Eu e ela

Por Rosangela Bion de Assis, para Desacato.info.

A máquina de costura da minha avó ficava num rancho de madeira.

Ela ganhou do pai quando tinha 13 anos

Daquela máquina saíram todos os vestidos que usei até a adolescência.

Até o branco da primeira comunhão com o véu de bolinhas que ela costurou no arco junto com as flores.

Ninguém da família frequentava a igreja, naquela época, mas eu pedi para fazer a Eucaristia.

– Lá estão os piores, disse minha avó; mas só ensinam coisas boas, completou.

Pedia para eu colocar a linha na agulha e ficava bem feliz quando eu achava uma entre as frestas do chão de madeira.

– Toda mulher tem que estudar para não depender de homem.

Dizia, quando me via lendo.

– E ter seu emprego, completava.

O som da tesoura cortando o tecido, colocado sobre o molde de papel, embalavam minha imaginação.

Nas lojas do centro, ela observava o modelo, estudada cada detalhe, para fazer igual para mim.

Guardei algumas dessas preciosidades para minhas filhas e umas poucas ainda resistem.

O rancho de madeira foi desfeito, o vestido amarelou, minha avó fez 98, mas ainda fala alto o que pensa.

Rosangela Bion de Assis é jornalista, poetisa e presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul.

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