Por Miguel Martins, RFI.
França – O Festival de Cinema de Cannes, um dos maiores e mais prestigiosos do mundo, contará nesta edição de 2023, no próximo mês de Maio, com, apenas na selecção oficial, cinco filmes africanos. O director geral do evento, Thierry Frémaux, admitiu na apresentação em Paris nesta quinta, 13 de abril, estar-se perante uma nova geração de cineastas, incluindo muitas realizadoras.
2 filmes africanos na Competição oficial
Habitualmente era quase excepcional contar com um filme africano em competição oficial no certame de Cannes.
A edição 2023 entra para a História com a confirmação de duas longas metragens na mais prestigiosa das seleções, a da competição oficial que, por ora, conta com 19 filmes.
“Banel e Adama” é a primeira longa metragem da senegalesa Ramata Toulaye Si, que até ao momento tinha realizado, apenas uma curta metragem em 2021, “Astel”, que tinha sido premiado no Festival de Clermont Ferrand. O filme versa sobre uma história de amor no norte do Senegal, confrontada com as convenções locais.
Na corrida para a Palma de Ouro, a recompensa suprema, estará também a tunisina Kaouther Ben Hania com um filme documental “As filhas de Olfa” sobre a juventude tentada pelo radicalismo islâmico.
3 filmes africanos na selecção “Un certain regard” (Um certo olhar)
Na mostra paralela “Un certain regard”, também da selecção oficial, constam três outros filmes africanos.
Tratam-se também de primeiras longas metragens. O sudanês Mohamed Kordofani defende as cores de “Goodbye Julia” (Adeus Julia), um cantor com remorsos da morte de um indivíduo acaba por propor trabalho à viúva.
Baloji Tshiani, da República democrática do Congo, está presente com “Augure (omen”, em que um rapaz que tinha sido expulso da comunidade por suspeitas de feitiçaria volta a Lubumbashi com a sua futura esposa, tropeçando nos preconceitos dos seus próximos.
“Les meutes” (As alcateias) do marroquino Kamal Lazraq conta a história de duas gerações de criminosos dos subúrbios de Casablanca em que um rapto corre mal e obriga pai e filho a tentar desenvencilhar-se de um cadáver.
Seleccionadores internacionais reconhecidos na competição oficial
São muitos os cineastas consagrados internacionais que voltam a Cannes este ano: caso do britânico Ken Loach, com os seus dramas sociais com “The old oak” (O carvalho velho), o turco Nuri Bilge Ceylan com “A erva seca”, o mestre do fait divers japonês Hirozaku Kore-eda com “Monster” (Monstro), o finlandês Aki Kaurismaki com “As filhas mortas”.
Três realizadores italianos estão em competição, caso da presença habitual que é Nanni Moretti com “Il sol dell’avvenire” (O sol do futuro). Dos Estados Unidos também são vários os filmes a concorrer à Palma de Ouro, incluindo o sempre original Wes Anderson, aqui com “Asteroid city” (Cidade do asteróide).
Esta 76a edição conta, obviamente, também com monstros da sétima arte da casa, a França com três longas metragens em competição de Justine Triet, Catherine Breillat e o franco-vietnamita Tran Anh Hung com um elenco dos mais consagrados.
Lusofonia presente na Seleção Oficial
“A Flor do Buriti”, do realizador português João Salaviza e da esposa brasileira Renée Nader Messora, marca o regresso desta dupla à mostra “Un certain regard’, com novo projecto em torno da comunidade indígena Krahô no Brasil, já retratada em “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” em 2018 onde tinham ganho o Prémio do júri.
Nas sessões especiais consta “Retratos fantasmas” do brasileiro Kléber Mendonça Filho.
O Festival é presidido este ano, pela primeira vez, por uma mulher, a jurista alemã Iris Knobloch, num ano em que se atinge um recorde de realizadoras com filmes em competição, 6 ao todo.
O júri da competição oficial será presidido pelo sueco Ruben Ôstlund, vencedor de duas Palmas de ouro, incluindo em 2022 com “Triangle of sadness” (Triângulo da tristeza).
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