Golpes milionários: PCDF faz operação contra pastores que fizeram mais de 50 mil vítimas

Pastor Osório José Lopes Júnior. Foto: Reprodução

Por Yurick Luz.

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) conduziu a Operação Falso Profeta nesta quarta-feira (20), com o objetivo de cumprir dois mandados de prisão preventiva e 16 mandados de busca e apreensão em relação a uma organização suspeita de realizar golpes que afetaram mais de 50 mil vítimas no Distrito Federal, em outros estados do Brasil e até no exterior.

Cerca de 100 policiais civis cumpriram mandados de busca e apreensão no DF e em quatro estados: Goiás, Mato Grosso, Paraná e São Paulo. Também foram realizadas medidas cautelares para bloqueio de valores, bloqueio de redes sociais e proibição do uso de redes sociais e mídias digitais por decisão judicial.

Um dos alvos da operação é o pastor Osório José Lopes Júnior, apontado como líder do grupo. Além do religioso goiano, que é deficiente visual, e outros pastores ligados a ele, os investigadores cumprem mandados contra ex-candidatos a deputados federais e ex-candidatos a prefeitos.

A investigação revela que os suspeitos compunham uma rede criminosa altamente organizada, com uma estrutura meticulosa e divisão de tarefas, especializada em uma série de crimes, incluindo falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionato por meio de plataformas de redes sociais. As vítimas eram persuadidas a investir somas de dinheiro com a promessa de receber quantias milionárias no futuro.

O grupo é investigado por usar o nome do ex-ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, para aplicar golpes milionários em fiéis das igrejas, bem como em lives na internet.

Os golpistas abordavam principalmente pessoas de fé evangélica por meio de redes sociais e utilizavam uma teoria conspiratória chamada “Nesara Gesara” para convencê-las a investir suas economias em operações financeiras fictícias ou projetos falsos de ações humanitárias. Essas vítimas eram prometidas retornos financeiros imediatos e lucros extremamente elevados.

Os investigadores identificaram casos em que as pessoas eram levadas a acreditar que, com um depósito de apenas R$ 25, poderiam receber um valor incrivelmente alto de R$ 1 octilhão (1 seguido por 27 zeros).

Este golpe é considerado um dos maiores já investigados no Brasil, afetando pessoas de várias camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades federativas, totalizando mais de 50 mil vítimas.

A investigação, que teve início há cerca de um ano, revela que o grupo é composto por aproximadamente 200 membros, incluindo dezenas de líderes evangélicos autointitulados pastores, que enganavam e mantinham as vítimas em erro. Eles alegavam que essas pessoas eram escolhidas por Deus para receber bênçãos e quantias bilionárias.

Os suspeitos mantinham empresas fictícias e simulavam ser instituições financeiras digitais com capital social declarado elevado. Para dar aparência de legalidade às transações financeiras, os golpistas celebravam contratos com as vítimas, que eram ideologicamente falsos, prometendo valores surreais provenientes de títulos de investimento inexistentes, supostamente registrados no Banco Central do Brasil (Bacen) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

A investigação também descobriu uma movimentação financeira superior a R$ 156 milhões nos últimos cinco anos, além da identificação de mais de 40 empresas fictícias e mais de 800 contas bancárias suspeitas.

Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu um suspeito do esquema após ele usar documentos falsos em uma agência bancária em Brasília, onde simulou possuir um crédito de aproximadamente R$ 17 bilhões. No entanto, mesmo após a prisão desse indivíduo, o principal influenciador digital do grupo, o esquema continuou a operar.

Além do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), a Operação Falso Profeta contou com a participação do Departamento de Polícia Especializada e das polícias civis dos estados de Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Os suspeitos poderão enfrentar acusações de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa, dependendo do grau de envolvimento de cada um no esquema.

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