o na?o era simples. A fase final da guerra foi de extrema viole?ncia, segundo Rosalina Watrin, descendente de imigrantes ucranianos e devota de Sa?o Joa?o Maria:

    Em Santa Ceci?lia do Rio Correntes, os fana?ticos se aproximaram da casa de minha sogra, que estava sozinha com sua irma? Francisca. Logo elas tentaram fugir, mas notaram que estavam sendo observadas pelos fana?ticos. Minha sogra se agarrou a um retrato de Sa?o Joa?o Maria, colocou um papel com uma orac?a?o no peito e na?o foi molestada pelos fana?ticos. A Francisca saiu correndo de costas ta?o ra?pido que eles pensaram que fosse homem e atiraram. Eles evitavam atirar em mulheres e crianc?as. So? atiravam em homens, eles pensaram que a Francisca era homem. Ela foi acertada com uma bala nos quartos, caiu no cha?o e foi arrastada mato a dentro, bem longe, pela minha sogra. Minha sogra dava a?gua pra irma? aos punhados. Dai? nisso veio um velhinho, do outro lado do mato, tambe?m estava fugindo dos fana?ticos, disse chamar-se Fernando ou Firmino, disse que conhecia o pai delas e que ia tirar elas do mato. O velhinho disse que ia bombear [espionar] pelo mato, contornar os jagunc?os e avisar o pai delas para ir buscar. Dai? um Capita?o do exe?rcito foi achado pelo velhinho e ele mandou um pequeno piquete de cavalaria para buscar as duas mulheres. Pois o piquete do exe?rcito passou bem na frente de um bando enorme de jagunc?os, armados ate? os dentes de faco?es, revo?lveres, winchesters, que deixaram os soldados resgatar as mulheres. As duas passaram com os sol- dados pelo meio dos jagunc?os e eles na?o zeram nada, elas passaram com muito medo, podiam ser trucida- das ali. No que chegaram ao acampamento do exe?rcito, onde tinha uma trincheira, mais adiante, o comandante cou indignado com o fato dos jagunc?os terem atirado na Francisca e ele disse e ordenou a? sua tropa que todos os jagunc?os deviam ser liquidados. Ele disse que os jagunc?os na?o tinham lei, que faziam malvadeza com as mulheres. Foi bala pra tudo que e? canto, juntou exe?rcito, poli?cia, vaqueanos, tudo, foram pra cima dos jagunc?os e acabaram com eles. Chegaram a empilhar os corpos dos fana?ticos pra atear fogo. Matar tudo, tudo, homens, mulheres, crianc?as tambe?m. A ordem do governo era matar tudo. As crianc?as eles erguiam, jogavam pra cima e espetavam com uma espada empinada. [20]

    Como recurso recorrente, feno?menos de massacre sa?o explicados a partir de ocorre?ncias ocasionais, acidentes fortuitos ou mal-entendidos. Para Rosalina, o massacre dos “fana?ticos” pelas tropas o ciais se explica pelo disparo equivocado que os rebeldes zeram em uma mulher. Mas as forc?as o ciais aqui relata- das sa?o muito mais que o Exe?rcito. Ale?m da poli?cia, ha? os grupos de vaqueanos civis. Normalmente eram fazendeiros, o ciais da Guarda Nacional, que colocavam seus peo?es em armas para servir de guias a?s tropas do exe?rcito e para “limpar” determinados territo?rios da presenc?a de rebeldes, no ini?cio dos conflitos.

    A importa?ncia desses grupos ligados ao poder local – que muitas vezes recrutavam seu efetivo entre rebeldes rendidos (como nos casos noto?rios de Henrique Wolland, o Alema?ozinho, e Grego?rio de Lima) – foi crescendo no decorrer da guerra. Os vaqueanos atuaram com muita intensidade ao final do conflito, conhecido como a fase do ac?ougue. Segundo Joa?o Melo, que foi menino de recados do chefe Adeodato, “na guerra ate? na?o morreu muita gente, mas depois da guerra tinha muita gente sendo paga para matar caboclos. Muitos correram pra toda parte para se esconder. Muita gente foi morta a aprisionada depois da guerra”.[21] Quando o u?ltimo reduto e? ocupado pelas tropas do chefe vaqueano, Lau Fernandes, em dezembro de 1915, ha? um lento processo de fuga e apresentac?a?o dos rebeldes a?s autoridades militares nos meses seguintes. Avelino Correa, lho de tropeiro que abastecia as tropas do Exe?rcito, informa que, quando um grande grupo de rebeldes se apresentou a?s forc?as o ciais, alguns ficaram aos cuidados de li?deres vaqueanos, como Firmino Chaleira:

