Nesta segunda-feira, 14 de janeiro, 30.000 professores, trabalhadores de apoio escolar, pais e alunos marcharam em greve nas ruas de Los Angeles em meio a chuva contra a precarização, sucateamento e privatização das escolas públicas, mas também contra os ataques de conjunto que Trump encabeça contra as trabalhadoras estadunidenses e contra os imigrantes.
Convocada pelo segundo maior sindicato docente dos EUA – UTLA (United Teachers Los Angeles) –, mas construída por milhares de professores, trabalhadores de apoio escolar e com apoio de pais e alunos, a primeira greve de professores na cidade de Los Angeles em 30 anos teve início nessa segunda-feira (14/01) com bloqueios e marchas pela cidade. Depois de negociar por mais de 20 meses os professores da UTLA decidiram avançar – seguindo os passos da Teacher’s Spring (Primavera docente) do ano passado com greves e atos de professores em diversos estados americanos por condições de trabalho e salário – declarando greve por redução do número de alunos por sala (frequentemente passam dos 45 no equivalente ao ensino fundamental II e médio no Brasil), por mais profissionais de apoio (como enfermeiros, coordenadores, assistentes de direção, professores de educação especial, bibliotecários etc.), suporte a famílias de imigrantes e por aumento salarial.
Os professores destacam que os cortes de gastos e sucateamento da educação pública fazem parte de um conjunto de políticas encabeçadas por Trump que afetam negativamente os trabalhadores e os filhos dos trabalhadores americanos com queda na qualidade dos serviços básicos, mas afeta sobretudo as mulheres, maioria entre os profissionais da educação, e imigrantes. Num dos estados do país com maior número de imigrantes os professores não aceitam que a educação bilíngue seja negligenciada, assim como o ensino de adultos.
Em agosto último, em negociação com a LAUSD (Los Angeles Unified School District), a secretaria de Educação da cidade, 98% dos professores da UTLA votaram autorizando a greve. Entretanto, o sindicato seguiu em negociação até que sexta-feira dia 11/01 foi decidido convocar a greve para segunda-feira, negando uma vergonhosa proposta da LAUSD apresentada nesse dia. Essa proposta apresentava uma redução, sem garantias, muito tímida no número de alunos por sala, um aumento salarial abaixo do exigido e ainda um aumento na equipe de apoio das escolas mas apenas por um ano e ainda sem atender a todas as escolas, além de que grande parte desses profissionais nem viriam através de novas contratações, e sim seriam realocados temporariamente para novas funções.
Essa vergonhosa proposta, denunciam as professoras, aparece num momento em que a LAUSD conta com aproximadamente 1,9 bilhão de dólares em reservas, enquanto afirma que não há verbas para melhorar as condições de atendimento das escolas para a população e para aumentar os salários dos trabalhadores na educação. Tudo isso escancara os intentos privatistas do governo de Los Angeles e da LAUSD sob o comando do superintendente Austin Beutner, um banqueiro sem qualquer envolvimento anterior com Educação. Beutner vem tentando privatizar as escolas encorajando o fechamento de escolas para transformá-las em escolas Charter. As escolas Charter são a ponta de lança do avanço da privatização das escolas públicas em LA e nos EUA e se tratam de escolas públicas dirigidas por organismos privados (grande parte deles com fins lucrativos) mas financiadas pelo poder público. Em geral, elas recebem sua verba de acordo com o número de alunos, ou seja competem por alunos da rede publica para ter mais verbas gerando mais precarização da educação dos filhos dos trabalhadores com mais alunos por sala, contratos mais precários de professores, menos profissionais de apoio e outras diretrizes para ampliar os lucros.
É fundamental entendermos que essa greve acontece em uma conjuntura de avanço reacionário no mundo todo a partir dos efeitos da crise econômica de 2008, que não dá sinais de solução, em que temos visto uma série de governos de direita, dos quais Trump é uma expressão categórica, que buscam avançar sobre os direitos dos trabalhadores para elevar as taxas de lucro da grande burguesia internacional. Por sua vez os trabalhadores, além dos ataques que recebem, devem superar toda a dificuldade para organização das lutas imposta pelas burocracias sindicais. Nesse sentido os professores de Los Angeles saem em greve para indicar um caminho e fazer ser ouvida uma voz dos trabalhadores contra os ataques econômicos, mas também contra os ataques que as mulheres e imigrantes vem sofrendo no mundo todo.
O cenário de precarização e sucateamento da educação pública, denunciado e combatido pelos professores em Los Angeles é muito próximo do que temos no Brasil, que há muitos anos vem sendo desmontada por sucessivos governos. Educação pública que é agora um dos principais alvos do governo Bolsonaro que sobre o pretexto de combater uma suposta doutrinação ideológica nas escolas, que não existe, busca viabilizar uma série de ataques como o Escola Sem Partido e o desmonte da Secretária de Educação Continuada, Alfabetização Diversidade e Inclusão (SECADI). Mas que também estão relacionados à aprovação da nova Base Nacional Comum Curricular e da Reforma do Ensino Médio. Esse conjunto de ações precariza e desmonta ainda mais a educação e também tem por fim impactar as possibilidades de organização de luta dos professores em defesa da Previdência e contra o conjunto de ataques aos trabalhadores em geral.
A luta dos professores de Los Angeles, principal cidade do estado mais rico do país mais rico e imperialista do mundo, que desde 1989 não assistia uma greve docente, é um exemplo para os professores aqui no Brasil de que frente aos ataques de Bolsonaro nossa luta pode mostrar um caminho para enfrentá-los. É isso que nós do Movimento Nossa Classe Educação propomos, que a nossa luta de professores se some a dos demais trabalhadores e seja um exemplo de como enfrentar os ataques de Bolsonaro. Para tanto precisamos superar as barreiras impostas pela burocracia sindical e organizar a luta dos professores em defesa da educação, mas também dos direitos do conjunto da classe trabalhadora, com toda a sua força e radicalidade necessária para vencer.