Por Roberto Liebgott, Cimi Sul – Equipe Porto Alegre.
Há fome e quem a tem – e são tantas mulheres, crianças e homens – sente dor, tristeza e angústia.
A dor é profunda, nada pode causar maior sofrimento do que acordar pela manhã e saber que não haverá comida.
A tristeza corrói a alma, dilacera a esperança, consome os desejos de viver.
E, nessas circunstâncias, a fome parece ser irmã gêmea da morte.
A angústia é o sufocamento do coração, já não se tem a quem recorrer e nada mais a esperar.
Tudo se desfez, os sonhos foram arrancados, o horizonte perdeu-se na penumbra.
Mas se há fome e famintos, há os abastados, os ricos que se fartam de comida e praticam injustiças.
Eles, sem pudor ou constrangimento, desperdiçam, lançam ao lixo o excedente de todos os dias.
Os desperdícios simbolizam a crueldade das desigualdades, representam a concentração perversa dos bens e valores da Mãe Terra.
E – os desperdícios – reafirmam a desumanização do outro, dos pobres, dos indígenas e dos quilombolas, tratados como resíduos em meio à exclusão.
São os que recebem, nas ações da caridade oficial, do desencargo de consciência, um quilo daquele feijão dos grãos partidos e envelhecidos, porque o feijão íntegro já foi servido.
Porto Alegre, RS, 02 de dezembro de 2022.