    Logo depois um grande nu?mero de jagunc?os se apresentou ao exe?rcito, se rendeu, porque tambe?m vinha exe?rcito de Curitiba, de outros lados. Eu vi o estado em que eles passaram por aqui. Eram puxados pelo Firmino Chaleira – ou Firmino Brito; era chamado de Chaleira porque tinha um nariz “deste tamanho” [faz um gesto amplo] – que trabalhava pra forc?a. Dizem que ele levava muito bandido para “ver abelha no mato”; ele levava la? e matava mesmo.[22]

    Chefes vaqueanos, conhecidos por sua viole?ncia com os prisioneiros, eram Pedro Lea?o de Carvalho, ou Pedro Ruivo, que agia na regia?o de Canoinhas, respondendo a processo por ter executado mais de cem prisioneiros retirados da cadeia da Vila e degolados nas margens do Rio Iguac?u, e Coletti, que liderava um grupo de vaqueanos atuando na regia?o do Rio Correntes, pro?xima a? Vila de Curitibanos.[23] Ayure? Tavares, lho do chefe rebelde Anto?nio Tavares de Souza Ju?nior, que, apesar de ter aderido ao movimento rebelde tinha fortes ligac?o?es com o situacionista Partido Republicano Catarinense, conta que quando o seu reduto foi bombardeado pelas forc?as do Tenente-Coronel Taurino de Resende, seu pai:

    fugiu com uns vinte, pegaram o mato, alguns morreram, porque na?o resistiram, eles nem podiam dar um tiro numa cac?a sena?o chamava a atenc?a?o. Tinham algum dinheiro, foram se virando pelo caminho. Escreveram uma carta ano?nima para meu avo? avisando que o Tavares deveria se manter escondido porque ele estava sendo cac?ado. O clima no final da guerra era de execuc?a?o.[24]

    Um testemunho da e?poca (setembro de 1915), escrito pelo Juiz Adolph Bading, de Canoinhas, explica que, apo?s a destruic?a?o do reduto de Santa Maria, em abril de 1915, a maioria das unidades do exe?rcito abandonou a regia?o, com o general Setembrino declarando terminada a sua missa?o. No entanto, as autoridades militares ja? sabiam, em maio, que dois redutos remanescentes formaram-se com os sobreviventes de Santa Maria: Pedra Branca e Timbo?.25 Para outro juiz de Canoinhas, dr. Miletto, o exe?rcito na?o era muito eficaz no combate aos caboclos, defendendo que “a luta, para ser profi?cua ao restabelecimento da ordem sem grandes o?nus ao pai?s, tem que ser de caboclos contra caboclos”.26 O governo federal, a pedido das autoridades estaduais, distribuiu armas entre os civis, e apoiou a ac?a?o dos vaqueanos para erradicar nalmente com os rebeldes no planalto norte de Santa Catarina:

    Mesmo assim os casos de mortes e assaltos novamente assustavam a populac?a?o, e quase todos deixavam suas casas saindo da mata para a Vila [de Canoinhas]. Assim, desde o ini?cio de agosto [de 1915], toda a regia?o entre a vila e [o rio] Pacie?ncia ficou despovoada. Em seguida o governo do estado decidiu exigir do governo federal armas para a populac?a?o civil, as quais foram concedidas e enviadas. Enta?o se armou um piquete com pessoas civis para acabar com os jagunc?os. Estas operac?o?es ainda na?o esta?o terminadas, pore?m se espera, que estas sejam coroadas de e?xito, e que dai? finalmente o conjunto do movimento de revolta, que prejudicou imensamente a terra, seja de todo reprimido.[27]

    Muitas vezes, a rendic?a?o a chefias vaqueanas tinha de ser muito negociada e realizada com pessoas de confianc?a, devido aos perigos corridos. Sebastia?o Costa relata a atuac?a?o de seus parentes na busca de rebeldes escondidos no mato e no cuidado com que isto devia ser realizado:

    Muita gente ficou escondida no mato bastante tempo; queriam ter seguranc?a para se apresentar a?s forc?as do governo. Por aqui, um tio meu, o Ju?lio Costa, tinha trabalhado pras forc?as do governo, mas conhecia mui- tos jagunc?os que estavam no reduto. Ele fazia va?rias viagens ao Timbo? e ao Tamandua? e trazia aos poucos as fami?lias que iam se apresentando. Aquele pessoal chegava misera?vel, muitos nem roupas tinham. Meu pai tambe?m, na e?poca tinha 18 anos, ele trouxe muita gente do mato que queria se apresentar e estava com medo. Depois, este pessoal dos redutos ficou por aqui mesmo, voltaram cada um para as suas terrinhas.[28]

    Raulino Correa, que viveu nos redutos ate? o final, conta como foi a rendic?a?o de sua fami?lia e o temor de cair em ma?os erradas:

