Já está disponível, na TV Boitempo, uma série especial sobre feminismo marxista e caça às bruxas hoje conduzida por ninguém menos que Silvia Federici! Ao longo de 5 vídeos legendados em português, a autora discute alguns dos principais temas de seu mais recente livro, Mulheres e caça às bruxas: da Idade Média aos dias atuais, em conversa com Artur Renzo e Heleni Andrade.
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1. A história oculta da fofoca: patriarcado e silenciamento das mulheres
Você sabia que o termo “fofoca” oculta uma poderosa história de silenciamento da resistência das mulheres contra o patriarcado e o capitalismo?
Imputar um sentido depreciativo a uma palavra que indicava amizade entre as mulheres ajudou a destruir a sociabilidade feminina que prevaleceu na Idade Média quando a maioria das atividades executadas pelas mulheres era de natureza coletiva e, ao menos nas classes baixas, as mulheres formavam uma comunidade coesa que era a causa de uma força sem-par na era moderna.
2. Eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não remunerado
“O contrato de casamento é na verdade um contrato de trabalho na sociedade burguesa”.
Para compreender as armadilhas do amor romântico e da instituição familiar burguesa, Silvia Federici insiste na necessidade de se debruçar sobre as relações materiais da reprodução do capital. O trabalho doméstico e de reprodução social é o trabalho são absolutamente fundamentais para garantir o funcionamento do capitalismo. Para a autora, essa é a chave para compreender a carga de invisibilização ao qual essa esfera da vida social é submetida.
3. As feministas devem reivindicar a imagem da bruxa?
A imagem da bruxa está no centro de um campo de batalha.
Se por um lado uma nova geração de feministas está abraçando de maneira criativa a imagem da bruxa, buscando ressignificá-la, por outro, Hollywood, por exemplo, investe pesadamente em reforçar o imaginário patriarcal e repressivo em torno da bruxaria. Para Federici, é crucial lembrar que a palavra e a imagem da bruxa não foram criadas pelas próprias mulheres, mas pelo sistema que brutalmente as oprimiu. Por isso, para ela, a bruxa não deve ser tratada simplesmente como uma imagem descolada e pop. “É uma figura que podemos recuperar para a luta, mas sem torná-la uma lenda. Por tempo demais a história da caça às bruxas foi apagada.”
4. Formas ativas de resistência e luta contra o capital
As mulheres estão na linha de frente da luta anticapitalista.
Para Silvia Federici, as mulheres estão na linha de frente da luta anticapitalista hoje. Neste vídeo, ela explica por quê e discute as diversas formas não apenas de resistência como também de criação ativa de novos espaços colaborativos e cooperativos de reprodução social e vida em sociedade para além do isolamento e das relações sociais impostas pela acumulação do capital.
5. Caça às bruxas e capitalismo neoliberal
O que a caça às bruxas tem a ver com o neoliberalismo?
Fechando a série, Federici faz uma análise marxista e feminista da atual fase do desenvolvimento capitalista. Para ela, o que une as diversas facetas da chamada globalização neoliberal é, fundamentalmente, o ataque frontal à reprodução da força de trabalho e ao poder das mulheres. É essa mesma lógica que articula as diversas práticas violentas de caça às bruxas na Índia e na África, os cercamentos e a privatização de terras no campo, as ações do Banco Mundial, a destruição das florestas e formas de vida comunitárias e solidárias e o arrocho salarial brutal nas cidades, entre outros fenômenos.
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O livro
Por que voltar a falar, hoje, sobre caça às bruxas? Em Mulheres e caça às bruxas, Silvia Federici revisita os principais temas de um trabalho anterior, Calibã e a bruxa, e nos brinda com um livro que apresenta as raízes históricas dessas perseguições, que tiveram como alvo principalmente as mulheres. Federici estrutura sua análise a partir do processo de cercamento e privatização de terras comunais e, examinando o ambiente e as motivações que produziram as primeiras acusações de bruxarias na Europa, relaciona essa forma de violência à ordem econômica e argumenta que marcas desse processo foram deixadas também nos valores sociais, por exemplo, no controle da sexualidade feminina e na representação negativa das mulheres na linguagem. A partir desse debate, a autora nos mostra como as acusações e a punição de ‘bruxas’ se repete na atualidade, especialmente em países como Congo, Quênia, Gana e Nigéria, na África, e Índia. Com apresentação da estudiosa Bianca Santana, a obra conta também com orelha de Sabrina Fernandes.
“A resistência é coletiva e atual. Não somos apenas “as netas das bruxas que vocês não conseguiram queimar”. As perseguições ainda existem. E este livro é essencial para compreender isso.” — Sabrina Fernandes
“Neste livro Silvia Federici enfatiza que esse tipo de perseguição não é um fenômeno episódico de violência contra mulheres nem uma manifestação endógena de culturas tradicionais reativas ao império do valor de troca. A caça às bruxas, ao contrário, é estrutural e estruturante da sociabilidade burguesa, prática e ideologia misóginas introduzidas de fora para dentro nas comunidades. Da acumulação primitiva aos dias atuais, funciona como mecanismo de dissolução e controle da humanidade imanente aos corpos e aos saberes femininos.” – Maria Orlanda Pinassi
E-book
O livro também está disponível em formato eletrônico nas principais distribuidoras do ramo.
Bônus
A socióloga Sabrina Fernandes, criadora do canal Tese Onze e autora do texto de orelha do livro Mulheres e caça às bruxas bateu um papo com Silvia Federici por ocasião do lançamento do livro no Brasil. Vale muito a pena conferir!
Também está disponível no canal a gravação completa do debate de lançamento de Mulheres e caça às bruxas na USP, com Silvia Federici, Maitê Freitas, Natália Neris e Heloisa Buarque de Almeida. Esta com tradução consecutiva para o português!