Olhando de longe, o jornal Folha de São Paulo é um mistério. Olhando de perto, porém, é tão ruim quanto qualquer outro jornalão de direita que aderiu à ditadura militar e atentou tantas vezes contra a democracia tanto no século passado quanto neste.
Ao passo que a Folha faz denúncias contra a direita (sobretudo contra o PSDB) que nenhum outro grande órgão de imprensa faria, como a denúncia do “Aécioporto” ou a da propina de 23 milhões a José Serra, também é o jornal que promove as trapaças mais hediondas de que se tem notícia na grande imprensa brasileira.
Quem não se lembra da ficha policial falsa de Dilma Rousseff que a Folha publicou em sua primeira página em 2009?
Sim, quase um mês depois o jornal reconheceu que errou, mas, obviamente, sem dar a essa informação destaque sequer parecido com o que deu ao divulgar informação falsa que recebeu por e-mail de fonte desconhecida e publicou na primeira página sem checar nada.
Na imagem acima, você nota o destaque imenso dado à mentira. Na imagem abaixo, você vê que nada saiu na primeira página na data em que o erro foi reconhecido.
Como já se passaram quase oito anos, vale rever o desmentido da Folha, porque ele obriga quem lê a se perguntar como um grande jornal foi capaz de publicar no alto de sua primeira página uma mentira tosca, sem fazer checagem nenhuma, sem a menor responsabilidade.
No mesmo ano (2009), a Folha de São Paulo publica artigo de um antigo desafeto do então presidente Lula acusando-o de ter tentado estuprar um colega de cela quando esteve preso durante a ditadura militar.
Naquele mesmo ano, o jornal publicou, em 17 de fevereiro, editorial que afirmava que a ditadura militar brasileira foi, na verdade, uma “ditabranda”, ou uma ditadura soft, light, suave. Por quê? Por, segundo o jornal, ter matado “pouca” gente, “apenas” umas cinco centenas de pessoas.
Diante dessa enormidade, este blogueiro, através desta página, convocou manifestação de vítimas e parentes de vítimas da ditadura diante do jornal, que registrou tudo em matéria no dia seguinte.
Abaixo, vídeo da leitura de manifesto que escrevi e que foi apoiado por mais de vinte entidades defensoras de direitos humanos, como CUT, UNE, Tortura Nunca Mais etc.
Como se vê, a Folha de São Paulo é um veículo dado a publicar informações inverídicas, sem checagem e com grande destaque. E nesta quinta-feira, 1º de dezembro de 2016, não foi diferente. O jornal publicou uma pegadinha para acusar um homem que não pode mais se defender de herdeiros irresponsáveis de grandes fortunas como são os filhos do velho Frias, fundador da Folha e apoiador de primeira hora da ditadura militar brasileira.
Confira, abaixo, a primeira página da Folha de São Paulo de 1º de dezembro de 2016
A informação cheira mal porque é uma acusação gravíssima e estrondosa que busca empanar o brilho de avanços sociais de Cuba mundialmente reconhecidos. Porém, basta ler a matéria para perceber que a chamada de capa da Folha é uma pegadinha que visa enganar as pessoas, sobretudo aquela parcela da população paulistana que dos jornais só lê a primeira página exposta nas bancas de jornal.
Lendo a matéria, descobre-se que a informação estrondosa se baseia em alegações sem provas da comunidade anticastrista situada nos EUA, que pilota um tal de Cuba Archive, cujas afirmações não podem ser checadas por falta de fontes confiáveis.
O Cuba Archive, sediado em Washington, é pilotado por cubanos exilados que saíram de seu país décadas atrás por integrarem o regime corrupto do ditador Fulgêncio Batista. São autores de teorias malucas como a de que o regime castrista sequestrava crianças cubanas para transformá-las em comida para o supostamente faminto povo cubano.
A teoria psicótica sobre comunistas comedores de criancinhas foi vendida pelos autores do Cuba Archive e pode ser conhecida no livro de Fernando Morais Os Últimos Soldados da Guerra Fria (Cia. das Letras)
Um dos colaboradores da ONG é o escritor anticastrista Carlos Alberto Montaner, outro é o ex-subsecretário de Estado norte-americano Otto Reich, também anticomunista e anticastrista feroz.
O pior de tudo é que não há fontes confiáveis para os números apresentados pelo Cuba Archive simplesmente porque os estudos não indicam fontes isentas e reconhecidas. São afirmações sem provas de pessoas amplamente interessadas em desmoralizar o regime cubano.
Mas a Folha não ficou só nisso. Dois dias antes (29/11), publicou o editorial “Fidel Castro”, por ocasião da morte do ex-dirigente cubano. Naquele texto, o jornal repisa informação fajuta divulgada anos atrás por seu colunista Reinaldo Azevedo, de que antes de Fidel Cuba já tinha saúde e educação de primeiro mundo.
Azevedo se ampara em números divulgados pelos inimigos do regime cubano e que não foram auditados por ninguém, que não têm origem em nenhum estudo conhecido, em nenhuma estatística confiável.
Azevedo se baseou em livro de uma obscura escritora francesa chamada Jeannine Verdes-Leroux, intitulado “A Lua e o Caudilho”, uma longa arenga contra o regime cubano amparado em informações também sem fontes confiáveis.
Azevedo, naquele texto maluco, faz a afirmação espantosa de que a mortalidade infantil em Cuba é baixa porque naquele país o aborto é legal, afirmação que, se levada a sério, colocaria em dúvida a baixa mortalidade infantil da maioria dos países desenvolvidos, sobretudo os nórdicos, pois em quase todos os países desenvolvidos o aborto é legal.
A Folha é útil porque, para conferir ares de verdade a esse tipo de farsa, publica algumas verdades sobre a direita que outros veículos de direta escondem, como a de que José Serra e Aécio Neves estão envolvidos até o pescoço em denúncias de corrupção, mas tudo isso é tática diversionista para permitir ao jornal aplicar passa-moleques como o que você acaba de ler.
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Fonte: Blog da Cidadania.