    Tava muito difi?cil no reduto. Passamos muita fome. A fraqueza era grande. Quando a guerra terminou, conseguimos fugir para um si?tio de um amigo de meu pai. Ele nos deu a?gua com mel. Um copo para cada um. Me senti nascendo de novo, de ta?o fraco que estava. Neste si?tio do amigo do meu pai, um tal de Domingos Beja, muitas fami?lias que fugiram do u?ltimo reduto estavam escondidas. Naquela noite o meu pai disse ao Domingos que no dia seguinte ia se apresentar ao Goethen, em Santa Ceci?lia: o lho do velho Goethen, que estava com o pessoal do governo. Meu pai foi pra la? com dois pia?s e um irma?o da minha ma?e, que era um homem alto e sujeito muito prosa, sabia se entender com o pessoal do governo. No m da tarde, meu pai retornou com eles. Vinham com muita comida, cafe?, tudo. Dai? foi so? car gritando pelo mato por perto que as pessoas iam se apresentando. Depois voltamos para o nosso antigo si?tio. Era uma tristeza, tinham levado tudo. Foi o pessoal do governo quem roubou tudo. O Coletti, de Santa Ceci?lia, que era vaqueano do governo, roubou muito si?tio de jagunc?o e matou muitas pessoas que ja? tinham se entre- gado. Mas o Coletti tambe?m perdeu muita gente de sua fami?lia. Os lhos dele acabaram se matando. Por conta dos banditismos que o Coletti andou fazendo ele chegou a sofrer de uma dor no peito que os me?dicos nunca descobriram. Este pagou aqui pelo que fez.[29]

    A memo?ria presente nas entrevistas dos sobreviventes do conflito e seus descendentes – com muita freque?ncia – “embaralha” e?pocas e regio?es distintas e ressignifica estrate?gias de legitimac?a?o de determi- nados comportamentos, Contudo, esses depoimentos sa?o documentos legi?timos que precisam ser estudados dentro do seu contexto formativo. Constituem-se em fontes fundamentais para o estudo da vida dentro dos redutos, para a ana?lise dos processos de rendic?a?o, para a avaliac?a?o da atuac?a?o dos vaqueanos civis. Processos, todos eles, muito pobremente documentados pelas fontes o ciais.


    Notas

    [1] Entrevista com Joa?o Maria Palhano, MACHADO, Paulo Pinheiro. Um estudo sobre as origens sociais e a formac?a?o poli?tica das lideranc?as sertanejas do Contestado, 1912-1916. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Po?s-Graduac?a?o em His- to?ria da UNICAMP. Campinas, 2001. Anexos.

    2 YATES, Frances A. A arte da memo?ria. Traduc?a?o de Fla?via Bancher. Campinas: UNICAMP, 2007, p. 461.

    3 Interessante re exa?o sobre a memo?ria de guerra e esquecimento encontramos no estudo sobre a Guerra Colonial Portu- guesa (1961-1974) em CAMPOS, A?ngela. Vivendo com a guerra: uma entrevista com o Sr. A. Fortuna. Estudos Histo?ricos, Rio de Janeiro, v. 22, n. 43, jan.-jun. 2009, p. 45-64.

    4 PORTELLI, Alessandro. A Bomba de Turim: a formac?a?o da memo?ria no po?s-guerra. Revista Histo?ria Oral, n. 9, Sa?o Paulo, 2006.

    5 O presente estudo foi originalmente escrito para a intervenc?a?o do autor na mesa-redonda “Margens do rural”, no a?mbito do Simpo?sio Internacional Histo?ria e Margem, promovido pelo Programa de Po?s-graduac?a?o em Histo?ria Social da Univer- sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre 18 e 20 de outubro de 2010.

    6 Entrevista com Valmor Carlin do Prado. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.
    7 BADING, Adolph. Die Fanatikerbewegung in Contestado (Parana? und Santa Catarina). In: Almanaque Alema?o. Canoi-

    nhas: s/ed. 1916.
    8 Entrevista com Maria Conceic?a?o Correia. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos. 9 Entrevista com Dario Carneiro. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.
    10 Entrevista com Gilberto Kopecki. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    11 Estudos mais detidos sobre o processo de reelaborac?a?o mi?stica dos sertanejos, ocorrido entre o combate do Irani e a forma- c?a?o do segundo reduto de Taquaruc?u encontramos em VINHAS DE QUEIROZ, M. Messianismo e con ito social: a Guerra Sertaneja do Contestado. Rio de Janeiro: Civilizac?a?o Brasileira, 1966 e em MONTEIRO, Duglas Teixeira. Os errantes do Novo Se?culo. Sa?o Paulo: Duas Cidades, 1974. Importante testemunho sobre estas transformac?o?es encontramos em LEMOS, Alfredo de Oliveira. A histo?ria dos fana?ticos em Santa Catarina e parte de minha vida naqueles tempos. Passo Fundo: Beltier, s/d.

