Florianópolis – A Capital da Tarifa Zero!

    Relatos em vídeo e textos do dia em que a cidade experimentou a Tarifa Zero na prática!

    Catracaço, s.m

    por Frente de Luta pelo Transporte Público de Florianópolis

    Os dias 04 e 05/07 colocaram um novo vocábulo no dicionário manezês: catracaço. A definição poderia ser algo como: “s.m. Ato de passar pela catraca sem pagar a tarifa, em protesto”. Mas ainda há que se pensar qual o real significado dos milhares de “pulos” de catraca realizados em Floripa na semana passada. Trata­-se de um ato de desobediência civil, sem dano ao patrimônio, que atinge tão somente aos empresários, que, sabemos, mantém a “caixa­ preta” do transporte. Mais do que isso, o catracaço é uma forma de dizer ao emudecido poder público que é hora de apresentar respostas.

    Isso, somado às paralisações dos ônibus nesses dias, escancarou o óbvio: o transporte é o coração da cidade. É ele que garante não só o acesso aos demais direitos (como saúde e educação), mas a própria produção da riqueza que faz a cidade existir, viver. O que trabalhadores, crianças, e estudantes anunciam ao pular a catraca é que já não querem pagar por cada batida do coração da cidade.

    Diante de tudo isso, surpreende a postura do prefeito César Souza Jr. com as reivindicações da Frente de Luta pelo Transporte ­ há 3 semanas nas ruas. Embora afirme que implantar o projeto Tarifa Zero seja um sonho seu, o prefeito mostra o contrário quando não dá qualquer resposta aos pedidos protocolados pelo movimento na última semana. Pior, preferiu enviar a PM para reprimir os manifestantes enquanto dizia à mídia querer dialogar.Com isto o poder público coloca-­se uma vez mais ao lado do empresariado, mostrando­-se apartado dos reais anseios da população, que com o catracaço fez um pedido claro: é Tarifa Zero que queremos!

    O dia em que Floripa experimentou a Tarifa Zero

    por Assessoria de Imprensa da Frente de Luta pelo Transporte Público

    O dia 4 de julho de 2013 foi histórico na luta por direito à cidade de Florianópolis. Não tivemos uma manifestação sobre o assunto apenas, mas três! O dia começou com uma manifestação de ciclistas na rótula da UFSC, por conta de uma estudante morta por atropelamento enquanto passava por aquele local. Os trabalhadores do Sintraturb (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Urbano de Florianópolis) também fizeram uma paralisação, demonstrando sua insatisfação com as condições da categoria. Além disso, no fim da manhã desta quinta-feira, a Frente de Luta pelo Transporte Público e o Movimento Passe Livre ocuparam pacificamente o SETUF (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo da Grande Florianópolis), um dos símbolos da famosa caixa preta do transporte de Floripa.

    Os manifestantes permaneceram por lá durante todo o dia, conversando com a população, fazendo batucadas e trazendo a público as reivindicações do movimento. Dentre elas a redução imediata dos preços das passagens de ônibus na cidade, maior transparência nas contas dos transportes, bem como a criação de um grupo de trabalho para viabilizar a médio prazo a implementação do projeto de Tarifa Zero.

    No meio da tarde,  membros do Sintraturb paralisaram suas atividades por duas horas, das 16h às 18h, em apoio às lutas pela Tarifa Zero e em repúdio às arbitrariedades da Justiça do trabalho e da Prefeitura nas negociações salariais da categoria nesse ano.

    Próximo das 18h da tarde, o movimento era grande no TICEN (Terminal Integrado do Centro) e os manifestantes começaram a organizar a liberação das catracas, para que todos pudessem retornar às suas casas sem pagar pela passagem. Este foi, sem dúvidas, o momento mais bonito do dia, quando vimos desde crianças até senhoras de 70 anos pulando as catracas e aderindo ao movimento por um transporte verdadeiramente público. A estrutura altamente centralizada do transporte urbano de Florianópolis ajudou para a grande repercussão deste ato. No entanto, nada impede que tal medida possa ser reproduzida em grande escala em outras cidades. Ao efetuar o catracaço, conquistamos a Tarifa Zero, ainda que por poucas horas – mas não apenas, conquistamos também o apoio da população. Não há dúvidas de que tal experiência não é facilmente apagada da cabeça daqueles que participaram da ação direta. Não à toa, o que se cantou neste dia foi “Ah, que bom seria… se a Tarifa Zero fosse todo dia”.

    Amor sem Catracas

    por Fernando Evangelista

    Floripa, 4 de julho de 2013: Integrantes da Frente de Luta pelo Transporte e do Movimento Passe Livre ocupam o sindicato das empresas de ônibus por oito horas. Usuários pulam a catraca e debatem com os estudantes o projeto Tarifa Zero. Prefeito é convidado a discutir a questão da mobilidade urbana em praça pública. Zé da Pipoca, figura muito querida e popular no Ticen (Terminal do Centro), viúvo há 10 anos, pega um megafone e pede a namorada Priscila em casamento, na frente de todo mundo. O povo silencia, esperando a resposta. Ela aceita, dá um beijo de cinema no noivo e os dois pulam a catraca. Coisa mais linda, ô.

