Falta de dados oficiais sobre mortes LGBTI+ impede compreensão da situação

Redação Desacato.- Marina Caixeta e Sofia Andrade entrevistaram Pietra Fraga do Prado, ativista de direitos humanos e coordenadora do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ Brasil e da Acontece LGBTI+, para falar sobre o fato de o Brasil ser o país que mais mata população LGBTI no mundo. De acordo com um dossiê do Observatório de mortes e violências LGBTI no Brasil, em 2023, morreram violentamente 230 pessoas, o que dá uma morte a cada 38 horas. É importante salientar que o Brasil é o que mais mata dentre os países que contabilizam essas mortes porque existem vários outros países que sequer estão preocupados com isso. Então essa é uma pauta internacional que atravessa a realidade de LGBTs em vários países em que muitas vezes ser LGBT é ser causa para receber pena de morte.  No Brasil, tem sido possível se organizar, ter conquistas e lutas, sentindo orgulho de quem se é.

Em termos das mortes em si, o que é muito grave no país, trata-se de uma grave violação de direitos, o direito mais básico. Matar, perder a vida por amar alguém por ser, por ter uma identificação de gênero diferente já é algo que demonstra o quanto o preconceito está presente na nossa sociedade. Existem estados no Brasil que são muito machistas e homofóbicos e que essas mortes são pouco evidentes na pesquisa. Desconfia-se que esses não são bons lugares para LGBT+ morarem, mas não dá para fazer essa relação. O poder público ainda não coleta esses dados de forma sistemática para serem analisados e assumir o lugar que os membros das ONGs têm. Essas ONGs são as que estão tendo que assumir esse papel do governo de contabilizar a morte dessas pessoas. Em primeiro lugar, deveriam colocar que isso existe porque até hoje o negam e, em segundo, fazer essa pressão para o governo assumir sua própria responsabilidade. E aí o ponto é que se falam em pelo menos 230 mortes porque a principal fonte de dados são notícias jornalísticas e não números oficiais,  o que restringe o acesso à realidade porque toda pesquisa tem sua limitação.

As pessoas que sistematizam esses dados (não oficiais) tendem a um adoecimento porque todo dia se recebem vídeos ou fotos. Quando você lê uma notícia você não sabe se vai ter uma foto ou não, e isso impacta muito. Quando Pietra estava nessa função, ela tinha muitos pesadelos com essas mortes, com essa pessoas e era era muito angustiante em termos de crueldade.

A questão religião, por exemplo, também se vincula com esse aspecto. Como vimos no governo anterior, o fato de colocar uma moral cristã, como se ser LGBTI fosse uma violação dessa moral, embora o Papa atual tenha trazido muito a abordagem do respeito à diversidade. Na opinião de Pietra, a religião aponta para o respeito aos direitos humanos, mas parece que a prática dessa religiosidade vai na contramão do que a própria religião pregaria porque estão assassinando pessoas em prol disso, sendo que um dos primeiros preceitos da religião é “Não matarás”.

Das 230 pessoas registradas pelo dossiê, 142 foram pessoas transexuais, em especial mulheres trans e travestis e, do total de vítimas, 80 eram pretas ou pardas e uma indígena. Então como quase qualquer outro indicador social, esse também é atravessado pelo recorte racial e as mulheres trans são as principais vítimas desse tipo de assassinato.

Quanto mais minorias você faz parte, mais vulnerável você está às violações de direito. Se você é uma mulher negra, LGBT, de uma classe social baixa, a exclusão vai aumentando. E isso não é diferente nessa parte das mortes de pessoas LGBTI+ ainda que o dado aproximado de pessoas brancas também foi semelhante. Mas, pensa-se que essa discrepância não é tão grande justamente pelo limite de acesso aos dados, pelo que se vê, na realidade, por exemplo, de encarceramento de pessoas negras. Certamente pessoas negras teriam uma morte mais elevada nesse sentido. Mas, ao mesmo tempo, é importante tomar cuidado em como notificar essas mortes no sentido da saúde mental das pessoas envolvidas, das potenciais vítimas, para não criar um desespero e se apostar nessa esperança de mudança social.

Assista à entrevista no vídeo abaixo:

Leia mais: O Brasil assassinou um LGBTI+ a cada 38 horas em 2023

1 COMENTÁRIO

  1. Homofobia é inveja da sexualidade alheia. Pa$t0r€$, v€r€ad0r€$, d€putad0$ os de menos , os hipócritas do b0ls0l0idism0, mostram em sua homofobia, em sua cultura do estupro e em seu machismo, sua frágil masculinidade. São os que odeiam maconheiros mas se entopem de clorohidrato de cocaína. São os que inviabilizam a construção de uma civilização brasileira.

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