    12 Entrevista com Cipriano Cardoso. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    13 Entrevista com Raulino Correa. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    14 Entrevista com Anto?nio Franc?a Pinto. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    15 Entrevista de Nelson Scholl a Thomas Pieters em 17/11/1973. Mimeo.

    16 Essa mudanc?a ca muito expli?cita nas entrevistas de Porfi?rio Alonso (irma?o do chefe Chiquinho Alondo) para MON- TEIRO, Duglas Teixeira. Op. cit., e na entrevista de Elias Ribeiro em MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    17 Sobre a demonizac?a?o de Adeodato, cf. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Capi?tulo 5.

    18 Entrevista com Sebastia?o Costa. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    19 Importante estudo sobre a origem e a atuac?a?o dos “Pares de Franc?a” ou “Pares de Sa?o Sebastia?o” no movimento do Con- testado, encontramos em ESPIG, Ma?rcia Janete. A presenc?a da gesta Caroli?ngea no movimento do Contestado. Canoas: Ed. da ULBRA, 2004 e em FELIPE, Euclides Jose?. O u?ltimo jagunc?o: o folclore na histo?ria da Guerra do Contestado. Curitiba- nos: Ed. UnC, 1995.

    20 Entrevista com Rosalina Watrin. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    21 Entrevista com Joa?o Melo. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    22 Entrevista com Avelino Correa. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    23 Processo-crime por assassinato, re?u: Pedro Lea?o de Carvalho, Comarca de Canoinhas, 1918. Apesar da atividade do Pro- motor em juntar provas aceitas pelo Juiz, o re?u foi absolvido 3 vezes pelo ju?ri.

    24 Entrevista com Ayure? Tavares. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.

    25 Importante estudo sobre a atuac?a?o dos vaqueanos civis encontramos em RODRIGUES, Roge?rio Rosa. Veredas de um grande serta?o: a Guerra do Contestado e a modernizac?a?o do Exe?rcito brasileiro na Primeira Repu?blica. Tese de Doutorado apre- sentada no Programa de Po?s-Graduac?a?o em Histo?ria da UFRJ, Rio de Janeiro, 2008.

    26 Jornal O Lageano, Lages, 26/06/1915.

    27 BADING, Adolph. Op. cit., p.45.

    28 Entrevista com Sebastia?o Costa. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos. 29 Entrevista com Raulino Correa. MACHADO, Paulo Pinheiro. Op. cit. Anexos.


    Refere?ncias

    BADING, Adolph. Die Fanatikerbewegung in Contestado (Parana? und Santa Catarina). In: Almanaque Alema?o. Canoinhas: s/ed. 1916

    CAMPOS, A?ngela. Vivendo com a guerra: uma entrevista com o Sr. A. Fortuna. Estudos Histo?ricos, Rio de Janeiro, v. 22, n. 43, jan-jun 2009, p. 45-64.

    ESPIG, Ma?rcia Janete. A presenc?a da gesta Caroli?ngea no movimento do Contestado. Canoas: Ed. da ULBRA, 2004.

    FELIPE, Euclides Jose?. O u?ltimo jagunc?o: o folclore na histo?ria da Guerra do Contestado. Curitibanos: Ed. UnC, 1995.

    LEMOS, Alfredo de Oliveira. A histo?ria dos fana?ticos em Santa Catarina e parte de minha vida naqueles tempos. Passo Fundo: Beltier, s/d.

    MACHADO, Paulo Pinheiro. Um estudo sobre as origens sociais e a formac?a?o poli?tica das lideranc?as sertanejas do Contestado, 1912-1916. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Po?s-Graduac?a?o em Histo?ria da UNI- CAMP. Campinas, 2001.

    MONTEIRO, Duglas Teixeira. Os errantes do Novo Se?culo. Sa?o Paulo: Duas Cidades, 1974.
    PORTELLI, Alessandro. A Bomba de Turim: a formac?a?o da memo?ria no po?s-guerra. Revista Histo?ria Oral, n.9, Sa?o Paulo, 2006.

    RODRIGUES, Roge?rio Rosa. Veredas de um grande serta?o: a Guerra do Contestado e a modernizac?a?o do Exe?rcito brasileiro na Primeira Repu?blica. Tese de Doutorado apresentada no Programa de Po?s-Graduac?a?o em Histo?ria da UFRJ, Rio de Janeiro, 2008.

    VINHAS DE QUEIROZ, M. Messianismo e con ito social: a Guerra Sertaneja do Contestado. Rio de Janeiro: Civilizac?a?o Brasileira, 1966.

    YATES, Frances A. A arte da memo?ria. Traduc?a?o de Fla?via Bancher. Campinas: UNICAMP, 2007.

    Imagem: Márcia Schüler.

    Fonte: Topoi e Lavra Palavra.

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