    Uma outra mobilidade percorre a cidade!!!

    por Camela Maria 

    Alguém ainda tem alguma dúvida de que os projetos de mobilidade urbana de Florianópolis estão completamente falidos e precisam de uma mudança radical e imediata?Parece que falta vontade, porque o que não faltam são novas ideias.

    O IPUF (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis) e a prefeitura aparentam não saber absolutamente nada sobre os problemas que os cidadãos enfrentam ao se locomover pela cidade. Insistem em promover planejamentos e obras em que o automóvel privado aparece sempre em primeiro lugar ? viadutos, novas pontes, alargamento de pistas, etc… Podemos até perdoar esses órgãos públicos pela cegueira em relação as outras alternativas, já que provavelmente quem está no comando deles só anda de carro e não consegue enxergar um palmo além de seus volantes. Porém, não aceitaremos a sua surdez. Eles estão diante de uma incrível oportunidade de escutar as propostas que emergem nas ruas. Propostas essas que são formuladas por gente que, com toda certeza, entende muito mais de mobilidade do que eles. Pessoas que vivem a (i)mobilidade, que convivem e discutem com a população diretamente para ouvir os seus problemas e soluções, que estudam e debatem novas alternativas para o transporte e que sofrem na pele a falta delas.

    Não estou falando só do Movimento Passe Livre Floripa e da Frente de Luta Pelo transporte Público, que ocupou ontem durante o dia todo o SETUF (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros da Grande Florianópolis) pra dizer que aquele lugar simplesmente não deveria existir. O transporte não deve ser mercadoria, já que é considerado um direito básico como todo os outros. Após semanas de marchas que tomaram pontos importantes da cidade, como a ponte, o túnel e a beira-mar, ontem desde as 11h30 da manhã o SETUF se manteve tomado e com uma faixa estendida na sua porta que indicava o que aquele lugar deveria se tornar: o Comitê Popular da Tarifa Zero.Eu estou falando também sobre os ciclistas da cidade, que organizaram uma manifestação ontem em reação a morte brutal da Lylyan Gomes, aluna do curso de Oceanografia da UFSC que foi atropelada no início dessa semana quando pedalava rumo a universidade. A morte de Lylyan se soma a contabilidade da guerra no trânsito que mata 50 mil pessoas por ano no Brasil, resultado da falta de ciclovias e outras políticas públicas que deixaram de lado ciclista e pedestres para privilegiar, mais uma vez, a indústria do automóvel.

    Estou falando também dos motoristas e cobradores do Sintraturb, que em solidariedade ao movimento, e na sua luta por melhores condições de trabalho e por um sistema de transporte mais digno, paralisaram ontem as suas atividades durante duas horas. Foi lindo ver um dos funcionários das empresas de ônibus tomando o megafone em frente ao SETUF para anunciar o apoio do sindicato a nossa ocupação, pois o patrão deles é também nosso inimigo. O lucro que sobra no bolso dos empresário do SETUF é o aumento que falta na folha de pagamento dos companheiros do Sintraturb e que é garantido pela tarifa absurda que nós já não queremos pagar. Quanto de dinheiro vai para cada coisa nunca soubemos, pois o SETUF se nega a abrir a famosa ?caixa preta? com suas contas e vive a insistir que as empresas estão no lucro há anos e que só continuam em plena atividade porque tem um bom coração. Apesar das ameaças de criminalização das greves promovidas pelo sindicato, a luta do Sintraturb segue hoje com novas paralisações.

    Por fim, eu estou me referindo também às centenas, talvez milhares de pessoas que ontem pularam as catracas do TICEN fazendo valer na prática o seu direito de circular pela cidade. Muita gente ontem economizou seu dinheiro na hora de voltar pra casa pulando as catracas, passando por debaixo delas, de ladinho ou dando a volta pelos portões de acesso dos funcionários: cada um conforme suas possibilidades e escolhendo seu estilo mais elegante na hora de boicotar a tarifa! Vivemos um dia lindo ontem, onde a população desfrutou do seu justo direito de aproveitar a cidade sem ter que pagar um centavo por isso. Em todos os terminais do centro, incluindo os intermunicipais onde a passagem é ainda mais cara, vimos as pessoas circulando sem pagar a tarifa.

    Quando as leis são injustas é nosso deve desobedece-las! Eu espero muito que pular a catraca vire o esporte oficial da nossa cidade, até que o governo se toque finalmente de que para acabar com isso é preciso eliminar justo as catracas ? e não as pessoas e sua circulação pelo espaço urbano.

    Hoje a luta segue.

    Nos encontraremos no SETUF às 16h para conversar sobre os próximos passos rumo a implementação da Tarifa Zero na cidade ? e pela revogação imediata da tarifa que ainda não foi concedida pelo Prefeito Jr. E a coisa não para por aí. Ontem ficou mais do que claro que nós, moradores e moradoras de Florianópolis, queremos uma nova vida para a cidade: sem catracas, sem atropelamentos e mortes, sem condições precárias de trabalho. O recado está dado, quem não quiser ouvir vai sofrer as consequências.

    No vemos nas ruas!

    Fonte: http://mplfloripa.wordpress.com/2013/07/13/florianopolis-a-capital-da-tarifa-zero/

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