Exposição anti-racista é censurada pelo Shopping Iguatemi

Manifesto escrito por Bruno Barbi - artista e ativista pela causa anti-racista em Florianópolis.

A exposição PERTENCIMENTO, com quadros pintados por mim e texto de apresentação escrito por Gislene Santos, com data marcada de abertura hoje, dia 13 de maio de 2021 às 10 horas da manhã no Vila Romana Shopping, antigo shopping Iguatemi, no bairro Santa Mônica em Florianópolis, sofreu um ato de CENSURA e não irá ser realizada.

A exposição retratando 10 rostos de mulheres negras aquareladas, tem como argumento central do texto de apresentação o quão a presença Negra pode ser incômoda em espaços não reservados a ela, e aonde quer que seja que ela incomode este será o seu lugar.

Com quase uma década de arte e ativismo dedicado a luta anti-racista, aprendi nesta curta trajetória de que esta arte ativista incomoda e provoca, mas sempre tende a ser melhor aceita quando não vem acompanhada de vozes negras reais. A partir deste entendimento e de que não precisamos de mais ‘Princesas Izabel’ e de que a arte carrega esse poder da transformação social efetiva, nada mais que eu produzo deixou de vir acompanhado de falas e demandas reais do povo negro, convidando sempre mulheres e homens negras e negros para legitimar e dar sentido aos trabalhos. A partir disso ficou cada vez mais evidente em quais lugares ela seria aceita ou não. A série PERTENCIMENTO foi CENSURADA às vésperas de sua abertura oficial, no ato covarde de tentativa de ocultar um racismo latente, sob a justificativa de que temas polêmicos poderiam melindrar seus clientes brancos e ricos, admitindo com isso que a presença Negra dentro desse espaço é um tema polêmico e de que seus clientes não a admitem. Este manifesto denuncia e rechaça a atitude elitista, racista, irresponsável do Shopping Iguatemi. Desde sempre sabemos que estamos em uma cidade de valores ultraconservadores, colonialistas, preconceituosos e entendemos que essa exposição que não aconteceu, cumpre seu maior papel de denunciar a segregação e a discriminação pela população negra historicamente apagada da cidade é submetida sistematicamente. Pertencimento é resistência e protesto, sobre uma política social higienista que impede toda sociedade de avançar em nome da manutenção dos privilégios de muito poucos. Não desistiremos, não a baixaremos nossas cabeças, a luta anti-racista é uma obrigação de todos e nós nos orgulhamos de estar deste lado da trincheira.

4 COMENTÁRIOS

  1. Meu companheiro é um Artista negro e fomos vítimas de racismo emdois condomínios onde moramos em Florianópolis. Uma sociedade extremamente racista, machista e muito fechada. Registramos BO, instaurados um processo mas acabamos retirando o mesmo pois começamos a sofrer atentados. Imobiliária de grande porte envolvida.

  2. Um espaço que se diz para todos deve expor as contradições o que ocorre em seu meio. Será que a administração sentir-se ofendida pelo título? Não é a estrutura que é racista. É o que ocorre nela historicamente. Mas, problema de comunicação transformou-se em um motivo a mais para discutir o racismo estrutural.
    A justiça pode se manifestar.

  3. Olá, boa noite! Poderiam reproduzir, por gentileza, o texto que viria acompanhando a exposição, e que terminou censurado? Muito obrigada

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