Globo, Lula, Temer, Aécio e Dilma: somos todos Friboi

As gigantes do setor alimentício JBS e BRF, alvos centrais da Operação Carne Fraca, já ativaram as suas defesas. Estão a cobrar a conta dos seus dois maiores investimentos: as publicidades em redes televisivas e as doações a partidos políticos.

Por Helena Borges.*

JBS e BRF entraram na lista dos 30 maiores anunciantes do Brasil, entre os investimentos em publicidade está a campanha “Academia da Carne por Friboi”

A operação investiga 22 empresas(link is external)do ramo alimentício envolvidas em um esquema de corrupção para autorização de frigoríficos irregulares. A Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de mil milhões de reais nas contas da JBS e da BRF. Segundo a Polícia Federal, esta é a maior operação já realizada em toda sua história(link is external).

Os agentes também relataram uma lista das substâncias misturadas nas carnes e embutidos que deixou o brasileiro assustado com o que põe à mesa: cabeça de porco, ácido ascórbico, papelão e carne podre ou infetada com salmonela. A lista, no entanto, tem sido relativizada por especialistas. Depois da operação, ações das empresas despencaram(link is external) e as importações foram suspensas.

Maior doadora na campanha de 2014, a JBS distribuiu 61,2 milhões de reais para 21 dos 28 partidos representados na Câmara dos Deputados. Para não demonstrar favoritismo na disputa pela Presidência da República, a empresa – que também foi a maior doadora das duas chapas do segundo turno – deu o mesmo valor para Dilma/Temer e Aécio/Aloysio: 5 milhões de reais para cada.

Logo após a polémica aberta com a operação da Polícia Federal, Michel Temer foi a público colocar panos quentes: disse que apenas três dos 4.850 frigoríficos brasileiros foram interditados pela ação. O presidente ainda levou 40 embaixadores de países que importam carne brasileira para uma churrascaria em Brasília, na noite de domingo (19). Só esqueceu que o lugar não serve carne brasileira. “A gente não trabalha com carne brasileira, só europeia, australiana e uruguaia”, disse o gerente do local, de acordo com informações do jornal O Estado de São Paulo. Em resposta, a assessoria de imprensa do planalto disse que todas as carnes servidas ao presidente e seus convidados eram de origem brasileira.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi – que figurou na lista de bilionários brasileiros da revista Forbes em 2014 por investimentos em agronegócio -, também defendeu as empresas. Chamou de “fantasias” e de “idiotice” acreditar haver papelão na fórmula de embutidos. É da pasta de Maggi que vem o “Grande Chefe” Daniel Gonçalves Filho, superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016. O apelido é usado pelo ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), em ligação apanhada pela PF. As investigações da Operação Carne Fraca apontam Gonçalves Filho como mandante da organização de fiscais que recebiam propina dos grandes frigoríficos do país para fazer vista grossa em suas visitas.

A expansão da JBS, o maior frigorífico do mundo e que hoje conta com 200 mil funcionários em 350 unidades, começou no governo Lula, quando o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) se tornou sócio da empresa e ajudou na compra de empresas estrangeiras. Depois disso, a companhia – que começou como abastecedora dos refeitórios das empresas construtoras de Brasília – recebeu 5 mil milhões do banco entre 2007 e 2010, dando fôlego para sua expansão internacional. A BRF também contou com o apoio do banco público para ser criada: 400 milhões de reais foram injetados por meio de um financiamento.

Com tanto dinheiro, as duas entraram na lista dos 30 maiores anunciantes do país. A BRF se encontra em 21º lugar e dispôs de 817 milhões de reais em propagandas veiculadas em todos os tipos de media em 2015. Já a Seara, do grupo JBS, ficou em 15º lugar e gastou 860 milhões de reais no mesmo ano.

Entre os investimentos em publicidade feitos recentemente pelas duas gigantes alimentícias estão os cachês dos globais Fátima Bernardes, Tony Ramos, Ana Maria Braga e do casal Angélica e Luciano Huck. Também conta com um especial publicitário no canal GShow e a campanha “Academia da Carne por Friboi”, que inseriu merchandising nos programas “Mais você”, “Encontro”, “Malhação” e “É de casa”.

Agora que a polémica se instaurou, gerando críticas às empresas e àqueles que recebiam dinheiro delas – sejam políticos, sejam celebridades – a estratégia está a ser limpar a imagem geral. Na Globo, foi usado o espaço da propaganda entre blocos da novela das 21h(link is external), veiculado depois em outras redes de TV aberta, para as empresas começarem a divulgar os seus comunicados institucionais em resposta à operação. Textos também foram divulgados em veículos impressos.

Na política, a defesa contou com figuras do governo, como Temer e Maggi, dizendo que a operação não pode sujar a imagem do agronegócio brasileiro. Argumento similar foi visto em sites identificados com a esquerda e com o PT, que acusaram a Polícia Federal de tentar destruir o mercado.

De facto, a operação abala um dos bastiões da economia brasileira. Contudo, se este mercado está abalado, a culpa não é dos agentes.

*Artigo de Helena Borges, publicado em theintercept.com Revisão do texto para português de Portugal por Carlos Santos.

Fonte: Esquerda.net

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