Furtou, era laranja e não o pescaram. Pode acontecer com você! Por Raul Fitipaldi.

O “laranja” ladrão, por enquanto, furtou, fugiu no labirinto das redes bancárias e o dinheiro que foi parar no Banco Itaú já foi diluído sei lá onde e para quê.

Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.

Volto a escrever depois de duas semanas exatamente. Duas semanas é o tempo que passou desde que fui vítima de furto quando tentava pagar uma conta através do Internet Banking da Caixa Econômica Federal. Levaram todo meu dinheiro. Não deve ter sido muito para o ladrão, foi tudo o que tinha para mim.

Em primeiro lugar devo agradecer a solidariedade dos e das minhas companheiras da Cooperativa Comunicacional Sul, graças a eles e elas estou comendo e comprando meus remédios. O banco não vai repor esse dinheiro, assim comunicou telefonicamente dias depois do furto. Igualmente agradeço a outras pessoas, homens e mulheres que me ofereceram distintas formas de solidariedade. Também aos que compartilharam suas experiências nas minhas páginas pessoais de Facebook, Instagram, e nas mesmas páginas do Portal Desacato. Obrigado a todas e todos!

Bem, me adentrando no problema afirmo que é muito fácil ter uma dívida bilionária, como as Lojas Americanas, e ser respaldado pelo Estado. Mas é muito difícil ser uma pessoa pobre e cair em um golpe tentando pagar um serviço a outro trabalhador. Saber que isso acontece o tempo todo com milhares de pessoas, que mães solo, por exemplo, podem perder o pequeno auxílio com golpes semelhantes, parte o coração e nos enche de raiva. E os bancos nem sempre devolvem o que era delas.

O argumento para a não reposição da quantia furtada é que o ladrão conseguiu executar a operação no próprio computador da vítima. O estelionatário (ladrão, na minha língua) obteve o endereço do seu IP e você caiu num golpe quando colocou sua senha do banco para qualquer finalidade. Ora, fizeram isso comigo, jornalista, que trabalha o tempo todo com internet há muitos anos. Posso ser otário? Até sim, a idade recomenda alguma cautela, sou da geração anterior ao fax, quando nem se imaginava a existência da tecnologia que temos hoje. E uma mãe que se mata trabalhando, sem muita instrução e conhecimento de internet, é também otária? Tanto como para os bancos públicos não se apiedarem dela?

Antes de colocar para vocês o recorte da esclarecedora entrevista que a colega e amiga, Rosangela Bion de Assis, fez anteontem com Cleberson Pacheco Eichholz, do Sindicato dos Bancários e Financiários de Florianópolis e Região, vou resgatar algumas experiências ou comentários que me enviaram nas minhas páginas algumas pessoas, sem citar o nome delas, vai que…

Uma pessoa muito respeitada em Florianópolis escreveu: Terrível a irresponsabilidade desses bancos que nos deixam refém de sua ganância e falhas de segurança em seu sistema de atendimento pela internet.” É interessante o comentário, pois deixa em evidência como nos últimos anos, os bancos públicos sucateados desde o golpe de estado de 2016, têm perdido a confiança da classe trabalhadora e são avaliados no bojo como qualquer banco privado que só visa o lucro.

Outra pessoa se queixa do Banco do Brasil: “Está acontecendo toda hora no Banco de Brasil. Ora, por que razão deixamos nossas economias num banco?” De fato, por causa da longa pandemia, que matou quase 700 mil brasileiros, muita gente viu-se obrigada a abrir contas e pagar suas dívidas via internet. O crime se preparou para isso, os bancos não.

Mais uma: “Fiz BO e fui na CE (Caixa Econômica) também, falaram a mesma coisa, a culpa foi minha. Pedi gravações, argumentei, mas, não adiantou. Tinha inclusive registrada a conta de transferência, era muito fácil confirmar o roubo, NADA foi feito.

Quem escreve este texto também fez o BO, mas nem levei ainda ao banco que se apressou a comunicar-me telefonicamente que não iria me devolver o dinheiro. Não tem argumento que possa superar o argumento do “controle de segurança” da Caixa em Brasília, é lá que colocam o polegar para cima ou para baixo. Mas claro, ninguém falou que não se possa abrir um processo e defender nossos direitos. Para isso é importante fatiar o problema e discernir quem, além dos ladrões e seus laranjas (no meu caso tem nome do laranja e banco aonde foi parar meu dinheiro). Você não pode discernir isso sem o concurso de técnicos, advogados, sem contrastar experiências, etc. Mas, por que abriríamos um processo se a solidariedade da gente nos ajudou a passar esse gole amargo que desorganizou nossa vida durante semanas?

Vou elencar minhas razões humildes, simples.

  1. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil são nossos, do povo, dos contribuintes, cidadãos e cidadãs, ao menos até nova ordem.
  2. As pessoas, no Brasil e no mundo todo, estamos sendo assaltadas por esses piratas eletrônicos que fazem com que nossa vida se transforme em um inferno em um instante, e os bancos, os donos do mundo, olham para o lado e as legislações não avançam de forma a resolver o problema. Ao fim, que governo topa enfrentar os bancos como se deve? Conheço pouquíssimos e estão bloqueados pelo imperialismo.
  3. A imensa maioria das pessoas que tem conta na Caixa são da minha classe, a classe trabalhadora.
  4. Desde o furto não consigo deixar de pensar em crianças e idosos passando fome porque seu auxílio foi furtado e o banco não lhes respondeu de forma solidária.
  5. Uma última razão: porque precisamos de muita justiça depois dos anos de impunidade que passamos durante o governo genocida que acabou. E não se trata dos bancos nos avaliarem como estúpidos que caíram em um golpe por velhos, por inexperientes no uso da internet, por um erro circunstancial, pela pressa de pagar um serviço a um trabalhador, pela urgência de receber o dinheiro para comer ou comprar um remédio, por a ou por b. Trata-se de que fomos vítimas quando usávamos dos serviços de um banco que é de todos e todas, público e do qual nos orgulhávamos anos atrás, porque fora de protocolos, regulamentos e controles de segurança, era solidário.

O “laranja” ladrão, por enquanto, furtou, fugiu no labirinto das redes bancárias e o dinheiro que foi parar no Banco Itaú já foi diluído sei lá onde e para quê. Não houve tentativa de pescar o pirata. Porém, a experiência serviu para dar uma reforçada na consciência de classe deste que aqui escreve. Não vai conceder tão pronto o direito a roubar de maneira normalizada que os bancos pretendem nos impor. Vamos à luta contra mais esta agressão do capitalismo até o último dia da nossa vida. Ao fim, eu recebi a solidariedade de amigos/as que têm com que ajudar. E aquela mãe solo da qual lhes falei conta com amigos com a mesma possibilidade? Ela é meu problema agora embora não a conheça.

A seguir, a entrevista de Rosangela Bion de Assis com o dirigente dos trabalhadores do Sindicato dos bancários e financiários. Assista, é muito importante e ajuda a entender muitas coisas.

 

Arte, edição e publicação: Tali Feld Gleiser

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