Exército troca festa por silêncio e vai punir militar que comemorar golpe de 64

Diferentemente do que ocorreu nos anos do governo Bolsonaro, em que a data era comemorada, o Ministério da Defesa optou desta vez pelo silêncio.

Lula durante encontro com o novo Comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Por Ingrid Luján, Congresso em Foco.

Nesta sexta-feira (31), o golpe militar ocorrido em 1964 completa 59 anos. Segundo a Folha de S.Paulo, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, avisou que os oficiais que comemorem o aniversário do golpe ou participarem de eventos organizados por militares serão punidos.

Diferentemente do que ocorreu nos anos do governo Bolsonaro, em que a data era comemorada, o Ministério da Defesa optou desta vez pelo silêncio. O plano para ignorar a data foi acordado entre o ministro José Múcio, Tomás Paiva e os comandantes Marcos Olsen (Marinha) e Marcelo Damasceno (Aeronáutica), durante conversas informais.

De acordo com relatos obtidos pela Folha, as instruções foram repassadas aos oficiais-generais. O Rio de Janeiro tem sido a principal preocupação devido aos movimentos previstos entre os militares da reserva. Logo, os oficiais ficarão atentos as atividades no Clube Militar do Exército, grupo de reservistas que fará um almoço para celebrar o golpe.

Chamado de “Movimento Democrático de 1964”, o evento cobra R$ 90 pelo ingresso, sendo restrito sócios e convidados. Segundo relatos de generais ouvidos pelo jornal, não é rara a presença de oficiais da ativa em eventos no Clube Militar, pois muitos reservista possuem familiares na ativa.

A pasta informou que não emitirá nota sobre o assunto. “O ministério não divulgará nenhum comunicado ou ordem do dia sobre a data”, disse a assessoria. Segundo integrantes da cúpula do Ministério da Defesa, a decisão de ignorar a data foi tomada para evitar crises com os militares e com o governo Lula.

Mais silêncio

Para evitar burburinhos sobre o aniversário do golpe, outras áreas do governo decidiram ignorar a data. O Ministério de Direitos Humanos, por exemplo, não se pronunciará com comunicados ou notas de repúdio. A pasta, no entanto, está organizando o evento “A Semana do Nunca mais”, que conta uma programação voltada à preservação da memória, da verdade e da justiça no período da ditadura.

Durante os mais de 20 anos de ditadura (1964 -1985), o governo militar montou uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimentos. Os números a respeito da repressão aos movimentos contra o governo são pouco precisos, já que a ditadura nunca reconheceu esses episódios.

Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denuncias de tortura, mas de acordo com estivativas realizadas depois há mais de 20 mil casos. Os presos relataram terem sidos pendurados em pau de arara, submetidos a choques elétricos, estrangulamento, tentativas de afogamento, palmatória, socos, ponta pés e outras agressões. Também há muitos casos de mortes pelas longas sessões de torturas.

A Comissão Nacional da Verdade, em 2014, apurou 191 mortes e o desaparecimento de 210 pessoas. Outros 33 desaparecidos tiveram seus corpos localizados depois, somando um total de 434 pessoas.

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